Anatomia

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— Lydia, minha querida. Como você está?

— Tia Cláudia. — A voz de Lydia falhou ao ver a mãe do melhor amigo.

Cláudia foi diagnosticada com câncer no estômago há dois meses e apesar do pouco tempo, já era possível enxergar os sinais da doença devastadora. O cabelo tão escuro quanto o do filho, estava fraco, com falhas se exibindo por causa da quimioterapia. O rosto estava manchado com olheiras muito fortes e visivelmente, ela tinha emagrecido demais.

Os olhos mostravam a tristeza de Claudia, que precisava ir diversas vezes para o hospital, fazer exames, se submeter a quimioterapia e discutir com os médicos outras soluções possíveis.

Em um impulso, Lydia abraçou a mulher que tanto considerava, afundando o rosto em seu peito. Cláudia soltou uma risada fraca e acariciou as costas da menina.

— Está tudo bem, pequena, eu estou bem. — Mesmo Lydia tendo quinze anos, Claudia a tratava como um bebê, ou talvez, uma boneca de porcelana.

— Minha mãe está tão preocupada...

Cláudia e Natalie se conheceram no ensino médio e fizeram amizade instantaneamente. Foram madrinhas do casamento uma da outra, confidenciaram segredos, estiveram juntas em cada situação alegre e triste.

Foi assim que Stiles e Lydia se conheceram desde que nasceram. Natalie e Claudia ficaram grávidas com um pouco mais de um ano de diferença. Assim, seus filhos cresceram juntos e rapidamente se tornaram melhores amigos.

As mães não esperavam que a amizade dos filhos fosse tão longe. Ainda crianças, eles já eram inseparáveis. Dormindo na casa um do outro, saindo juntos, brincando, contando pequenos segredos. Era explicito o amor entre eles.

— Eu sei que ela está, mas você não precisa se preocupar com isso. — Cláudia tentou consolar, abrindo um sorriso e se afastando de Lydia. — Se você quer me ajudar, vai continuar cuidando do Stiles como sempre cuidou. Sabe o quanto ele é fechado e não aceita falar sobre a minha doença, porém, eu consigo nos olhinhos dele o quanto está abalado.

— Ele fala comigo. — Lydia confessou, olhando para o chão.

— Isso é ótimo, Lydia! Você faz tão bem ao meu pequeno e ele confia muito em você. — Claudia segurou as mãos da menina, a olhando com carinho. — Ele fala muito mais dos problemas com você do que comigo.

— Nunca vou deixar ele se fechar, não comigo. Eu sempre obrigo a ele desabafar!

— Você sempre faz o melhor para ele. — Com um sorriso enorme, Cláudia beijou o topo da cabeça de Lydia de maneira maternal. — Vai lá ficar com ele!

Lydia assentiu com a cabeça e finalmente entrou na conhecida casa. Todos os móveis eram aconchegantes e harmoniosos. As paredes pintadas em tons pasteis traziam um conforto familiar para a Martin. Ela amava aquela casa, amava estar lá.

Ansiosa para ver Stiles, Lydia não se importou em correr. Com passos largos, subiu a escada barulhenta, que rangia em cada pisada e foi decida para o quarto do amigo. Abriu a porta com brutalidade.

Stiles não se assustou, estava acostumado com as entradas abrutas de Lydia. Ela correu na direção dele e o envolveu com os braços finos, dando um abraço por trás.

Ele soltou uma risada rouca e grave demais para um menino de quatorze anos. Facilmente, Stiles parecia ser mais velho do que de fato era. A voz segura, a altura que já fazia Lydia parecer baixa demais, os pelos grossos que despontavam de seu rosto e o obrigava a se barbear, tudo lhe dava um aspecto de homem.

As músicas que me guiaramOnde histórias criam vida. Descubra agora