chapter 1

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"Me ajuda"

Foi o que eu escutei após atender à ligação de um numero desconhecido. Não faço a mínima idéia de quem seja, talvez pela voz embargada.

"Quem é?"- pergunto.

"Kurt. Por favor, sei que hoje não é dia de consulta mas eu preciso de você"

Kurt é meu cliente já faz alguns meses, mas hoje somos como amigos, por causa da mínima diferença de idade e os gostos musicais semelhantes.

"Onde você está?"- pergunto já preocupada.

"Estou em casa, posso ir para o consultório?"- ele pergunta parecendo ter voltado a chorar.

"Não estou no consultório, hoje é meu dia de folga. Venha pra minha casa"- respondo.

"Não quero incomodar, hoje é seu dia de folga"- ele diz fraco.

"Não venha como cliente, venha como amigo. Você nunca incomoda. Sabe onde é minha casa?".- pergunto olhando as horas no relógio. Força do hábito.

"Sim, uma vez eu tive que ir pois o consultório estava em reforma, lembra?"- ele diz então me recordo.

"Ótimo, então venha, estou a sua espera"- digo e desligo o telefone logo em seguida.

Coloquei algumas coisas que estavam desorganizadas em seus devidos lugares e me sentei no sofá para espera-lo. Eu sou a psicóloga dele, não posso parecer desleixada.

Os minutos foram passando e eu só ficava mais preocupada. Kurt tinha depressão e sinais suicidas, eu não sei se ele fez algo ruim consigo mesmo, e isso está me deixando louca. Levanto pra ir beber água mas volto alguns passos depois de escutar três batidas na porta.

Quando abri, me deparei com ele vestindo um dos seus típicos moletons listrados, uma calça jeans meio folgada e seu clássico all star preto.

-"Entra".- dou passagem ao mesmo que entra, indo se sentar no chão.-"Então, me conte o que está acontecendo".- me sento a sua frente e ajeito seus cabelos que estavam em seu rosto molhado de lágrimas.

-"Eu sou horrível, por dentro e por fora, me sinto vazio, como se nada conseguisse preencher isso. Nada importa, eu só quero morrer e acabar com tudo de uma vez, tirar essa dor que me perturba e me faz desaparecer lentamente a cada dia".- ele desaba e abraça seus joelhos em forma de acolhimento pessoal.

-"Respira fundo".- digo com minhas mãos nos dois lados do seu rosto, para fazê-lo olhar pra mim.-"Você tem uma criatividade de tirar o fôlego, uma voz incrivelmente linda, uma personalidade inigualável. A depressão não deixa que você enxergue isso, ela não deixa que você veja o quão incrível, único, esplêndido e brilhante que você é. Acredite em mim, você não merece morrer, nem sofrer. Você merece ser feliz e aproveitar o presente e cada dia, como se fosse o último".- digo e o abraço logo em seguida. No começo ele não retribuiu, mas cedeu depois de alguns segundos.

-"Obrigado".- ele diz quase em um sussurro.

-"Olha, sei que isso pode parecer patético, mas, o que você gosta de fazer?".- me separo do abraço calmamente.

-"Nada".- ele diz friamente olhando para um canto da sala.

-"Então vamos fazer metas, eu cumpro elas com você, que tal?".- sorrio. Essas metas, podem o motivar, o que é muito bom para ele.

-"Tem certeza que isso pode funcionar?".- ele olha pra mim com um olhar de desesperança.

-"Sim".- eu não tinha certeza, mas tenho que passar confiança.

-"Então o que eu tenho que fazer?".- ele pergunta.

-"Vamos separar dois dias na semana pra realizar alguns sonhos de quando você era pequeno".- lembro de uma consulta em que ele disse os sonhos dele de quando ele era menor.

-"Tudo bem".- ele não parece estar animado, o que me deixou um pouco desapontada.

-"Vem comigo".- levanto e ofereço a minha mão para ele poder se apoiar e ter impulso para levantar.

Lembro que em uma das consultas ele me contou que era fã do Leonard Cohen e que as músicas dele o ajudavam de alguma forma. Eu tenho um disco autografado. Ganhei quando meu amigo perdeu em uma aposta comigo. Como ele conseguiu esse disco? Não sei, mas talvez o Kurt goste.

Procurei o objeto em uma caixa empoeirada, na qual eu guardava meus discos. Quando achei, o mostrei.

-"Não estou cogitando que isso te faça feliz, estava pensando em te dar faz alguns dias".- percebo o quão estúpida eu estou sendo em achar que ele gostaria de algo que eu desse a ele.

-"Você sabe que se você vendesse isso, você iria ganhar no mínimo uns dois salários mínimos, não é?".- ele diz olhando fixamente para o disco.

-"Eu sei disso".- digo.

-"Então por que está me dando?".- ele questiona.

-"Porque você merece".- e então ele olha pra mim incrédulo.

-"Eu poderia até concordar com você, mas aí seria duas pessoas falando merda".- ele diz e coloca o disco ao lado da caixa, insinuando devolver o objetivo.

-"Não".- pego o disco e estendo pra ele.-"Kurt, você merece".- digo, mas ele nega com a cabeça.-"Merece".- ele nega novamente.-"Merece".- e fomos repetindo até ele ceder.

-"Ta, eu vou levar, mas se você quiser pode pegar de volta".- ele diz. O sintoma que eu mais odeio na depressão é de a pessoa achar que não merece nada.

-"Isso não vai acontecer, sinto muito".- digo e sorrio.

[...]

Estávamos falando sobre os Melvins enquanto comíamos torradas cm geléia de morango, consegui tirar uns 4 sorrisos dele até agora. Me senti feliz por isso, gosto de ve-lo sorrir.

Ele melhora o meu dia.

Continua...

oii, o que acharam do cap? mandem sugestões se quiserem <3

até o próximo capítulo, meu cheiro.

HEART-SHAPED BOX ♡ Kurt Cobain Onde histórias criam vida. Descubra agora