Já eram quase três da manhã e me parecia impossível dormir com todo aquele clima tenso presente em casa. A única que conseguiu pegar no sono no horário de sempre foi a Luisa. Minha mãe assistia televisão como se nada tivesse acontecido e meu pai, como atuante na área policial, era o único que sabia como lidar bem com a situação. Entretanto, seu semblante estava alterado naquela noite. Ele passara horas em frente ao computador enquanto falava no telefone com colegas de trabalho especializados na perícia. O crime não era tão grave, mas por se tratar de um caso no qual uma personalidade pública era o principal suspeito de tê-lo cometido, a mídia e a população em geral se comoveu prontamente com a situação. Redes sociais explodiram a internet com comentários de todos os tipos acerca do acontecido. Os desenhos supostamente feitos pelo Elói eram em sua maioria releituras surrealistas com várias mensagens ocultas escondidas. Todas elas faziam referência às suas mais famosas produções. Elói, que já era conhecido por sua agressividade, expressou a mesma de modo ainda mais intenso em todas aquelas pichações. Alguns afirmam que é possível encontrar um código dentro dos mesmos, um tipo de "criptografia enigmática" já usada anteriormente pelo autor para deixar mensagens subtendidas em seus textos. Mas a parte mais chocante, e o principal motivo de toda essa mobilização por parte da minha família é o fato de que todos aqueles códigos levavam à uma mensagem referente à Coletora de Estrelas. Juntando algumas letras e números apontados pelo pequeno enigma do Elói, era possível formar links que levavam a páginas na internet, que não poderiam ser acessadas normalmente pelo navegador. E em uma delas, estava a crítica direcionada à minha mãe, a crítica antes deletada, aquela que poucas pessoas leram e cujos traços foram quase totalmente apagados de toda a web. Nos links restantes, haviam diversos textos e comentários relacionados à varias obras famosas de outros escritores, incluindo a minha mãe, e em sua maioria, críticas um tanto duras. Eu sabia que, a essa altura, mamãe não sentiria mais tristeza ao ler as palavras do Elói, e sim raiva. Soltei um profundo suspiro, constatando que meus pais provavelmente não iriam dormir tão cedo. Ao contrário deles, eu tinha aulas bem cedo no dia seguinte, então me dei por vencida e fui para o quarto. Eu sabia que seria difícil adormecer com toda aquela preocupação que eu estava sentindo, mas seria ainda pior assistir de perto a investigação e cultivar mais raiva do que já tenho pelo Elói. Após tudo aquilo, consegui tirar algumas conclusões por mim mesma. Uma: Elói Wallace entende de computação e provavelmente tem alguma experiência como hacker, algo me diz que ele jamais contrataria alguém para gerar aqueles links para ele, já que isso significa que ele teria de revelar seu propósito para um completo estranho. Duas: Elói está bem perto de nós, mais perto do que imaginamos. E ele não escreve por trabalho, ele criou seu pseudônimo para dizer tudo que quer na internet sem se preocupar com as consequências. E três: minha mãe com certeza já percebeu essas coisas e ela certamente não deixará barato para ele.***
As aulas bateram e era o fim da manhã. Durante todos os períodos, nada do Jin. Não o vi durante o intervalo, nem saindo da sala no espaço de tempo entre as aulas. Naturalmente, como é de se esperar, eu estava preocupada. Jin não era o tipo de aluno que faltaria a escola por qualquer motivo. Depois que todos os alunos esvaziaram a sala e foram em direção ao portão, resolvi dar uma passada na sala "secreta", como de costume. Entrei e fechei a porta silenciosamente atrás de mim, pronta para passar algum tempo lendo meus poemas favoritos e me distrair um pouco de toda essa confusão do Elói. Para a minha surpresa, eu não estava sozinha ali. Sentado numa cadeira, com a cabeça deitada em um caderno e uma posição desajeitada, Jin dormia profundamente. Me aproximei com cuidado, tentando não fazer barulho com meus passos. Haviam inúmeros papeis cheios de rabiscos no chão, vários deles amassados. O garoto provavelmente pegou no sono durante o processo de escrever. Segurei o riso. Ele parecia uma criança desse jeito, sua expressão suavizada pelo sono. Parecia um anjo. Notei olheiras em suas pálpebras inferiores. Ele provavelmente estava muito cansado, talvez tivesse passado toda a manhã aqui, tentando escrever. Como ele com certeza tem a chave da sala, não seria problema se ele dormisse ali por mais algum tempo, já que a escola fica aberta o dia todo.
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Fiksi PenggemarLola nunca foi uma grande fã de livros clássicos, mas por influência de sua mãe, uma escritora anônima bastante famosa na internet, ela se vê em um clube de literatura formado por uma professora excêntrica, um bando de adolescentes viciados em vangu...