01. Destino

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"Os seres humanos foram criados originalmente com quatro braços, quatro pernas e uma cabeça com duas faces. Temendo o seu poder, Zeus dividiu-os em duas partes distintas, condenando-os a passar a vida em busca de suas outras metades."

Há uma imensa fila na porta da boate, percebo isso assim que me aproximo do local em passos rápidos e largos. Consigo notar alguns olhares maldosos em minha direção vindo das garotas que estão esperando permissão para entrar. Todas com roupas coladas no corpo e saltos agulhas desconfortáveis, maquiagens pesadas e perfumes fortes. Talvez estejam se perguntando o porquê de uma pessoa tão mal vestida para tal lugar estar ali ou apenas reparando o meu desespero sombrio.

O All Star em meus pés e o meu vestido amarrotado do sono vespertino denunciam meu desespero. Eu se quer tive tempo de me arrumar ou de pensar em algo, iria surtar se ficasse mais um minuto naquela casa com o Ethan. Puxo o zíper do meu sobretudo marrom, podendo assim esconder minha roupa inapropriada para o local enquanto dificultosamente tento me livrar das cenas que ocorreram poucos minutos antes.

—Eli?— A voz aveludada me chama, fazendo com que eu volte a realidade.

Me aproximo do homem vagarosamente, ajeitando o meu cabelo da bagunça que a ventania e a chuva o tornou.

— Bill, será que posso entrar? Meu namorado tem o nome na lista de presenciados vip's. Ele deve estar vindo daqui alguns minutos.— Ele não virá, pelo menos é isso que espero.

Dou o meu melhor sorriso ao segurança que checa a lista em sua mão de autorizados, sei que tudo em mim doí e tudo que eu mais desejo é poder esquecer todo esse inferno que me cerca. Não deixo transparecer a dor que estou sentindo em minha face, isso seria o suficiente para incomodar o homem em minha frente ao ponto de faze-lo não me deixar entrar.

— Claro, pode entrar.—O rapaz alto e de vestes escuras retira do bolso um carimbo, depositando o mesmo no dorso da minha mão. O logo da boate em azul escuro reflete em minha pele clara, deixando evidente que sou uma cliente especial. Sua mão esquerda remove a fita vermelho sangue que cerca a entrada, me dando passagem para entrar naquele lugar escuro e barulhento.

O local é composto por grande luzes coloridas ao meu lado esquerdo, enquanto ao direito existem meses e cadeiras confortáveis para quem quer apenas beber ou repensar em suas tristezas. Há também um cheiro forte de cigarro misturado com uma melancolia alcoólica logo na entrada. De longe avisto uma mulher loira sentada em uma das cadeiras de couro, servir a si mesma, com a cabeça cabisbaixa e com a visão focada em seu copo cheio de Bourbon, ela desliza o dorso de sua mão pelas suas bochechas, como se estivesse secando suas lágrimas.

E de fato estava. A loira parece sentir o peso do meu olhar sobre ela, tendo em vista que a mesma levanta a cabeça vagarosamente para encarar o meu corpo imóvel á sua frente.

— Posso me sentar aqui?—Por fim, falo alguma coisa, recebendo apenas um gesto como permissão à minha pergunta.

Ela retira do bolso do seu casaco um pacotinho transparente com um pó branco dentro, estendendo o mesmo em minha direção assim que me ajeito na cadeira revestida em couro. Observo aquela situação atenta e recuso com a cabeça, fazendo a mulher em minha frente soltar uma risada baixa, quase como se estivesse zombando de mim. Seu olhar permanece imóvel, ela tenta transparecer firmeza, com os olhos marejados. Seu rosto avermelhado do recém choro e seus lábios curvados em um sorriso fechado e carregado de ironia. Ela está tão machucada que não consegue nem disfarçar.Abaixo o meu rosto timidamente, sentindo o pesar do seu olhar sobre minha face.

— Como se chama?— A mulher, que agora se comunicava comigo com palavras, pergunta curiosa enquanto enche um copo grande com um licor forte e empurra pra mim, sem que eu pedisse.

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