02 - Mari

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Juan permitiu que eu dormisse na casa dele. Até por que eu não teria para onde ir mesmo. Ele preparou um quarto disponível na casa dele e me emprestou uma camiseta dele já que eu não tinha outra roupa a não ser aquela que achei na mochila quando acordei ontem. Despertei de manhã com o sol batendo em meu rosto. Esqueci de fechar a cortina. Levantei-me e coloquei a roupa que estava antes e fui até o banheiro que fica em frente ao quarto, do outro lado do corredor.

Olhei-me no espelho e tentei pensar no meu passado e nada me vem à mente. Minha cabeça dói desde ontem quando acordei naquele beco e doeu mais ainda depois que descobri o meu "poder", se é que isso é um. Eu quase não consegui dormir esta noite pensando em tudo o que aconteceu nas ultimas 24 horas. E se eu nunca descobrir quem sou? Se eu nunca me lembrar do meu passado? Será que tenho família? Será que alguém procura por mim? E a voz que ouvi ontem antes de desmaiar nos braços de Juan? Será que conheço? Será que era alguém importante pra mim? Tudo o que eu precisava agora é de uma lembrança, minha de preferência, e talvez eu descobrisse mais sobre mim.

A carta de L não foi muito útil já que não me diz quem sou. Mas L – seja quem ele for – me indicou um amigo que pode me ajudar. Tudo bem que ele provavelmente vai me dar uma identidade falsa e não me falar sobre meu passado, já que é isso que L me aconselhou a não fazer, procurar meu passado.

Saí do banheiro e senti um cheiro bom no ar. Segui o cheiro em direção à cozinha e me deparei com Juan vestido em uma calça de moletom cinza e uma camiseta branca. Ele esta de costas no fogão preparando algo. Me senti muito agradecida a ele por ter me ajudado sem ao menos me conhecer, e isso me ajudou a ter mais confiança nele. O fato de ele ter confiado em mim tanto pra me trazer até a casa dele desacordada, quanto para compartilhar suas memórias comigo e não surtar depois que eu revelei o pouco que sei sobre mim a ele.

Ele se virou segurando uma frigideira com ovos e me encarou.

— Ah, oi. Bom dia. – me cumprimentou com um sorriso.

Dei um sorriso fraco, ainda estava muito confusa e tentando organizar as ideias na cabeça.

— Bom dia – respondi olhando ao meu redor, a cozinha, apesar de tudo, estava perfeitamente arrumada.

— Dormiu bem?

— Sim – menti.

— Você não está com uma cara muito boa. Sente-se, fiz ovos mexidos. – disse ele me mostrando uma cadeira na sua frente.

Me sentei na mesa e ele serviu ovos mexidos, bacon e pão pra nós dois e se sentou na minha frente.

— Café ou suco? – ele perguntou se servindo de suco.

— Café – respondi automaticamente – eu acho.

Ele riu baixo.

— Então, o que faremos hoje? – perguntou.

— Podemos ir até o amigo que L me indicou. – ontem ele me perguntou se eu sabia quem era ele, respondi que não tinha nada descrito sobre ele na carta.

— E onde ele mora?

— Em frente à Praça do Memorial Richard Flind. Você sabe onde fica?

— Ah, sei sim. Fica apenas meia hora daqui se formos andando. Ou uns dez minutos de carro. Mas meu carro está na oficina hoje.

— Então você pode me levar até a praça? – ele me olhou por um momento, fingindo considerar se iria ou não me levar.

— Claro – disse sorrindo - Termine seu café e nós vamos.

***

Terminamos o café da manhã e logo saímos. Juan mora em um bairro residencial muito bonito, cheio de árvores e praças verdes. Ele andava num ritmo um pouco acelerado e eu custei a alcançá-lo algumas vezes. Aquela cidade tinha várias árvores, que proporcionava um ótimo ar fresco, é estranho mais sei de tudo isso, mas ao mesmo tempo não sei de onde. Algumas coisas eu simplesmente sei, por exemplo, o ar, sei que ele é puro porque bem no fundo algo me diz, então concluo que esse ar é puro.

Projeto CronosWhere stories live. Discover now