Capítulo I: sonhos e mentiras.

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Na noite passada tive o mesmo sonho. Só que não é um sonho. Sei disso porque, quando começa, ainda estou acordada. Lá está minha mesa. O mapa na parede. Os bichinhos de pelúcia com os quais não brinco mais, mas que não guardo no armário para não magoar meu pai. Posso estar na cama. Posso estar em pé no meio do quarto, procurando uma meia perdida. De repente, não estou mais. Desta vez eu não apenas vejo algo. Sou levada daqui para LÁ. Parada às margens de um rio em chamas. Milhares de marimbondos em minha cabeça. Brigando e morrendo dentro do meu crânio, seus corpos se amontoando por trás dos meus olhos. Picando e picando. Ouço a voz do meu pai. De algum lugar do outro lado do rio. Chamando por mim. Nunca ouvi sua voz desse jeito. Ele está tão assustado que não consegue perceber minha presença ali. O que havia acontecido? Eu não sei se estava preparada para saber. Antes de mais nada, preciso explicar algumas coisas. Eu morava sozinha com o meu pai em uma casa no meio do nada, era em uma fazenda, que não havia nada plantado, pois nada nascia ali. Lá nós cuidávamos de porcos, galinhas e ovelhas. Às vezes eu encontrava um ou dois animais mortos no celeiro, e tudo bem, eu já estava acostumada com aquilo que fosse. No funeral do vovô meu pai me disse que me contaria mais coisas sobre aquele lugar, só que nunca fez, não até aquele momento. Eu nunca conheci o mundo fora dali, meu pai e eu não tínhamos TV, só umas revistas, livros e fitas velhas. Todo o conteúdo que tinha lá em casa era de anos antes, estamos em 2025, o conteúdo lá de casa era de antes de 2023. Não sabia o porquê, o papai só dizia que não tinha nada demais lá fora para nós, e que era melhor continuar nos muros da fazenda.
Voltando para o presente.
    — Pai? Pai? Pai? Consegue me ouvir? O que está acontecendo pai? Por favor me responda.
Eu estava desesperada com aquilo, meu pai nunca teve um Short, era assim que chamávamos o episódio. Aquele que citei antes.
    — F-filha, você está bem? Por que veio? Sabe que é perigoso se aproximar de alguém tendo o Shortt.
    — Eu estou bem pai, mas o que houve? achei que você não pudesse ter o Shortt, você me disse que,.
    — Eu sei o que eu disse querida, o papai mentiu sobre algumas coisas. Eu temo que não haja tempo, Hope, preciso te contar muita coisa, vamos para casa filha.
Eu estava assustada, o meu pai mentiu pra mim, mas sobre o que? Tinha muita coisa que ele precisava me dizer, mas por que ele disse que não haveria tempo?
    — Vamos, papai. Vai ser uma longa noite.
    — Vai sim, querida.

Continua...

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