02. Quebrantada.

18 1 0
                                    

— Você entende a gravidade disso?—Encosto meu rosto na porta, apoiando minha mão por debaixo do mesmo enquanto escuto a voz grossa de Ethan atravessar as paredes finas do meu quarto, ouvindo ele falar calmamente  com April, minha mãe. — Isso poderia complicar toda a minha vida.

  Me recordo de tudo que aconteceu ontem, de beijar um homem estranho no banheiro da boate e de negar tal ato dentro do carro do meu namorado. Lembro também, que antes disso tudo acontecer, eu saí de casa desesperada por não saber o que fazer quando ele avançou em mim na tentativa de me bater, por sorte, ele estava bêbado e eu atenta.

Encaro o meu reflexo pálido no espelho, sem vida e apática. Deslizo o pincel com um pouco de blush pelas maçãs do meu rosto para que uma saúde falsa seja plantada ali. Estou há três dias sem comer nada e sinto o meu corpo reclamar a cada cinco passos que dou. Sei que eu deveria comer algo, mas tudo que eu tenho comido tem voltado, talvez eu devesse ir ao médico ver o que há de errado comigo, embora muito provavelmente eu já saiba a resposta.

Pego minha mochila no chão e saio do quarto, desejando chamar a menor atenção possível, por mais que seja inevitável. Quando apareço no campo de visão dos dois, eles rapidamente se levantam para me receber, como se eu fosse uma princesa da realeza, ou algo assim.

— Ah, querida, aí está você. — Minha mãe sorri para mim, mas sei que por detrás dessa expressão carregada de tanto amor e ternura, existe uma mulher furiosa com sua filha. —Estávamos conversando sobre o futuro de vocês. —Ela mente, parcialmente.

Sei que ela está mentindo, estive ouvindo toda a conversa desde quando Ethan chegou. Quando ele subiu para me ver, corri para a cama feito uma criança e fechei os olhos, fingindo que estava dormindo feito um bebê. Ele me acordou e pediu que não demorasse, mas cada segundo que se passava eu me enrolava ainda mais com qualquer coisa simples e fútil apenas para atrasar o nosso encontro inevitável.

— Como está se sentindo? Você estava um pouco mal ontem.— Ethan faz com que minha atenção seja voltada para ele, mas não consigo sustentar seu olhar por muito tempo.

— Estou bem. —Minto, sabendo que ele também está mentindo.

— Me deixe te ajudar com isso.— Ele se aproxima e toca o meu braço, fazendo-me recuar por impulso. Ele retira a mochila pesada sobre o meu ombro e a coloca sobre o dele.

Sorrio gentilmente para ele, mesmo que o meu corpo todo esteja trêmulo e fraco. Caminho até a porta na tentativa de sair o mais rápido dali, mas a voz autoritária de April me faz parar na saída.

— Você não vai comer nada? — April coloca sua xícara sobre a mesinha de vidro, sei disso porque a olho de relance. Sei que ela odeia isso e que mais tarde vou ouvir um monte, mas estou me sentindo sufocada.

— Eu como algo no caminho.

Abro a porta e o vento congelante que bate minha face parece libertador, até que meus olhos pousam sobre a Lamborghini preta estacionada em frente a minha casa. O ar parece me faltar novamente, mas ainda assim me sinto mais livre do que dentro da minha própria casa. Sinto o corpo de Ethan bater lentamente contra o meu, fazendo-me arrepiar.

Saio de casa sem olhar para trás, afastando-me o máximo que posso dele. Minha mão quente toca a porta gélida do carro, causando um pequeno arrepio em meu corpo, que é cessado assim que entro no carro aquecido.

Assim que ele entra no veículo, viro o meu rosto para olhar a rua movimentada. Sei sobre tudo que tem aqui, tenho tudo perfeitamente decorado, mas não consigo encarar ele. Não depois de ter me levado pra casa e brigado comigo de novo. Por sorte, o senhor Wright apareceu bem na hora.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 03, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

FragmentedOnde histórias criam vida. Descubra agora