Rolando os dados

Capítulo 1 - O Muro

Ela ouvia aquela música ao fundo, e ela dizia que ainda tinha chances, que o jogo não tinha acabado. Era preciso se concentrar para fazer as escolhas certas e corrigir a rota da vida.

Quem mais poderia fazer isso por ela? Ninguém.

Ela estava abatida, triste da vida com tantos acontecimentos amargos que desabavam como gotas grossas de chuva ao seu redor. Isso doía seu coração... Fazia se sentir paralisada de medo. E, ela não queria parar, queria continuar lutando até onde suas forças fossem capazes de aguentar. E olha, ela queria chegar o mais longe que qualquer um pudesse imaginar que poderia chegar. Essa seria uma vitória muito suada e muito comemorada.

Agora, era preciso enxugar as lágrimas e partir para a batalha.

Os primeiros passos seriam avaliar o que fez de errado pelo caminho, fechar os "buracos", impedir que eles viessem a roubar sua energia, canalizar tudo a fim de alcançar seus objetivos. Ela tinha medo, mas não ia deixar que ganhasse essa... Não, mesmo!

Entrou no banheiro e decidiu começar com um banho quente.

Deixou a água ir lavando até mesmo as ideias, ir limpando toda a sujeira que ficou acumulada na mente! Era preciso observar cada detalhe. A música tocava e direcionava o cérebro para o ritmo da vida, ou do que ela sonhava para si...

"... Dias, sim. Dias, não. Eu vou sobrevivendo sem um arranhão..."

Depois do banho, uma roupa limpa e confortável. Precisava de foco e treino para não ficar sobrecarregada com o que não prestava! Tentou jogar fora todas as dúvidas e também a sensação de derrota! Era preciso olhar para o alto e lá em cima o céu estava lindo, ela podia ver da janela do quarto, o sol atravessando as persianas com toda a força que o astro-rei mandava para ela.

Ela chegou até a janela, afastou com as costas da mão um pouco da persiana e pôde ver a maravilha que Deus desenhava para ela! Parece que Ele mandava uma mensagem em formato de GIF e que queria dizer que estaria consigo aonde quer que ela pensasse em ir.

Depois de respirar um pouco do ar de fora, voltou para a cama, colocou o alarme para uns 40 minutos e se deitou, olhando o teto, sem pensar em nada... Fechou os olhos e foi tentando abandonar qualquer pensamento tolo que pudesse retirar o foco: Vitória!

Uns 10 minutos e foi levada para outro mundo. O lado de dentro a empurrava para uma selva, um ambiente totalmente desconhecido e ameaçador, cheio de mistérios para alguém que nunca saiu da zona urbana. Sabia muito bem se virar na selva de pedra, mas não possuía o menor jeito para sobreviver à selva real. Aquilo poderia ser o paraíso para o Indiana Jones, mas para ela era o inferno com toda a força.

Ainda estava tudo sob controle, apenas sua respiração ofegante, mas à sua frente ela podia ver uma pequena planície, algumas árvores frondosas, que escondiam um lugar mais escuro, que ela não tinha ideia do que fosse, parecia tudo tranquilo no momento, apesar do medo. Isso a fez respirar com mais calma, ela seguiu olhando para os lados, na direção do ponto mais escuro, depois das árvores. Uma pedra que estava próxima serviu de assento. Ela pôde olhar para frente. Tudo bem... É só um sonho.

Mas, espera... Como ela sabia que ali era sonho? Que não era realidade? Ela podia fazer isso?

Meu Deus! Onde ela foi se meter?

Passou as costas da mão na testa suada, querendo arrancar da mente o medo que se agitava no seu coração. Amarrou o cabelo para trás e resolveu explorar o território à sua volta... Sem pressa...

Ela seguiu para o lado das grandes árvores, parecia ter algo que poderia dar uma pista de onde estava, no lado mais escuro. Seguiu com passos firmes... Foi vencendo aquele verde todo e mais uns 400 metros à sua frente, depois de uma pequena fileira de arbustos: um Muro!