LOUISE'S POV
Parecia que havia muita terra em meus olhos, e sentia meu rosto inchado. Estava angustiada pelo que tinha sonhado, e tive medo de abrir os olhos. Respirei fundo, e fiz isso devagar, sentindo uma dor de cabeça muito forte vir sobre mim.
- Se acalme, se acalme. Devagar. - A voz rouca de John me assombrou de novo. Como era possível? Quanto tempo eu dormi? Ele ficou aqui esse tempo todo? Eu estou mesmo aqui? Ele continuou falando. - Olhe, eu preciso que você se acalme. Não sei o que aconteceu, mas tudo é real aqui. Está vendo? Real, real.
Ele segurou meu braço com todo respeito e carinho possíveis. Pude sentir sua mão quente, e não sabia se isso era bom ou ruim. Ele me trouxe um prato com um pouco de uma comida que eu não conhecia, mas insistiu para que eu comesse. Com dificuldade usei o talher, já que minhas mãos tremiam de nervoso. Ele me olhou o tempo todo.
- Ok, vamos conversar agora. - Ele falou quando finalizei a pequena refeição. - Você se sente melhor?
Eu fiz que sim com a cabeça. John era mesmo um médico, e me passava confiança.
- Seu nome é Louise?
Eu fiz que sim outra vez.
- E você veio mesmo do Brasil?
Eu concordei de novo.
- Como você sabe o meu nome?
Dessa vez, fiquei quieta por muito tempo, e ele aguardou a resposta. Tentava desviar dele o máximo possível, mas percebi que ele era tudo o que eu tinha ali, e arrisquei na sinceridade.
- Eu sei que você é um médico e que veio do Afeganistão. Estamos no 221B, um apartamento que você divide com Sherlock Holmes, o detetive consultor que consegue deduzir qualquer coisa usando métodos de observação. Sei que um dia você vai se casar com uma mulher bonita chamada Mary e ter uma filha. - Eu disse, de uma só vez, e me senti o próprio Sherlock. John pareceu assustado, e demorou a falar outra vez.
- Parece que você veio do futuro. - Ele riu, descontraindo. - Escute, não sei como você sabe de tudo isso. Deve ser uma amiga de Sherlock, com certeza.
- É quase isso. Mas não somos amigos. - Tentei me levantar da cama mas senti meu corpo extremamente fraco. John me deitou de novo. - Eu preciso de um celular para ligar para meus pais.
Minha cabeça parecia estar funcionando outra vez, usando a razão e não a emoção para guiar meus passos. John me emprestou seu celular, e usei os prefixos que ele indicou para discar o número do telefone de minha mãe. A voz robótica da operadora disse que aquele número não existia. O pânico me dominou de novo. Não conseguia lembrar mais nenhum número. Usei o celular para me conectar à Internet e logar em uma das minhas redes sociais, mas ambas deram como inválidas. É como se tudo o que eu sou simplesmente não existisse aqui. Como se eu não tivesse nada, ou não fosse nada. Devolvi o celular, em silêncio, e me deitei sobre o lado direito do meu corpo. Precisava saber o que fazer. A jovem moça dormiu outra vez, e então acordou se sentindo revigorada, e já não estava desesperada por estar naquele quarto. Estava quase se acostumando. Dessa vez estava sozinha, e ouviu vozes baixas vindo do outro cômodo da casa. Se levantou silenciosamente, discernindo as vozes de John e Sherlock. Falavam sobre ela. Louise se deteu atrás de uma das portas, no corredor, para ouvir do que se tratava.
- Use o dinheiro para comprar a passagem dela e as coisas estão resolvidas. - Sherlock parecia impaciente, como de costume.
- Sherlock, não basta comprar passagens. E seus documentos? Passaporte, identidade? Ela não parece ter ao menos dezoito anos. Isso pode nos trazer problemas, e vai levar tempo. - John soava angustiado, como um pai.
- Mande-a para o orfanato das freiras. Próxima questão.
- Tenha dó!
Sherlock respirou fundo e disse algo sobre se preocupar com coisas mais importantes. Foi esse resmungo o que fez com que John se levantasse, e acabasse encontrando aquela mencionada na conversa no corredor. Ele pareceu constrangido, e voltou para a sala, junto dela. Sherlock sorriu.
