Uma gota de água

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Hoje, durante o banho, eu te vi numa gota de água.

Pode parecer loucura e talvez até seja, mas eu tenho certeza que era você.

Eu estava de frente, nua, sentindo a água quente deitar pelo meu corpo como uma criança deita no colo de sua mãe. Eu estava lá, com a cabeça baixa, esperando que as águas pudessem levar consigo todos os pensamentos absurdos que rodeavam a minha cabeça.

Meus olhos fechados não me permitiam ver nada além da escuridão. Eu me fechava naquela escuridão, queria vivê-la cada vez mais. Queria me deixar levar para a escuridão. Queria que a escuridão me consumisse por completo.

Então, eu senti a água caindo no meu pescoço e escorrendo pelo meu colo. Senti a água serpenteando por meus flancos e caindo como cascatas até chegar ao chão. Senti meu corpo negar a água que corria por ele e arrepiar cada pelo que pudesse ser arrepiado. E contrair cada músculo que pudesse ser contraído.

Num espasmo involuntário, algo como um calafrio na espinha, eu abri meus olhos e a claridade tomou conta de mim novamente. A água que escorria de minha cabeça até meus pés se misturou com a água que rolava de meus olhos, como pedras em desfiladeiros. Não tinham direção específica e nem tentavam acertar alguém importante, apenas seguiam o fluxo que lhes era ordenado.

E, de alguma forma, pude ver uma das gotas de água que escorreram de meus olhos. A gota teimosa se agarrava com todas as forças que tinha no registro do chuveiro. Ficou ali quase imóvel, brigando com a gravidade.

Naquela gota, talvez como fazendo um reflexo de mim mesma, eu te vi.

Lá estava você, olhando pra mim, através de meus próprios olhos. Eu te vi olhando para mim da mesma forma como eu provavelmente olho pra você. Eu senti algo como o medo, o terror, a angústia.

Porque você tinha que estar ali? Mesmo quando os meus pensamentos não devem estar em você, existe uma força que os puxa de volta para a sua imagem, existe uma força que me guia até o começo de sua existência.

Porque você tinha que estar ali? Eu não queria pensar em você naquele momento. Eu não queria pensar em nada, na verdade. Mas mesmo quando eu não quero pensar em nada, meu coração guia os meus pensamentos até você.

Guia todas as partes do meu corpo para desejar para fazer com que você seja a pessoa que eu mais quero ter.

Então, te ver naquela gosta pode ser algo intencional e autoritário. Algo incontrolável. Uma força inacreditável, como a força que guia um sedento a satisfazer os seus desejos, seja eles quais forem. Uma força tão forte como um imã atraindo uma grande peça de metal.



Querida MiragemOnde histórias criam vida. Descubra agora