Soberanos - Rainha sem Rei - Livro 2 - DEGUSTAÇÃO

Capítulo 3

    King

    Fazia quase um mês que eu não a via. Com exceção dos meus sonhos, que ela teimava em invadir, eu não tinha nenhuma novidade sobre ela. Nenhuma notícia. Não sabia se ela já tinha se recuperado do nosso término, ou ainda sofria pela mágoa que lhe causei. Não sabia se ela já estava em outra. Se algum outro cara ocupava o meu lugar, que infelizmente eu desperdicei.

    Era noite de sexta, e ao invés de ir para o bar da esquina com os caras, Gabo e eu ficamos no apartamento que Vicente alugou para a banda.

    Gabo, depois da última briga com Bettina, achou melhor abandonar as noitadas de bebedeira, embora ela ainda não tivesse voltado a falar com ele. Bettina era dura na queda. Mesmo Gabo ligando todos os dias e mandando mensagens constantes, ela mantinha o silêncio. Isso o deixava cada dia mais frustrado e irritado com nossa atual realidade.

    Eu frequentava o bar, às vezes, mas tinha noites que nada me dava forças para sair de casa. Não havia bebida suficiente que me fizesse esquecer toda felicidade que eu deixei para trás.

    Naquela noite, Gabo me fez companhia estirado num dos sofás da sala. Enquanto no outro, eu tentava, em vão, compor alguma música. Eu tentava arrancar notas do meu violão. Mas não saia nada que prestasse. Eu tinha perdido minha habilidade de composição. As melodias e letras que eu criava eram vazias, sem vida, como eu mesmo me encontrava.

    Desistindo de tentar continuar compondo, me recostei no sofá e abracei o violão. Isso foi o mais perto de ter em meus braços uma forma feminina que tive nos últimos tempos.

    Interrompendo nossa sossegada melancolia, Edu entrou bufando apartamento à dentro, seguido de perto por Daniel e Anselmo, que pareciam preocupados.

    _ Olha esse vídeo e me dá uma boa razão para isso estar acontecendo! _ Edu estendeu a mão em que segurava um celular o colocando quase na minha cara. Em outros tempos tal atitude me faria perder a pouca paciência que eu tinha. Mas naquele momento minha apatia não era vencida facilmente.

    Peguei o celular e dei play no vídeo, como ele queria. Era uma parte do show da Bloomangel. Angel estava sentada em um banquinho no centro do palco do Bombar. Ela começou a falar, anunciando uma convidada especial. Era a Lara. Eu a vi subir ao palco e tomar seu lugar no banco ao lado da Angel. Eu queria me beliscar para ter certeza que aquilo não era apenas mais um dos meus sonhos que brincavam com minha tola esperança de a ver novamente. Mas não era sonho. Era mesmo um vídeo da Bloomangel. A Lara estava mesmo lá, se preparando para cantar. Ela estava linda! Embora parecesse mais magra e eu não gostei disso. Não queria que ela se modificasse em nada. Mesmo sabendo que minhas ações acarretariam em mudanças.

    Não era só seu corpo que estava diferente. Ela parecia triste. Na verdade triste era pouco. Lara parecia quebrada. Como eu próprio estava. Bastou que ela cantasse as primeiras palavras para que eu quisesse estar morto, para não precisar vê- la sofrendo daquela forma. Eu queria poder estar lá, abraçá- la e arrancar toda aquela dor que eu estava lhe causando. Eu deveria ter parado o vídeo e entregado o celular, mas eu merecia sentir aquela agonia por tudo que eu estava fazendo a Lara sofrer.

    Era impossível assisti- la cantando aquela música, que a cada palavra me apunhalava o coração, e segurar as lágrimas que escaparam furtivas. Eu tentei disfarçar, e secá- las rapidamente, mas foi inútil. Meus amigos, pela primeira vez, me viram chorar. Todas as outras vezes foi escondido. Durante a madrugada, quando Gabo e Anselmo, meus companheiros de quarto, já estavam dormindo.

    Ao final da música ela chorou e meu peito sangrou com mais essa punhalada. Eu tinha uma esperança tola de que ela superaria rapidamente nosso fim. Talvez essa esperança fosse alimentada pelo fato de ela nunca ter falado abertamente sobre seus sentimentos. O que me fazia pensar que eu não era tão importante para ela quanto ela era para mim. Eu estava enganado.