2| Os Ingressos

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Minha última sessão com a senhorita Rebbeca não foi das mais interessantes. Quase sempre eu saía com algumas dúvidas do consultório, mas dessa vez foi pior, saí mais confuso do que entrei. Falei à ela sobre minha última crise. "Achei que tínhamos superado isso, Will. Precisamos rever algumas coisas". Precisávamos rever várias coisas pra falar a verdade. Não apresentei nenhuma melhora em relação aos sintomas físicos nos últimos meses. Merda! De acordo com ela era por que não estava reproduzindo em outros ambientes o que era determinado nas sessões. Talvez isso fosse verdade, já que eu evitava me enturmar ou fazer novas amizades. Sempre na zona de conforto.

Sabia que ela era a única que me entendia, mas às vezes me irritava com suas falas. Eram muito complexas. "Lide com as inseguranças que o assolam, Will". Nada de mamão com açúcar.

Droga! Estou até pensando em levar um tradutor nas próximas sessões. Talvez ele consiga compreender o que ela fala e possa verter pra mim.

***

Intervalo.

-Aí, Will. - era Mike. -Cara, temos que encontrar Ester, precisamos pegar nossos convites.

-Convites? Pra quê? - perguntei.

-Pra festa, é claro! Pra quê mais seria? -rebateu Mike. -Ela vai dar uma festa esse fim de semana e vai ser "SUPER"! -Ester sempre dava festinhas quando seus pais viajavam à trabalho.

-E por acaso fomos convidados?

-Óbvio que sim. -tinha algo estranho aí.

-Sem chance! -falei. Mike me olhou com uma cara estranha, como se me pedisse pra acreditar nele.

-Tudo bem! -cedi. - Eu a vi no refeitório. Ela tava com a galerinha dela.

-Então vamos até lá. Ela vai nos entregar os ingressos pessoalmente.

Saímos do corredor do terceiro ano e nos dirigimos ao refeitório. No intervalo os corredores viravam uma bagunça.

-Olhem só galera, se não são "Mike Engraçado" e seu comparsa "Will Nervosinho", a dupla dinâmica. -disse Kall para seu grupinho de amigos. Nunca conseguia entender qual era seu superpoder. Sempre ficava em dúvida se era ser estúpido ou ser um gênio quando a paleta era criar apelidos sem graça.

-Se manca, cara. -disse Mike.

-Uou. Parece que "Mike Engraçado" não tá de bom humor hoje. É melhor a gente se mandar ou ele pode nos destruir com uma de suas gírias maneiras. -zombou Kall. Em seguida tomou meu boné. O sangue subiu a cabeça, os nervos ficaram à flor da pele, dei um passo à frente e encarei Kall, nossos rostos muito próximos. Podia sentir sua respiração, tranquila, pausada, e ele provavelmente ouvia a minha, ofegante, tensa, descoordenada.

-Calma cara! - Mike nos afastou.

Era o que Kall queria. Ele adorava nos provocar. Era um dos seus passa tempo.

-Deixem eles em paz! - agora era Ela que chegava e já entrava na conversa. Tirou a atenção de nós dois e chamou pra si. Tinha muita atitude.

-Hahaha! - Kall riu. - A nova esquisitona.

Ambos se olharam por alguns segundos. Kall foi em direção a Ela. Dei mais um passo a frente. Will segurou meu braço.

-Olha aqui, garota esquisita. Se você tá achando que chegou agora e já vai dar as cartas no pedaço só por que sua irmã é amiga da galera. Você tá muito enganada.

Kall era muito maior que Ela, mas aparentemente não a intimidava. Imediatamente ficou nas pontas dos pés para se aproximar do rosto dele. Faíscas saíam do contato visual que estavam por manter.

O FENÔMENO "Ela"Onde histórias criam vida. Descubra agora