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Mia narrando

Ultimamente tem sido maravilhoso... o barracão vai ser inaugurado amanhã e ja estou indo no asfalto ver se achamos um vestido para Li.

Hoje acordei cedo, como o barracão vai ser inaugurado amanhã ja fiz tudo que tinha que fazer. A avó dos garotos me chamou para fazer uma visita rápida por la, então vou agora de manhã para tomar um café com Dona Olga. Coloco uma roupa básica e subo o Morro (ja que a caminhada é um pouco grandinha), passo na padaria para dar um alô para as meninas e comprar alguma coisa...

Laila: e aí garota.. como estão as coisas?- pergunta saindo de trás do caixa e vindo me abraçar - estava resolvendo umas coisas sabe? Hoje é dia de pagar para Thigo- depois de algum tempo que eu estava com o Thigo, percebi que todo comércio daqui paga pra ele em troca de segurança e "liberdade" para suas vendas. Briguei com ele mas ele disse que se dá segurança alguém o faz, e se alguém o faz essa pessoa tem que receber... Acabei concordando - mas me conta.. o que vai levar hoje?
Mia: Estão ótimas menina- digo abrindo um sorriso de orelha a orelha - vou levar pão de queijo e esse bolo aqui -digo com desejo na voz - está com uma cara tão... mas tão boa que meu Deus, ultimamente estou com desejo por chocolate (mais que o normal) - digo a fazendo rir
Laila: falando em desejo, acabou de me lembrar que tenho que ligar para o bebê pra ir buscar a cria na minha mãe - diz preocupada- deixa eu ver seu pedido antes...
Mia: obrigada, pode deixar que tô subindo e aviso pro Caveira ir buscar sua Baby - digo ao pegar as sacolas. Me despeço e sigo meu rumo

(...)

Acabou que quando encontra com o Caveira ele ja estava com a filha no ombro (brincando de cavalinho), mas avisei mesmo assim. Cheguei na casa da Dona Olga (que está morando sozinha com a Glória)

Glória: bom dia dona Mia - ela diz ajeitando o uniforme - acabei me esquecendo que viria (mil perdões)- diz toda envergonhada - Dona Olga está na cozinha (como sempre)
Mia: obrigada Glorinha, só não deixa ela te pegar cochilando que tu conhece a peça - disse dando risada

Mia: Dona Olga? - digo entrando na cozinha - bom dia
D Olga: bom dia minha filha. Venha, venha, se junte a nós- disse apontando para a cadeira vazia de frente para Li - estamos te esperando a muito tempo já
Mia: desculpa Dona Olga- disse me juntando a elas - trouxe algo que a senhora ama! - e coloquei o pão de queijo na mesa com cara de bebê que sabe que tá encrencado, fazendo as duas rirem.
D Olga: eles saíram cedo.. falaram que tinha dinheiro pra pegar - disse me servindo uma xícara de chá - falando em dinheiro... - diz, entrando no mesmo assunto que não gosto de tratar com o Thigo - sei que não vai gostar mas... você tem que parar de gastar seu dinheiro com as pessoas, parar de querer doar, querer queimar ou sei lá minha filha - disse levantando a mão quando eu abri a boca e perseguindo - pense a longo prazo, nunca sabemos onde podemos estar daqui a 10 anos... você não vai usar agora, mas o meu mais velho é o dono desse lugar e ele vai querer um herdeiro a qualquer momento ! - disse abaixando a mão como forma de permissão
Mia: não dona Olga, é muito dinheiro e não sei o que fazer- disse mordendo um pão de queijo - e afinal de contas, Thigo ja disse que não quer herdeiros e muito menos compromisso em papel- disse fazendo ela rir
D Olga: Estava falando exatamente o contrário para a nossa moça que está prenha - disse sorrindo para a Li que correspondeu - mas não estou aqui para falar de dinheiro, quero falar da sua ONG - neste momento escutamos um barulho estranho e Dona Olga se levanta - já volto - e sai da cozinha

Lívia: quase morre né? - diz dando risada da minha expressão surpresa - isso não foi nada. Escutei sobre gravidez, casamento e comida... mas no fim, ela não se meteu não, deu apenas aqueles conselhos maravis - disse feliz - anotei tudo - diz levantando um caderninho por cima da mesa e me fazendo rir
Mia: me dá um pedaço desse bolo ? Tô com uma vontade desde quando passei na Laila - digo ansiando pelo bolo.

D Olga: desculpa meninas, é que a Glória não está acostumada ainda com a casa - disse em tom de advertência
Lívia: nós sabemos Dona Olga que a senhora ama ela
Mia: pode até fazer essa cara de brava e tudo, mas tu a ama que sabemos.

Dona Olga fica vermelhinha mas logo se recompõe
D Olga: eu gostei da ONG, sei que desse jeito é uma forma de crianças e adolescentes não serem bandidos... não ficarem nas ruas - disse com a voz triste- sei que... vocês se apaixonaram por bandidos e que não é fácil pensar assim nem escutar isso... mas só tem dois finais para pessoas assim, que não cabe a mim lembrar vocês. Quero falar que vocês podem me culpar - disse com a voz chorosa - eu deveria ter tido mais pulso firme, mas...
Lívia: nós sabemos - interrompe Dona Olga e continua - ... que fez tudo que podia, faz até hoje
Mia: a senhora é uma ótima mãe, bem diferente da que tive... pode apostar - digo me inclinando e dando-lhe um beijo em sua testa - a senhora é boa, não se culpe por nada... inclusive já sei o nome da ONG -digo feliz - mas precisamos ir, temos trabalho a fazer - levanto e dou um abraço nela e Li faz o mesmo.

Mia: Glória - disse ao sair... - cuide dela
Glória: claro que sim, se ela deixar - Dona Olga abre um sorriso sincero e diz "tu não vai trabalhar não pra ver".

(...)

Pedi para a Lívia ligar para alguém que possa fazer um cartaz para a entrada de amanhã... (como está muito perto, terá de ser uma provisória). Por sorte, Li tem seus contatos do asfalto e conseguiu rapidinho o cartaz com as palavras que pedi para amanhã de manhã.

Livia: o que fará em relação ao dinheiro ? - perguntou tentando evitar o assunto do por quê da ONG
Mia: guardar... até porque, minha afilhada (que ja ja nasce) precisa ser mimada!

Quando é umas 16:45 recebo mensagem do Thi me chamando para "um passeio diferente" então saímos do barracão assim... abraçadas, Unidas como sempre estivemos...!

Atrás Dos MurosOnde histórias criam vida. Descubra agora