Cap. 1: Matando-me Suavemente

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Sábado: é o dia que eu mais amo trabalhar nessa cafeteria.

Talvez seja porque eu meio que me desconecte de tudo o que venho sofrendo ultimamente, e de tudo que me faz relembrar as coisas ruins que vivi a pouco tempo atrás.

Na verdade eu não tenho muito tempo para pensar nas coisas externas porque é o dia que eu trabalho mais horas aqui. Durante a semana eu tenho menos carga horária por conta da faculdade, mas aos sábados eu trabalho as 8 horas. Enquanto ao resto dos dias eu trabalho apenas metade do horário de serviço normal.

Eram umas 17:30hrs e eu conversava sobre assuntos aleatórios com a minha amiga de turno e da vida, Malia, quando somos interrompidos por uma quantidade de pessoas entrando na cafeteria ao mesmo tempo. Eles se acomodam numa das mesas e ela já se prontifica.

- Eu anoto os pedidos. - Malia diz e vai até a mesa onde o grande pessoal se acomodou.

A Heureux é um espaço amplo, com uma decoração rústica francesa e toda uma inspiração em Paris. Graças à paixão tremenda da Fabiana (a dona da Heureux) pela "Cidade do Amor".

Vejo Malia voltando e ela não me olha com uma cara muito boa.

Eu só a olho, ela entende meu olhar e já me diz:

- Aquela otária como sempre! Porque isso? Pra que ela faz questão de jogar tudo que fez na minha cara ? - Malia fala meio triste e eu já sei do que sei trata.

- Esquece isso tudo por um momento, e me diz os pedidos porque independente de ser ela uma vadia, ela ainda é nossa cliente. - Digo tentando esvaziar a cabeça dela.

- Dois Macchiattos, um Americano e três Cappuccinos.

Eu comecei a preparar os cappuccinos enquanto ela preparava o restante.

Essa garota quem Malia estava se referindo era Sophia. Uma filha da puta de grande porte, resumindo bem a história toda. Ela não fez nada mais, nada menos que ficar com ex-namorado da Mali, o Miguel. Sophia simplesmente fez ele desistir da Malia, e depois que percebeu que ele tinha desapegado dela totalmente, o largou.

Além do meu ex-namorado, eu nunca vi uma pessoa tão idiota como o Miguel. Até porque, ele se deixou ser seduzido pela sereia do agreste, terminou com Malia de uma forma estúpida da qual não poupei minha vontade de socar a cara dele. E ainda depois de todo o showzinho que Miguel fez, a Sophia largou ele. E ele ficou no seu devido lugar: NA MERDA!

Hoje ele se arrepende, mas antes queria que Malia ficasse como uma cachorrinha atrás dele, coisa que eu não deixei.

Malia ainda montava a bandeja. Foi a cara mais triste que eu vi ela fazer ao montar uma bandeja nos dois anos que trabalhamos juntos. Me dá dó de vê-la assim.

Eu posso estar um caco, mas faço o possível pra alegrar o dia de alguém que eu ame.

- Ei, deixa que eu levo. - eu digo a ela, que assente.

Caminhei até a mesa e entreguei os cafés aos respectivos donos, porém um único garoto que estava na mesa não tinha pedido nada.

Depois de servi-los eu voltei pro meu lugar e Malia conversava com Jonett, a nossa outra colega de turno que é responsável pelos doces e sobremesas que servimos aqui, e ela estava fazendo os preparativos pra noite que costumava ser bem movimentada. Ao contrário de agora que só tem um mesa ocupada.

Mal arranjei algo pra fazer durante o tempo que não tinha trabalho e vejo alguém acenar.

Vinha da mesma mesa que eu tinha acabado de servir. A mão erguida era de um garoto.

- Você deseja que tipo de café? - eu digo formalmente como sempre e pego o caderninho em meu avental para anotar.

- Eu não gosto de café. - diz ele rude. - Eu quero um submarino.

Anoto e saio dali rapidamente para novamente preparar o pedido, percebi um ar de deboche na cara de Sophia por ter sido eu quem atendeu a mesa dessa vez, e digo Malia pra não se preocupar com aquela mesa, e que eu tomaria conta dos pedidos de lá.

- Vai tomar conta da mesa pra me poupar de olhar a vagaba, ou é por causa do garoto que não para de te olhar? - Malia me indaga, e eu olho pra mesa.

Vejo o garoto do qual ela falava. Era o mesmo que acabara de ser rude comigo.

Não posso mentir pra você e dizer que não achei o tal menino bonito, mas o olhar dele me incomodava. O jeito promíscuo com o qual ele me olhava. Entretanto, não preciso nem dizer que a beleza que ele carrega não é uma desculpa pra ser rude.

Mais uma vez, eu levo o pedido até a mesa e vou até as máquinas dar uma limpada basica nelas que não estavam sujas mas era primeiramente para que eu não ficasse ali observando os olhares desse garoto.

***

O dia de sábado aqui sempre é bem corrido, mas hoje nem foi tanto assim.

Ao final do turno, e eu Malia fomos pra casa juntos como de costume. Passávamos pelas mesmas ruas, até a casa dela. Que fica um pouco antes da minha.

Amanhã eu não trabalho, então aproveitar pra por minhas coisas em dia, assim como os trabalhos da faculdade, era somente o que eu fazia no domingo inteiro.

Chegando em casa, pelo silêncio, presumo que minha mãe esteja dormindo e então vou direto pro banho.

Ponho meu celular pra tocar músicas aleatoriamente, enquanto tomo uma ducha morna.

A primeira música que toca é "Killing Me Softly" do Fugees.

Essa música tem tudo a ver com o meu último namoro. Durante meu relacionamento inteiro eu estava exatamente como a música diz.

Foi um término muito conturbado, por tanto, eu não quero nem lembrar. Prometi a mim mesmo que eu também não pensaria mais nele. Assim como prometi que não me envolveria com mais ninguém nem tão cedo.

Terminando meu banho, ponho uma T-Shirt cinza e um short folgado pra dormir. Mas não era isso que eu faria agora. Até porque eram 23:00hrs e ainda por cima eu estava com fome.

Fui até a cozinha, preparei um misto quente e servi um copo de refrigerante. Tudo necessário pra me encher.

Ao terminar de comer, peguei todos os meus livros para continuar meu trabalho sobre Comportamentalismo, mais precisamente sobre Distúrbios que foi o subtema que me foi sorteado.

De um trabalho que era permitido um grupo de até 5 alunos, advinha quem foi o otário que ficou sozinho?

Fazer faculdade de Psicologia com um bando de pessoas que estão ali por obrigação ou por serem filhinhos de papai, não é fácil.

Prevejo mais uma noite em que irei dormir com a cara nos livros.

Mas, nada que eu já não esteja acostumado. Não é mesmo?

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