Era um lugar parcialmente escuro. Quer dizer, eu acordei num lugar não tão escuro assim, já que havia um fiozinho de luz lá vindo de alguns cantos, que me permitiam ter uma pequena noção das coisas ao meu redor.
Não era propriamente confortável, mas servia. Dei um suspiro profundo ao constatar que estava sozinho. Havia uma... Alguma coisa que deve se chamar mobília ou algo do gênero ao meu lado, que sinceramente eu não sabia de onde tinha vindo, e uma garrafa de um líquido cuja cor eu não consegui distinguir.
Encarei a parede ao meu lado. Era algo parecido com um cubículo, com uma parede atrás e uma de cada lado meu. Eu tinha a impressão de que sabia o nome daquele tipo de lugar, e que estava fazendo papel de bobo na minha própria mente. Olhei para a "mochila" — esse deve ser o nome correto — e a abri. Tirei alguns papéis, jogando-os ao meu lado, e voltei o olhar para um saco de alguma coisa.
Batata frita!
Abri o saco e inspirei o doce aroma de fritura. Embora em não soubesse o nome do tipo de lugar onde estava eu tinha algum tipo de noção que tinha que me alimentar e que, provavelmente, eu não comia faz um bom tempo.
Peguei uma das batatas e mordi. Tinha um gosto de coisa velha, mas eu não liguei. Enquanto mastigava, voltei o olhar para os papéis ao meu lado.
O primeiro era algo como uma certidão de nascimento, mais algumas frases haviam sido ocultadas. As únicas que eu consegui distinguir de primeira olhada foram: "O nome do citado a seguir, Julian [...] nascido em 1999". Havia um grande espaço depois da palavra Julian e antes da data de nascimento, o que me fez concluir que ali antigamente ficava o meu sobrenome. É, eu já tinha concluído que meu nome era Julian, não havia outros motivos para eu estar com aquele documento em mãos. Os detalhes da minha aparência tinham sido ocultados também, mas uma das minhas poucas memórias era o meu cabelo curto, liso e castanho claro que combinavam com os meus olhos, as curvas do meu rosto e minha altura, que não era nem alta nem baixa demais.
Havia mais alguns outros papéis, todos com o mesmo problema de ocultação. Uns As ou Os, além de outras vogais, às vezes ficavam de fora, como se não fossem importantes. Ainda faltava um papel, e talvez eu o tivesse aberto, se uma voz rouca e grave não preenchesse o cubículo.
— Quem está aí?
Pensei em uma coisa suficientemente inteligente para dizer, mas antes que tivesse chance, uma luz se projetou contra meu rosto.
— Saia daí, garoto.
Quem falava era um homem que daria, tranquilamente, uns trinta de mim. Era musculoso, com cabelos curtos e negros, com pequenos fios grisalhos crescendo.
Ele não parecia caber no cubículo, então fez sinal para que eu o seguisse em direção à luz. Joguei todos os papéis dentro da mochila, além do pacote de batata frita, e me esgueirei até lá. Quando saí, imediatamente senti a luz do sol contra meu rosto.
— Seus pais sabem que você anda feito um mendigo na rua?
Levei um tempo pra conseguir fixar o olhar nele, e acho que não o estava encarando de forma muito agradável.
— Responda em vez de fazer cara feia! – grunhiu, me fuzilando, os olhos brilhando de fúria.
— Eles estão... Por aí. — Tentei parecer um garoto normal e soar indiferente, mas acho que não saiu como o esperado.
— Saia imediatamente daqui – ordenou, erguendo um bastão. — Se eu te pegar em outro beco, juro que você vai ser seriamente castigado. — Então começou a resmungar: — Em pleno ano 2030, ainda tem gente assim!
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Projeto Cronos
Teen FictionDepois de acordarem misteriosamente em um beco, Julian e Mari não se lembram do que aconteceu e nem aonde estão. Logo descobrem que estão no futuro e que suas memórias foram apagadas, e eles não estão sozinhos. Ambos possuem poderes, Mari pode ver...