RIO DE JANEIRO, 11 de agosto de 2022.
- SAIA DE CIMA DELA AGORA MESMO, SUA ABERRAÇÃO! - escutei um grito firme, mas jovial, vindo de algum lugar próximo.
Aquele lobo nojento ainda estava sobre mim. Ele realmente achou que eu não iria resistir a sua tentativa fervorosa de me violentar?! O corpo antropomórfico dele sobre o meu, todo aquele pelo acinzentado, começava a causar um certo enjoo dentro de mim. Era como se eu fosse vomitar só de imaginar a cena. Aquele troço mutante tentando "entrar" em mim. E toda aquela saliva escorrendo do canto da boca dele e pingando no meu pescoço. Nossa, repugnante! A face do animal estava muito próxima da mim, parecia até que ele iria me beijar, ou me morder.
- Saia, humano. Ela já tem dono! - o lobo falou de forma arrastada, com uma voz robotizada, como se fosse uma gravação. Mas seus olhos mostravam que era real.
- Eu não vou repetir! - a voz disse com mais firmeza.
O lobo saiu de cima de mim e se virou na direção da voz. Pude ver, então, quem era. Robin Silva. Fazia muito tempo que não o via. Pensava até que estava morto. Mas pelo visto estava vivinho da Silva. E completamente transformado. Da última vez que o vira, era um esqueleto, agora, seu corpo estava mais definido do que um artigo "a" ou "o". Ele estava gato demais. E naquele momento eu queria que aquele lobo idiota desaparecesse para termos uma cena de amor ardente no meio daquele mato idiota.
- Ora, ora! Quem você pensa que é, humano? Acha que só porque ela é uma de vocês, não posso me divertir? - eu poderia dizer que era até um pouco pervertida a forma que ele pronunciava as palavras; era como se ele estivesse passando por um eterno orgasmo.
- Acho melhor você ir embora antes que eu arranque sua cabeça.
- Vejamos... - o lobo repousou a mão sobre o queixo, como se estivesse analisando a situação - Não!
- Depois não diga que eu não avisei.
Robin caminhou furtivamente em direção ao lobo e sacou uma faca de uns cinquenta centímetro. Passou pelo lobo com uma maestria solene e só pude ver a cabeça do lobo caindo ao chão, e fazendo um barulho surdo. Fiquei boquiaberta com a agilidade e habilidade que ele possuia com aquela coisa em suas mãos. Fiquei me perguntando onde ele aprendera tudo aquilo. Era sensacional.
- Você está bem, Mel? - Mel?! - Quero dizer, Melissa. Você está bem, Melissa?
- Sim. - sussurrei.
- O que você está fazendo sozinha aqui no meio do nada? Enlouqueceu? Quer ser morta por alguma besta? Ou pior...
- Eu não estava sozinha... - sussurrei novamente.
- Como assim?! - Robin me olhou desconfiado, talvez um pouco incrédulo por achar que eu me referia a algum garoto.
- Estava com Safira nos rochedos, mas ela saiu correndo, e veio para cá, onde eu encontrei aquilo.- apontei para o corpo do lobo atrás de Robin.
- Safira é...
- Minha gata de estimação. - sua expressão mudou totalmente.
Se algum humano fosse visto compactuando com algum animal racional, deveria ser entregue a Ordem, julgado e condenado. Pois era estreitamente PROIBIDO contato entre ambos.
- Sabe, alguns animais foram encontrados sem a mutação. Foram levados para os laboratórios e foi constatado que eles eram "imunes" a isso. Então foram mantidos vivos, para descobrir o que os faziam ser imunes. Eu adotei Safira após o término das pesquisas com ela. Muitos ficaram receosos em relação aos animais, inclusive os antigos donos dela. - expliquei.
Robin, de uma certa forma, relaxou. Acho que ele já deveria ter imaginado uma forma de me imobilizar e carregar até a sede da Ordem, que fica no antigo Centro da Cidade.
- É uma atitude legal da sua parte ter ficado com a gata.
- Valeu.
- Ele te machucou?!
- Não. Você chegou bem na hora. Não consigo imaginar o que poderia ter acontecido se você não estivesse aqui. - declarei.
- Ele parecia um pouco "aceso". Acho até explicável tratando de você.
- O que quer dizer com isso?
- Bom, você é atraente, Melissa. Até um lobo quis ter algo com você. Isso diz muito.
- Sim, claro. Diz muito. Um lobo tarado quase me estupra e você quer ficar reparando no fato de eu ser bonita. Muito normal isso. Muito normal mesmo, Robin. - ironizei.
- Desculpa. Não quis te ofender nem desrespeitar. Foi mau!
- Tudo bem...
- Então, vamos?! - Robin estendeu a mão.
A segurei. Ele me conduziu ao seu veículo. Ele era um zelador. Por isso desaparecera por tanto tempo. Eu não soubera de nada. Robin tinha apenas dezenove anos. Tínhamos a mesma idade e eu não era nada. E ele era um zelador. Me senti tão estranha que foi óbvio que havia algo errado. Sentei no seu veículo completamente muda.
- Então, virei um zelador. Isso não é surpreendente?! - Robin exclamou empolgado.
- Sim! - disse subitamente, espontaneamente.
Ele começou a rir. Uma risada gostosa e completamente natural.
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RIO
General FictionNum mundo totalmente devastado por uma Peste, alguns poucos humanos lutam pela sobrevivência da raça. Animais antropomórficos, geneticamente modificados, são os principais inimigos da humanidade. Como superar essa nova fase do planeta Terra? Como so...