Paredes

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Agora eu sinto como se quisesse ter passado mais tempo com você.

Me culpo todos os dias por não ter te dado toda a atenção que você me pediu. E não só porque você estava pedindo atenção constantemente, não só porque você precisava de atenção. Estar com você era algo que eu queria fazer, de verdade.

Quanto tempo será que eu levei pra perceber isso? Por quanto tempo será que eu te afastei de mim sem pensar no quanto você precisava de atenção?

Você precisa entender que nós nos vimos algumas vezes, claro que tentando sempre não atrapalhar a rotina de um dos dois. Nos vimos rapidamente, é verdade, e normalmente saímos qiando havia algo importantr pra faxer na rua. Juntavamos o util ao agradavel, talvez.
Talvez por isso eu não entendi quando você pediu pra te dar mais atenção.

Acabamos numa mentira mau contada. Mentíamos pra nós mesmos que o relacionamento estava bom, que a nossa pequena casa ainda estava inteira. Mas não estava.

A cada dia um tijolo se quebrava e ia ao chão. A cada dia as paredes rangiam mais alto, os vidros estilhaçavam, os móveis iam se quebrando mais e mais. No começo, quando um tijolo ia de encontro ao chão nós conseguíamos recolocá-lo e parecia que estaria tudo bem, mas uma pequena brisa levaria o tijolo ao chão novamente. Essa repetição tornou-se inaceitável e passamos a simplesmente deixar os tijolos cair um atrás do outro.

Estar junto passou a não ser mais suficiente. Mesmo que houvessem toques, beijos, palavras de conforto e abraços apertados. Mesmo que nesses poucos momentos os tijolos parecessem firmes e unidos, nós sabíamos a verdade. Sabíamos de cor quantos tijolos ainda restavam de pé e quantos ja davam sinais de fraqueza.

Nós não éramos mais um casal feliz. Na maior parte do tempo me perguntava se ainda éramos um casal.

Continuamos a mentir para encobrir as mentiras que já tínhamos contado. Como se mentir mais fosse tornar as mentiras anteriores mais aceitáveis. Claro que, por um tempo a mentira parecia ser a melhor opção.

A mentira de um relacionamento perfeito passou a ser menos deprimente do que viver o relacionamento que tínhamos. Aquela mentira nos manteve juntos por mais algum tempo, mas lembra que "toda mentira tem perna curta"? Porque será que achamos que com essa seria diferente?

Quando eu percebi o que fizemos e tentei corrigir já era tarde demais. Quanto mais eu me aproximava mais distante nós ficávamos. Criamos uma muralha de gelo no meio da nossa pequena casa.

Já não havia mais espaço pra nós dentro da casa. Tudo o que podíamos fazer era olhar pelo lado de fora, cada um de um lado, tentando enxergar o outro por cima da muralha. Mas é claro que não conseguiríamos. A muralha aumentava enquanto a estrutura da pequena casa desmoronava.

Nesse momento, já não havia mais o que fazer, não conseguia mais ver uma solução. Não conseguia mais pensar em nada que pudéssemos fazer pra ficar mais próximos.

A tristeza me consumia, meu amor, toda vez que eu via os tijolos quebrados espalhados pelo chão. Eu não podia deixar aquilo acontecer. Era melhor estarmos separados enquanto reerguíamos aquelas paredes, enquanto comprávamos novos vidros e móveis. Talvez a muralha nos impedisse de estar completamente sincronizados, mas o importante é que as duas metades da casinha estivessem inteiras, para que pudéssemos guardar lá dentro todo o amor que compartilhávamos.

Eu juntei os tijolos, recolhi os cacos de vidro e derrubei os tijolos ainda em pé. Eu arrumei mais tijolos e cimento e uma tinta de parede agradável, encomendei os móveis e coloquei a mão na massa.

Em pouco tempo as paredes começaram a ressurgir, mais bonitas, mais resistentes. As janelas estavam de volta ao lugar e a porta estava sempre aberta. Olhando de fora da casa, a muralha parecia menor.

Pintei todas as paredes naquele tom de verde que você tanto gosta, meu amor, e comprei aquela tv que a gente viu junto e você ficou encantada. Um sofá, uma cama e uma mesinha. E a muralha diminuía mais a cada dia. A cada toque novo na nossa casinha.

Desenhei em todas as nossas paredes. Até que estava um trabalho bem feito, todos aqueles detalhes, a perfeição em casa traço. Não que estivesse perfeito, longe disso. Na verdade, eu até achei que você riria quando visse mas o que vale é a intenção.

Eu fiz tudo o que podia fazer. Até um vaso com as flores que você tanto ama eu coloquei sobre a mesa. Agora eu só podia esperar por você, meu amor.

Agora eu só poderia deitar sozinho na nossa cama, sentar sozinho na nossa mesa, assistir sozinho na nossa televisão todos aqueles programas e filmes que costumávamos assistir juntos. Eu com certeza estava triste, sozinho, abandonado, desesperado.

Tudo o que me mantinha em pé era a certeza que você estava fazendo a mesma coisa do outro lado da muralha. Nos dias frios eu sentava com um cobertor no sofá e ficava olhando pro outro lado da muralha. Ficava imaginando o que você estaria fazendo.

Nos dias quentes eu tinha muito trabalho do lado de cá. Água escorria da muralha de gelo, molhando tudo o que havia pela frente. Eu tenho certeza que você só deitava na água e curtia o geladinho. É muito a sua cara.

Eu voltei a trabalhar, sabe? E agora eu consigo me concentrar na faculdade de novo. Ainda continuo sem amigos reais, mas você sabe que eu converso melhor por mensagens do que pessoalmente e isso continua me atrapalhando.

Eu ainda sinto sua falta, meu amor. E a nossa muralha virou um muro normal. Quanto tempo será que falta pra gente ficar junto de novo?

A ansiedade me consumia de uma forma muito estranha. Todos os dias eu acordava e olhava praquele muro que nos dividia e ansiava pelo seu sumiço. Não conseguia mais aguentar.

Até que um belo dia ao acordar de manhã, o muro não estava mais ali. Eu tinha uma visão maravilhosa do horizonte. Horizonte?

Você estava ali, dormindo no chão, perto de uma pilha de tijolos e cimento. Com os cabelos desgrenhados, as roupas rasgadas e a casa pela metade. O que será que aconteceu esse tempo todo com você, meu amor?

Eu superei, me reergui, reconstruí metade da casa, pensei em você todos esses dias. E você apenas entrou em agonia. Se desesperou sozinha, sem ter ninguém com quem conversar. 

Oh, meu amor, se eu soubesse teria dado um jeito de voltar antes para os teus braços. Se eu soubesse teria dado um jeito de te chamar de minha novamente.

Eu peço desculpas, meu amor.

Mesmo querendo te ajudar, eu apenas tornei tudo ainda pior pra você. Mesmo querendo te amar com toda minha alma, eu pareço te machucar a cada atitude que eu tome.

Talvez eu deva ir embora para sempre, meu amor. Talvez você fique melhor sem mim...

Olhe em volta meu amor. Tudo ainda está aos pedaços, tudo ainda parece fora de lugar. Me diga, meu amor, o que eu posso fazer?

- Me ame pra sempre, fica comigo pra sempre. E me ajuda a reconstruir a nossa casinha, porque eu não tenho mais forças pra tentar sozinha.

* um grande abraço sela a união de um novo casal.

Querida MiragemOnde histórias criam vida. Descubra agora