Prólogo - A vida que escolhi porque me deixaram sem opções

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A vida é uma coisa meio complicada. Talvez até mesmo sádica ou irônica, e todos nós sabemos disso, querendo ou não. Existem nela grandes variações de tempo, grandes variações de pessoas e modos de se viver, mas muitas vezes ela é única e simplesmente o sopro de algo que nos mantém vivos.

Dizem que esse algo é deus, outros tantos dizem que esse algo é o tempo e existem aqueles que afirmam que a vida é a química, a biologia e a física do mundo se envolvendo; dançando de um modo terno uma valsa que ninguém mais pode ver, só elas.

Creio que talvez por isso eu seja marcado desde cedo por minhas percepções que a vida é uma mistura louca de tudo e nada, de sentimentos, verdades e erros.

Sim, de erros.

E esses são o porquê desta minha história.

Erros tão certos que parecem incertos ou tão incertos que se tornam certos. Marcas de um mundo que se impõe ferozmente àqueles que devem seguir um rumo, uma direção.

É como uma máquina sempre precisa. Um relógio suíço, talvez, que nos marca, que nos fere e nos faz rodar os ponteiros de nossas falhas concepções, sendo constantemente igualados aos nossos erros; as marcas daquilo que esperam de nós.

Aquilo que esperam da vida.

Eu errei — e muito — e minha vida hoje é marcada por esses erros. Mas juro, errei tentando acertar. Foi tentando fazer o certo que estou hoje aqui a me lamentar.

Talvez por me considerarem louco agora ignorem meus acertos e minha genialidade. Talvez por terem a certeza que minha vida já não vale merda nenhuma tenham a certeza que o que fiz foi por uma razão muito específica, e que nada e nem mesmo ninguém vai poder mudar.

O passado torna-se imutável, isso é claro, é uma lei da natureza. Não podemos voltar no tempo e consertá-lo, não podemos mudá-lo; basta aceitar cada coisa, cada evento e aprender com ele, talvez melhorar num futuro se ainda há esperanças.

Mas eu não as tenho mais.

As perdi deliberadamente quando tudo que sonhei, quando tudo que abstive foi jogado na minha cara. Doeu como uma tapa, sofri como um condenado. E de fato estava.

Condenado a morrer.

Condenado a não ter a chance de aprender com os erros do passado para almejar um futuro, condenado a simplesmente deixar de existir sem ter nenhuma de minhas marcas na história.

E por ser um mísero ninguém, uma sombra vazia que perdeu a alma, eu deixe-me seduzir por meus desejos mais sádicos.

A vida é um pouco irônica, e talvez um pouco sádica.

Eu apenas aprendi com ela e usei cada pequeno aprendizado para melhorar, ou simplesmente para — talvez — aceitar que meu passado pode ter, sim, uma solução que o futuro que me foi retirado agora tem um brilho a mais e — finalmente — a minha marca.

Mudei meu presente, com gosto e com um prazer que jamais imaginei que pudesse sentir!

Humanos são capazes de guardar tamanho prazer?

Me surpreendi por tudo que encontrei. E, nesse caminho louco de aventuras perdidas e de um presente a ser transformado, eu mudei a vida.

Eu era uma criança normal, sabe? Cresci com muito amor e carinho dos meus pais. Esses eram dois malucos por jogos de rpg de mesa e cartas colecionáveis, eu apenas segui o fluxo e acabei aprendendo por tabela.

Papai me ensinou tudo que eu precisava saber sobre rpg, mais precisamente sobre Dungeons & Dragons, me mostrando que haviam outras opções de mundo fora a que nós estávamos acostumados a viver. Sempre gostei disso, e meio que essa realidade paralela fazia parte da minha vida.

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