RIO DE JANEIRO, 01 de junho de 2027.
- Onde está a humana?! - o Alfa perguntou corriqueiramente.
- A Escolhida está reclusa onde o senhor disse para a deixarmos, senhor. - um lobo qualquer respondeu.
- Eu estou aqui! O que quer?! - o surpreendi com minha presença inesperada.
O Alfa me olhou, com uma sobrancelha levantada. Um leve sorriso apareceu em seu rosto por alguns segundos.
- Então, o que quer comigo? - perguntei me aproximando.
O Alfa se levantou e desceu do trono da mesma forma como sucedera no dia anterior. Andou na minha direção, parou no meio do caminho, e ficou me analisando.
- Está com fome? - perguntou subitamente.
Eu não havia comido nada em 48h. Realmente não estava preocupada com isso. Mas, no momento que ele falou aquilo, notei que meu estômago roncava desenfreadamente. Mas não queria dar o braço a torcer. Muito menos para aqueles lobos idiotas. E eles eram lobos, não poderiam me oferecer nenhum tipo de comida além de carne crua e podre.
- Você não pode me oferecer o que eu quero. - disse, ambiguamente.
- O que você gostaria de comer?!
- Eu não tenho fome, cachorrinho. Tenho sede de justiça! E eu vou saciar minha sede quando decapitar todos vocês, vira-latas! - provoquei.
O Alfa partiu rapidamente para cima de mim. A única coisa que senti foi suas unhas entrando em minha carne e fazendo meu sangue escorrer por meus braços, sujando as mangas da blusa azul que eu usava. Ele me derrubou no chão e ficou sobre mim como se fosse me devorar. Seus dentes se abriram num rosnado ameaçador. Mas algo em suas feições me fez sentir tranquilidade. Só naquele momento fui notar que os lobos usavam bermudas rasgadas. E que uma parte de seu braço, ou perna(?), estava sem a pelagem albina. E que havia um número gravado em sua pele. Seus músculos eram ressaltados, quase não dava para esconder a "tatuagem numérica". Um símbolo dos primeiros animais que entraram no Setor de Pesquisas antes do vírus implodir e os tornar completamente mutantes e bizarros. E fazê-los fortes o suficiente para conseguirem sair dos laboratórios.
- Você fala de justiça. Acha que seria justo eu arrancar sua cabeça agora por você ameaçar meu povo de morte?! Ou quando se trata de vocês humanos, a justiça só se aplica quando é favorável?!
- Me mate. Será melhor para vocês.
- Você realmente quer morrer?!
- Prefiro a morte do que viver com vocês!
O Alfa rosnou novamente.
- Ótimo!
O Alfa se pôs de pé na minha frente. Olhou para os outros lobos de forma sublime, incompreensível. Então eu senti. Era a permissão que ele queria. Seus dentes rasgaram meu ombro, e arrancaram minha pele. Formando uma grande marca. Meu grito saiu mudo. Urrei de dor, mas o som não parecia sair de jeito nenhum. Aquele lobo desgraçado havia me matado sem precisar, literalmente, tirar a minha vida. Tudo parecia estranho. Meus olhos começaram a girar. Um torpor tão profundo que mal conseguia ficar acordada.
- Seu desgraçado... - sussurrei, meio grogue.
"Você é minha agora!", ouvi sua voz no meu consciente.
- Eu te odeio!
"Me diga algo que eu não sei."
- Quero comer frango!
"Já pedi para trazerem."
- Como sabia o que eu quero?!
"Você está repetindo isso a horas."
- Me leva para cama. Estou com sono...
"Você só quer dormir?! Podemos nos conhecer melhor."
- Vai à merda!
- Já estamos na merda. Só que eu tenho um trono. E você não.
- Eu vou acabar com o seu trono. Vou fazer você vê-lo cair sobre a terra. Você vai chorar sangue, seu animal asqueroso...
- Ah, é? E como você vai fazer isso?!
- Vai se foder, imbecil!
- Eu quero te foder!
- Tenta! - o provoquei.
Senti, então, seus braços me pegarem no colo e começarem a me levar para algum lugar desconhecido. Um medo enorme surgiu em mim e comecei a rir de desespero. Aquele lobo nojento não poderia encostar um dedo sequer em mim, eu não permitiria. Cortaria sua pata fora se fosse necessário.
Chegamos numa espécie de quarto de pedra mármore. Muito bizarro e exótico ao mesmo tempo. O Alfa me pôs sobre a cama de pedra e ficou parado diante de mim. Começou a tirar a bermuda mequetrefe que usava. E eu quase comecei a surtar.
- O que você acha que vai fazer, seu pervertido?!
- Você disse para eu tentar. - o Alfa disse tranquilamente.
- Se você encostar em mim, eu te mato! - já estava mais lúcida - Eu sou comprometida.
- Sim, você é minha. Tenho total posse. Acho muito bom você já saber disso, Melissa.
Olhei para ele, temerosa.
- Essa marca em você, a faz ter um dono. Eu. Ninguém vai tocá-la além de mim. Ninguém poderá fazer qualquer tipo de dano, além de mim. Nem seu namoradinho inútil terá forças para tocar em você. Apesar que ele morreu, não é mesmo?! Então, realmente, não terá forças. Qualquer humano será inferior, por isso, não poderá tocá-la. A não ser que você peça. Mas não vai pedir. Pois agora tem uma parte minha, e isso vai modificar quem você é. E como eu não quero que permita ninguém te tocando além de mim, você não permitirá. Você me obedecerá, ou eu terei que fazê-la entender que sou eu quem mando?!
Engoli em seco. Realmente não queria ter que passar por uma "lua de mel" com um lobo.
- Disse que eu não seria sua escrava sexual. Você não cumpre com o que diz?
O Alfa soltou uma espécie de risada/ronronar. Seus olhos eram intensos. Tão escuros e brilhantes.
- Você está com medo de trair sua espécie. De trair a memória que tem do outro zelador. Tem medo de descobrir que os humanos estavam errados ao caçarem os animais. Que vocês sempre estiveram errados. E que a culpa de tudo o que há hoje, é exclusivamente de vocês. Tem medo de saber que tudo o que vocês construiram foi sobre uma grande pirâmide de mentiras e ilusões. Eu te compreendo. Também teria medo se fosse você, Melissa. Mas agora as coisas mudaram. - ele fez uma pausa longa - Você trabalha para eles a anos, e no primeiro ataque radical eles te deixaram para morrer. Você e seu companheiro. Acha isso justo?! E se eles não encontraram seu corpo, deveriam, pelo menos, procurá-la. Mas eles não fizeram isso, ou fizeram?! Estou te dando uma oportunidade de viver. Não é justa, mas é a única coisa que você tem agora. Se eu fosse você, pararia de nos insultar e começaria a tentar entender o que está acontecendo. E qual é o seu papel nesta história.
VOCÊ ESTÁ LENDO
RIO
General FictionNum mundo totalmente devastado por uma Peste, alguns poucos humanos lutam pela sobrevivência da raça. Animais antropomórficos, geneticamente modificados, são os principais inimigos da humanidade. Como superar essa nova fase do planeta Terra? Como so...