Eu contei para minha mãe, ao chegar em casa, o que havia acontecido antes. Claro, suavizei um pouco o fato da Luisa ter se perdido e disse que não foi grande coisa, mas a entreguei com relação ao que ela fez com o Jin. Tive que explicar tudo desde o início, desde o "eu e ele somos colegas de classe", até o "estamos no clube de literatura". Pensei que a minha mãe ficaria mais apreensiva sobre sua filha mais nova ter brincado com a informação de sua identidade (apesar da mesma ter jurado que jamais contaria, e só estava querendo se divertir), mas aparentemente sua mente estava em outro lugar.
-Ah, e... esqueci o molho de tomate. Desculpa.- eu apoiei a cabeça na mesa da sala, sentindo subitamente todo o cansaço que o dia me proporcionara.
Minha mãe riu, sentando ao meu lado e passando as mãos nos meus cabelos.
-Você sempre se preocupa com tudo mais que eu. Eu nem lembrava que tinha te pedido pra trazer algo.- ela sorria, exibindo um olhar cansado. Minha mãe já estava em seus quarenta anos, seus fios de cabelo escuros lentamente tornando-se grisalhos. Eu sempre a achei muito bonita, e não consigo conceber o fato de que nasci do ventre daquela mulher maravilhosa. Comparada a ela, eu sou uma batata.
-Você está com a cabeça nas nuvens... de um jeito ruim. Tem algo acontecendo?- perguntei, tentando ler o que se passava atrás de sua expressão serena.
Minha mãe olhou de relance para a tela do computador, apoiado próximo a ela. Dessa vez, não era a página do seu blog que estava aberta no navegador, e sim um site de notícias. No título da manchete, era possível ler: Elói Wallace critica severamente escritora anônima, conhecida na internet como "Coletora de Estrelas". Minha mãe ajeitou os óculos após esfregar os olhos e disse, rindo:
-A fama chega para todos, não é...
-Mãe...
-Que carinha é essa? Eu já sabia que um dia algo assim iria acontecer no momento em que o blog explodiu de acessos pela primeira vez.
Eu abri a boca para dizer algo, mas não fazia ideia do que. Minha mãe acariciou meus cabelos e me lançou um olhar doce.
-Não se preocupe com isso, querida. Não é culpa de ninguém. Se esse cara não quer apreciar o que eu escrevo, não há nada que eu possa fazer...
Ela sorriu e subiu as escadas, e eu sabia que a seguir, ela iria tomar um banho bem quente e maratonar alguma série. Ela sempre faz isso quando está triste com relação ao trabalho.
***
Depois que jantei, me arrumei para dormir e orientei minha irmã a fazer o mesmo. Meu pai provavelmente chegaria tarde por causa do trabalho. Eu me orgulhava muito dele.
Me certifiquei de que todas as portas estavam trancadas, todas as luzes apagadas, e fui para a cama, mas não iria dormir antes de ler toda a matéria e a crítica inteira. Elói era o pseudônimo de um crítico renomado, que tem várias obras famosas em seu nome. Atualmente, ele é um dos escritores mais influentes do país, mas ninguém sabe sua identidade. Existem muitas teorias de quem ele pode ser mas nada comprovado. De qualquer forma, Elói não quer ser descoberto e a mídia não faz questão de cobrir matérias como sua identidade verdadeira, até por que a maioria dos canais de televisão e fontes de notícias são alvos de críticas do próprio. O fato de que ambos Elói Wallace e a "Coletora de Estrelas" são anônimos levou muitos leitores a compará-los, em vários sentidos. Obviamente, a escrita dos dois era muito diferente; enquanto ele era um grande adepto ao realismo e parnasianismo, minha mãe trabalhava no simbolismo e suas metáforas e sinestesias, de modo que cada poema ou texto abrange várias interpretações diferentes. É isso o que eu amo nela. Não gosto muito de coisas do gênero, mas seus textos me alcançavam de uma forma única, como se eu pudesse desvendar as coisas mais lindas escondidas em seu coração.
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˚ · ⋆ · . Collecting Stars! . ✧ ⋆˚
FanfictionLola nunca foi uma grande fã de livros clássicos, mas por influência de sua mãe, uma escritora anônima bastante famosa na internet, ela se vê em um clube de literatura formado por uma professora excêntrica, um bando de adolescentes viciados em vangu...