Purgatory

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Mãos firmes, olhos focados e uma respiração tão ritmada quanto seus passos. Era quase como uma dança que não precisava ser ensaiada para se saber os passos, aquele tipo de dança onde a prática  levava a quase perfeição.

Pé esquerdo para frente e pé direito para trás, joelhos flexionados e olhos focados. O corpo se movia  de acordo com o corpo de seu rival, ajustando seus ombros para  lhe proporcionar a melhor forma de ataque e, também, defesa.

-um, um, dois – a voz firme soou autoritária, determinado a sequência a ser seguida.

Nem foi preciso terminar a contagem, as posições dos pés mudaram. Esquerdo para trás e direito para frente, sendo acompanha pela sequência rápida.

JAB-JAB-DIRETO.

O ar sendo forçado para fora dos pulmões cada vez que a mão enfaixada atingia a base acolchoada a sua frente, olhos atentos a cada movimento. Pés, braços e até mesmo o olhar de seu oponente eram importantes no momento, uma das várias formas de prever o ataque.

O corpo do oponente deu indícios e foi questão de segundos para o outro se baixar, dobrando seus olhos com a necessidade certa e ainda levantando a tempo de tentar atingir a lateral de seu oponente com um gancho de direita.

-Concentração, Nicole! – Roger exigiu, indo para cima da garota com agressividade.

Jab de esquerda.

Jab de direita.

Um cruzado, seguido de um gancho de direita.

Roger estava tão concentrado em atingir a parte superior da ruiva que só percebeu sua falta de proteção na parte inferior de seu corpo quando o ar em seus pulmões pareceu se esvair. Atingido por um upper certeiro na boca de seu estômago, sem pena. Afinal, Roger não teria pena caso conseguisse acertá-la.

O corpo grande e forte caiu para trás, permitindo a mulher mais nova relaxar. Sacudindo os braços aos lados de seu corpo para relaxar os músculos, sorrindo para serviço bem feito.

-Bom trabalho, criança – Roger falou ofegante.

Nicole bufou, balançando a cabeça negativamente enquanto se virava para sair do ringue. Empurrando as cordas para cima, passando uma perna após a outra  e finalmente pular para fora.

-Bom… - a ruiva deu de ombros, pegando a garrafa que estava sobre o banco - foi essa criança que te derrubou

-Foi sorte - Roger sorriu ainda sentado, arrancando as bases acolchoadas de suas mãos, observando Nicole desenrolar as faixas de  seus punhos - Na próxima…

-Haught! - o homem alto e sério adentrou a academia, chamando a atenção dos dois únicos que estavam ali, afinal aquele horário da manhã eles pareciam os únicos dispostos suar.

-Sim, senhor! - ela se endireitou, deixando suas coisas desajeitadas sobre o banco e rapidamente batendo continência para o seu superior. Seu coração bateu descompassado ao ver o homem se aproximar com um envelope em mãos. Ela estava suada, mal vestida e, agora, nervosa. Aquela situação era, um tanto quanto, inadequada para se encontrar com seu chefe

-Parece que finalmente encontramos um lugar para você - ele estendeu o envelope na direção da ruiva - Meus parabéns

Nicole não sabia sobre o que estava mais surpresa. Se era por finalmente ter sido designada ou pelo pequeno sorriso amigável que seu chefe lhe deu antes de sair, até porque, arrancar um sorriso daquele homem necessitava de quase um milagre.

-Parece que você vai para de encher meu saco - Roger brincou, finalmente levantando, ainda sentindo sua barriga doer um pouco. Ele gostava de Nicole, mas não tinha motivos para ficar triste, ele já estava mais do que acostumado em ver seus alunos partindo.

-Parece que você não vai apanhar mais - a ruiva comentou, distraída, enquanto abria o envelope e, delicadamente, puxando alguns papéis.

“(...) A oficial Nicole Haught deve se apresentar ao condado de Purgatory, no dia quatorze de abril de dois mil e dezesseis(14/04/2016). Estando, a partir deste dia, sob comando do Xerife Randy Nedley (...)”

Nicole não tinha muitas pessoas para que precisasse se despedir, então ela simplesmente precisava empacotar suas coisas e partir o mais rápido possível.

14/04/2016

Bem-vindo a Purgatory

Você nunca vai querer partir!

-Só pode ser brincadeira- Nicole não conseguiu conter o riso assim que passou pela enorme placa. A pintura mal feita que dava as boas vindas a cidade não parecia nada acolhedora, mas mesmo assim não tinha nada que a fizesse querer desistir daquilo, parecia que, de alguma forma, ela sentia que aquele era o lugar certo.

I CAN BE THE WINNEROnde histórias criam vida. Descubra agora