4| A Festa - Parte II

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Os olhos arregalados na altura do meu queixo me encaravam, fazia cara de brava tentando imitar alguém, os braços meio abertos lutavam para deixar sua aparência mais durona, sua jaqueta de couro, uns dois números maiores do que de fato usava, ficava um pouco folgada. O coração acalmou um pouco, mas meu corpo ainda continuava em alerta.

-Você por aqui... - falei.

-Ah, é! Não consegui bolar uma boa desculpa para não vir, então... - argumentou Ela.

-Quer dizer que você ganhou um ingresso?

-Sim, ganhei. Por quê a surpresa?

-Eu achei que Ester só estivesse dando ingressos pra... - percebi a merda que ia falar, então cortei a fala pela metade.

-Para quem é popular. Eu sei - Ela completou.

-Não foi o que eu quis dizer. -tentei concertar o que havia dito.

-Claro que foi, relaxa, não me importo. Provavelmente não ganharia ingresso algum se minha irmã não pedisse pra deixarem um pra mim.

-Sua irmã também veio? - perguntei. a única coisa que sabia era que Ela tinha uma irmã popular, isso por causa da vez que se estranhara com Kall e ele acabara falando, mas não fazia ideia de quem fosse.

-Sim, Ali! - Ela apontou para Ester e Cloe que ainda conversavam. Fiquei animado, pois se ela fosse irmã da Cloe, poderia ajudar a me aproximar. Diferente de Mike, mesmo percebendo que estava apontando para alguém, não se envergonhava e continuava fazendo.

-Você é irmã de uma das duas?. -"tomara que fosse da Cloe, da Cloe, da Cloe" pensei.

-Não,bobinho , delas não. Mais atrás.

Olhei um pouco de lado e pude ver que uma garota e um garoto conversavam mais atrás. A garota eu conhecia, se chamava Olívia, estudava no terceiro ano "b", amiga de Ester e tão popular quanto. Deve ser muito legal ter uma irmã popular como Olívia, ela era diferente dos outros, era uma das poucas pessoas legais entre eles.

Olívia percebeu que Ela apontava e veio em nossa direção.

-Parece que minha maninha tá fazendo amizades. É bom saber! - exclamou Olívia.

-Ah, é. Esse é o Will. - disse Ela.

-Já nos conhecemos, não é mesmo, Will? - disse Olívia com um sorriso estampado e um rosto muito amigável. - Já havia te dito que ele é uma ótima companhia quando você me falou sobre a última vez que se viram.

Ela corou.

-Ops, acho que não deveria ter dito isso. Ou será que deveria, dona Isabela? - Olívia abriu um sorriso e deu uma piscadela para Ela, que ficou ainda mais vermelha, foi a primeira vez que a vi encurralada. Mas o que eu não percebi é que nesse momento também havia corado.

-Awn, olha só os dois vermelhinhos. Então... missão cumprida. Agora é com vocês, haha (risos). Vou indo, se precisarem de alguma coisa podem falar.

Uma pausa se perpetuou entre nós. Nenhum dos dois queria falar algo que se comprometesse. Ela quebrou o silêncio

-Minha irmã e sua obsessão que eu me encaixe em algum grupo. Ás vezes até tento me enturmar só pra ela ficar mais tranquila, sei que ela não gosta de me ver avulsa.

-Entendo. - eu realmente não sabia o que dizer.

Ficamos ali por mais alguns segundos até que ela decidiu dar uma volta, provavelmente ainda estava um pouco envergonhada. Eu também saí, não me dei conta de que tanto tempo havia passado enquanto conversávamos e sem falar que tinha perdido Mike de vista. Fiquei ainda mais preocupado quando encontrei Alice que saía da cozinha sem nenhum sinal de Mike por perto. Continuei a procurar.

A fila pra entrar no banheiro era enorme e mesmo depois de ter olhado pessoa por pessoa, não o encontrei. Deduzi que não estava dentro da casa, então resolvi procurar lá fora.

No jardim de frente à casa não estava. Dei uma volta ao redor do imóvel, até que cheguei a garagem que permanecia aberta desde que chegamos. Lá estava Mike, mas não sozinho, encontrava-se arrodeado pelos amigos de Kall, porém, este não se fazia presente.

Travei. Sabia que precisava ajudá-lo, mas não conseguia me mexer. Me senti impotente. Droga, droga, droga. Minhas mãos suavam sem parar, não poderia ter uma crise agora, não agora, não no momento que meu melhor amigo mais precisava de mim. Droga, droga, droga. Maldita TGA!

Não podia ouvir o que eles falavam, mas pela cara de Mike não eram coisas boas. Um dos caras o empurrou, nesse momento pôde me ver, mas não por muito tempo, pois em seguida já recebeu outro empurrão e imediatamente desviou o olhar.

Apenas observar enquanto aquilo acontecia não era uma das opções. Abaixei a cabeça e tentei me concentrar, era difícil fazer isso quando seu cérebro estava a mil e o barulho quase não permitia que pudesse ouvir meus próprios pensamentos.

Em um momento de fúria, meu corpo começou a andar, se movimentava no automático. Fui em direção ao grupo que oprimia Mike. Imbecis. Precisava arrebentar pelo menos um deles, mesmo que os outros acabassem com nós dois.

-Aí, acéfalos. - provavelmente não entenderiam a ofensa, então decidi xingá-los no popular mesmo. - deixem ele em paz, babacas.

Entrei no círculo e me juntei a Mike. Ambos aflitos, no centro.

O grupo de acéfalos fechou ainda mais, e ficamos quase sem espaço.

-Olhem só quem chegou pra salvar seu parceiro, "Will Nervorsinho". - a única certeza que eu tinha é de que não era Ela, dessa vez pude reconhecer a voz e não fiquei nenhum pouco contente. Em minutos ou talvez segundos a situação se agravaria. Merda! Sabia que não deveria ter vindo à essa festa.

Próximo capítulo: A Festa - Parte 3 (última parte)

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⏰ Última atualização: Sep 17, 2017 ⏰

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