pureza

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   Pureza não curtia sexo caseiro. Era a solteira mais feliz do pedaço. Morava em uma cidadezinha pacata no interior do Maranhão onde era uma verdadeira celebridade. Conhecia todos os motéis da região.
   Bonita e mal falada se orgulhava da sua má reputação.
   O nome não combinava com a personalidade e isso atiçava a imaginação de muito homem de respeito.
   Não era uma profissional, fazia sexo sem compromisso simplesmente por prazer. Não cobrava, mas um presentinho sempre caía bem.
   Não se considerava uma ninfomaníaca, mas um anjo lindo e louro, disposta a fazer caridade em troca de alguns favores. Porisso  quando as mulheres  avistavam Pureza na rua imediatamente agarravam o braço do marido ou namorado.
   Isso funcionava como aviso:
   "Propriedade de uso particular."
   Ainda  assim Pureza passava lânguida e sorridente, mesmo sob ameaças de algumas casadas histéricas.
   Sua vida era uma aventura. Conhecia muitos homens, ganhava belos presentes, fazia incríveis viagens, tudo patrocinado pelos seus amantes fervorosos.
   Apenas uma regra era cumprida com rigor na vida de Pureza, homem algum entrava em sua casa.
   Sua casa era um santuário, por isso seus fãs sempre a esperavam do portão.
   Além do mais pureza não suportava a ideia de fazer sexo caseiro, isso era para as casadas, com suas transas mornas e sem orgasmo. Sexo na lavanderia é  para os sem imaginação.
   Era assim que Pureza pensava. Jamais se apaixonou, só queria curtir a vida, mais nada. Adorava usar os homens. Não fazia distinção. Eles poderiam ser jovens, adultos, velhos, muito velhos, de qualquer etnia...ela gostava!
   Fazia o tipo fêmea fatal. Seu lema era: "quanto mais mal falada melhor!"
   Ah Pureza, quanta ingenuidade... jamais imaginou que o mulheril conservador daquela pequena cidade pudessem unir forças para lutar pela moral e bons costumes.  
  Decidiram que era hora de lutar pelos seus maridos, filhos, namorados, avôs  ou qualquer outra coisa que usasse cueca. Só não podiam mais permitir que aquela bandida arrancasse tudo dos seus homens, destruísse seus lares apenas para satisfazer o seu apetite voraz.
   Começa a batalha!
   Discretamente elas organizaram três reuniões na igreja sob o comando do fervoroso Padre Afonso, que diga-se de passagem também arrastou uma asa por Pureza em tempos de outrora, mas isso não vem ao caso. O fato é que elas decidiram como resolver o problema.
   A solução seria fazê-la provar do seu próprio veneno.
   Como??? fazendo  com que ela se apaixonasse.
   Mas como??? pagando um amante profissional para seduzi-la, oras bolas!
   Estava tudo decidido. Fizeram uma vaquinha, arrecadaram uma boa grana e contrataram um profissional na arte da sedução. Indicação de uma conhecida do padre que morava na capital.
   Tudo foi combinado e acertado por telefone. Agora era só esperar o profissional agir.
   Pureza iria provar do seu próprio veneno, seria seduzida, usada e depois jogada às traças. Ficaria deprimida e reclusa, deixando assim os outros homens em paz.
Arlindo, o contratado, iria cuidar para que isso acontecesse.
   Ele chegou na cidade com ar misterioso de moço da capital, de óculos escuros, pagando de galã. Deixou a rodoviária e seguiu em direção à praça que ficava em frente ao cinema.
   Fazia boa figura, mas estava na cara que ele era um tremendo 171.
Prometia que não iria decepcionar suas clientes, que afinal estavam pagando bem. Porém, oportunista como ele só, era bem capaz de seduzir  toda a população feminina daquela Cidadela. Adorava dinheiro fácil!
   Encontrar Pureza não foi difícil e mulher mais fácil que ela nunca vira antes. Não precisou muito e já estava beijando... depois disso foi só alegria. Mas ganhar aquele coraçãozinho... ele sabia que era impossível. O comportamento daquela mulher não era humano!
   Foi então que Arlindo teve uma brilhante  ideia, iria montar o negócio dos seus sonhos ali naquele vilarejo.
   Usaria toda sua lábia para  convencer Pureza e arranjar mão de obra barata.
   O Primeiro passo seria convidar  Pureza para ser sua sócia, afinal ela era a mulher mais incrível daquele município e todos os homens caíam aos seus pés.
   Ela certamente poderia ensinar muita coisa, ganhar muito dinheiro, ser completamente independente, uma empresária de sucesso...
   Arlindo nem precisou usar tantos argumentos para convencê-la e a essa altura umas sete ou oito meninas da cidade também caíam em sua rede.
   Bonito, sedutor e com proposta de trabalho fácil em uma Cidadela de interior basicamente rural. Ele estava no paraíso!
   No dia marcado para a reunião com a mulherada conservadora, para explicar como estava se desenrolando o processo da sedução, Arlindo nem deu as caras.
   Estava muito ocupado na casa de Pureza, com mais oito funcionárias, transformando aquele santuário no inferninho mais badalado da região.
   As oito pupilas de Pureza aprenderam rápido o beabá. Também com aquela professora!
   No começo prestariam serviços a preços promocionais para conquistar  a clientela.
   Deu ruim! As conservadoras de plantão tiveram que engolir mais esse sapo, e aprender a duras penas a lição antiga que diz que:  "Se a coisa tá ruim, cuidado, pois pode ficar pior...
   E neste caso piorou um bocado!

Se eu contar você não vai acreditar...Onde histórias criam vida. Descubra agora