Dessa água não bebereis

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Por exatos 2 segundos, eu pensei em dizer "Não, eu sou virgem" porque nunca se pergunta pra um cara se ele quer ir assistir filmes na sua casa se você não quiser algo mais. Mas, como se trata de Kang Daniel, as coisas são bem diferentes. De início, quando eu cheguei na casa dele eu fui recebido super bem pela mãe dele.

Ela me deu um ronco de "bem-vindo", porque ela tava praticamente morta no sofá. Um dorama passava na televisão, coitada, é praticamente eu mais velho. Daí eu subi lá pra cima, no quarto dele.

E fui surpreendido pela visão maravilhosa que é Kang Daniel deitado naquela cama enorme, sozinho, cercado de pôsteres e uma televisão, com três pacotinhos de chips, e algumas latinhas de coca cola. Eu, como não sou besta nem nada, tirei meus chinelos e me taquei na cama com ele, derrubando algumas batatinhas que ele tinha colocado abertas na cama. Ele me deu um selinho de "olá". E senhor, quando é que eu, um homem velho, já vivido, vou parar de ficar vermelho por causa de um mocinho desses? Credo, falando assim parece que eu sou séculos mais velho que ele.

Ele mexeu em um controle branco, era o controle do ar-condicionado, que agora, por causa dele, estava extremamente frio, e era maravilhoso ficar num friozinho daqueles debaixo do cobertor com sua paixãozinha. Tentem chamar o crush de vocês pra assistir um filme, tentem. De início, eu pensei "nossa, que intimidade é essa? faz só alguns dias que você me beijou e já me chama pra sua cama" mas meu, quem é que vai negar um Netflix and Chill pra um homem desses?

– A gente vai acabar essas batatinhas e ninguém vai ver filme nenhum. – Disse enquanto comia mais algumas Chips de dentro do pacotinho, e com a outra mão passava por todas as categorias de filmes diferentes de filmes existentes dentro da Netflix.

– Que tal a gente ver um dorama? – Sugeri, ah, eu vou falar a verdade pra vocês. Eu nunca vi nenhum dorama, juro. É porque dizem que a gente sofre, e sofrimento pra mim é o que não falta.

– Se for pra chorar eu prefiro ver fotos de cachorrinhos se recuperando de doenças sabe – disse, virando pra me encarar – Eu choro vendo essas coisas.

Eu sou apaixonado pelo ser humano certo, um ser humaninho que chora com fotinhos de cachorros. Sem responder a criança de 3 anos que estava deitada ao meu lado, peguei o controle da mão dele e entrei no perfil da mãe dele. Que perfil melhor pra achar doramas do que o perfil da mamãe?

Coloquei a mão sobre os olhos dele, e fechei os meus, assim eu escolheria aleatoriamente. Depois que a opening acabou a gente já estava no segundo pacotinho de chips.

– A gente vai ver só um episódio, depois nós vamos ver um filme de terror. – Disse, com um tom convicto de que iria de fato fazer tal coisa. Coitado, mais iludido que eu.

E depois do 3 episódio, Daniel já estava chorando, coitado. E eu tendo que limpar as lágrimas dele. E só depois desse episódio eu descobri sobre o que o dorama se tratava: Tinha uma mulher, e um homem, eles tinham os mesmos sonhos e acreditavam ter se apaixonado na vida passada e blá blá blá. Então, eles passam praticamente o dorama todinho tentando se encontrar.

E no terceiro pacotinho de Chips, no 6 episódio, eu deixei Daniel colocar a cabeça sobre meu peito e se aninhar. Coitado, ele deve tá achando que eu tô tendo um ataque cardíaco aqui, porque do jeito que meu coração tá batendo forte...

– Se ela morrer eu me afogo no córrego. – Disse, limpando algumas lágrimas que saiam de seus olhos, caindo direto na minha camisa.

– Eu me afogo junto. – Eu juro que não  foi a intenção soar tão romântico, eu juro, eu juro, eu ju-

– Aw, quer dizer que você não consegue viver sem mim? – Disse, levantando o olhar para me encarar. Nossa, isso é tão bonitinho eu não consigo abrir minha boca pra falar uma palavra. Eu só consegui roubar alguns selinhos dele, porque eu fiquei vermelhinho demais pra responder.

Ele colocou a mão na minha bochecha - e eu sou apaixonado por esse gesto tão simplezinho, gesto esse que derrete meu coraçãozinho. - e transformou um selinho simples em um beijo daqueles de tirar o fôlego.

E depois de acabar com o beijo, colocou uma Chips na minha boca e deu um sorrisinho, voltando a se aninhar no meu peito e a encarar a televisão. E minha nossa senhora, eu estava queimando por causa desse beijo, acho que esse menino me passou febre com um beijo porque me subiu um calor.

No último episódio, acabou que eu e Daniel estávamos mortos de chorar, e todo aquele refrigerante havia sido convertido em lágrimas de dor, sofrimento, felicidade de tristeza. Então é isso que os dorameiros sentem?

– Daniel você tá bem? – perguntei, vai que o menino tinha morrido, porque eu só tô ouvindo umas fungadas e sentindo ele apertar minha camisa como se fosse um ursinho de pelúcia.

– Eu to ótimo, eu nunca estive melhor, nossa eu tô ótimo demais, eu tô feliz demais, eu tô muito bom. – Disse chorando ainda mais, tentando limpar as lágrimas. Senhor, eu não acredito que eu sou apaixonado por um bixinho tão sensível desses; me deu vontade de colocar num berço pra cuidar.

Era umas 23:00 quando ele foi me acompanhando até a porta de casa. Ele ficou extremamente preocupado quando nós olhamos às horas, e não quis que eu fosse pra casa sozinho. Depois de muita melação, ele acabou vindo comigo. Eu não quis dormir na casa dele porque talvez a mãe dele ache um pouquinho muito estranho encontrar um cara dormindo na cama do filho, do nada, sem falar nada.

E quando ele me deu um beijão daqueles de despedida, estilo dorama mesmo, eu fiquei morrendo de medo de deixar ele ir pra casa sozinho, e cogitei a ideia de deixar ele dormir na minha casa.

– Não fica preocupado, eu mando uma mensagem quando chegar em casa, juro, juro, juro. – disse com a mãozinha entrelaçada na minha – Será que tem como você me encontrar naquele café, amanhã depois da aula? Eu vou estar muito ocupado pra ir pra aula amanhã.

– Ah, claro.

Diário de um Babaca inseguro [TERMINADA]Where stories live. Discover now