- Sente-se aqui, minha cara. - Ele apontou um sofá que estava diante das duas poltronas.
- Ela não é um cliente, Sherlock. - disse John, sendo ignorado pelo outro. Louise se sentou desconfortável, e se lembrou de todos os casos que foram contados naquele lugar. Estava nostálgica.
- Eu não consigo saber nada mais sobre você, mas John disse que você veio do futuro. Faça algumas previsões, por favor. - Ele soava desdenhoso.
- Moriarty está morto.
Essas palavras foram suficientes para fechar o semblante dos dois homens. Sherlock pareceu inquieto, e Louise tentou descobrir em qual período "da série" eles estavam. Pensou, então, que talvez tivesse a oportunidade de mudar as coisas, de dar outro fim ao enredo. Concluiu, somente, que Moriarty ainda estava vivo. Isso lhe permitiu criar várias teorias simultâneas.
- O que você sabe sobre Moriarty? - Sherlock diminuiu o tom de voz, como se as paredes pudessem lhe ouvir.
- Moriarty é incrível. - Louise sorriu e percebeu que Sherlock havia concordado em um aceno.
- Moriarty tem um cérebro magnífico, de fato. Ele é-
- Uma aranha. - A menina completou a frase, e a sala permaneceu em silêncio.
- John. - Holmes disse após um longo período de reflexão. - Compre algumas roupas para ela. Ficará conosco enquanto sua situação não for resolvida.
-x-
- Oh, John, você tem um gosto muito peculiar para roupas. - A Sra. Hudson riu sarcasticamente ao ver que as roupas que Louise vestiam eram apenas a versão feminina das roupas do próprio médico. Estava agora com uma branca de listras azuis. - Depois eu trago alguma coisa pra você, menina. - Ela sussurrou para Louise, que estava vermelha como um tomate. - Venha comer alguma coisa, minha filha. Sherlock, estou fazendo comida só por causa desta criança, mas eu não sou sua empregada.
A mulher foi-se apressadamente para a cozinha e Louise a acompanhou, em silêncio. Se sentou à mesa e aguardou que o prato lhe fosse trazido. Sra. Hudson se sentou à sua frente, com as mãos no rosto, demonstrando preocupação.
- Você não se lembra de como veio parar aqui, meu bem? De nada? - O silêncio apareceu de novo, e ela continuou. - Não sei como essas coisas estranhas sempre vêm atrás dos meninos. Não sei se é uma boa ideia você ficar com eles... Sabe, eu moro logo aqui ao lado, se você quiser...
A menina engoliu a comida rapidamente para dizer que não havia necessidade, mas que agradecia a preocupação.
- Tudo bem. Eu vou te trazer um casaco, mais tarde. Te aconselho a não abrir a geladeira. Quando precisar de alguma coisa, peça ao John. Ele tem sido um homem amável.
A Sra. Hudson riu e Louise sabia exatamente o por que. Mesmo sabendo o que havia dentro do eletrodoméstico, achou bom mesmo não ir atrás de algo que só havia visto pela tela do computador. A mulher mais velha se levantou dizendo que precisava limpar as coisas, e a deixou ali, sozinha. Havia tantas perguntas na cabeça de Louise! Não conseguia sequer imaginar como tinha chegado naquele lugar, nem se algum dia conseguiria sair. Parecia que fora atingida por um bastão, logo na cabeça. Talvez isso acontecesse em alguma outra série, que ela não assistiu. Mas agora estava ali, e precisava de um plano. John passou pelo cômodo com um jornal nas mãos, e parou próximo onde ela estava.
- Ahn, você pode ficar com o meu quarto, sem problemas. - Ele disse.
- Não! Onde você vai dormir?
John ficou instantaneamente ruborizado e Louise riu, pela primeira vez. Sabia que a casa só tinha dois quartos.
- Por favor, eu não sou gay, está bem? Tenho um colchão.
- Está bem.
- Eu não sou gay.
- Está bem.
O homem se foi balançando a cabeça, constrangido.

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Louise - Sherlock BBC.
FanfictionBaker Street, 2010, Sherlock. Essa se tornou a localização de Louise após concordar entrar em um jogo perigoso, onde ela se tornou alguém que jamais esperava ser. | Fanfic baseada na série Sherlock da BBC.