Acordei no dia seguinte, após uma péssima noite de sono. Estava convicta de que tudo o que acontecera na última noite era loucura. Não arriscaria a mim e nem ao meu filho por algo que parecia teoria conspiratória. Dei banho em Nico, tomamos o café da manhã e, com ele em meu colo, fomos em direção ao palácio.
No caminho, quase no mesmo local do dia anterior, o que eu mais temia aconteceu.
− Dana, pode vir aqui, por favor?
A suposta rainha reapareceu. Ainda que a contragosto, fui até ela.
− Sei que o que lhe pedi ontem é algo muito sério. Por isso, quero, desde já, lhe entregar um presente como forma de agradecimento.
Recebi um objeto de suas mãos. Era um Santo Expedito feito em gesso.
− O... obrigada − respondi.
− Fiz especialmente para você. Espero que goste e que ele lhe proteja. Adeus, Dana. − Abraçou-me e foi embora.
Aquele objeto era muito parecido − se não fosse igual − aos artesanatos produzidos pela então princesa Irene. Guardei o presente e continuei meu caminho. A dúvida voltou a me consumir. Queria muito que meus pais estivessem ali para me confortar e dizer que tudo passaria. Mas não estavam. A saudade aumentava.
Chegando ao palácio, entreguei meu filho aos cuidados da babá da corte, que cuidava também de outras crianças da nobreza. Segui rumo à cozinha para verificar como estavam os preparativos para o almoço, quando ouço alguém chamar meu nome.
− Jordana? Você é a Jordana, correto? − perguntou-me um homem que me era familiar, apesar de não lembrar ao certo de onde.
− Sim e você?
− Meu nome é Carmo Abreu. Sou o ouvidor real.
Ouvidor real? Nunca havia escutado sobre esse cargo na corte. Mas eu sabia que o conhecia de algum lugar. Tentei resgatar na minha memória. Foi aí que me lembrei: esse homem era o mesmo que entrara com a rainha em sua cerimônia de coroação e respondera às perguntas do arcebispo em seu lugar.
− O barão e a baronesa de Pomal não estão no palácio no momento − disse ele. − Mas a rainha solicita a presença de alguém próximo. Como você é a governanta, achei que era a pessoa indicada na ausência do casal. Poderia ajudar?
− Claro, se estiver ao meu alcance.
Caminhamos em direção ao quarto da rainha. O ouvidor bateu levemente na porta e entramos. A rainha se encontrava deitada na cama. O local estava na penumbra. Senti um leve arrepio na espinha.
− Majestade, o barão e a baronesa de Pomal estão fora do palácio. Tomei a liberdade e pedi para Jordana vir em seu lugar − disse o ouvidor.
Nesse momento, a rainha começou a emitir grunhidos, como se quisesse falar algo mas não conseguisse. Eu fiquei paralisada.
− Acalme-se, rainha. Estou indo − disse ele.
O ouvidor foi para perto da cama e inclinou-se para ouvi-la.
− Ah, claro. Sua máscara. Perdão, Majestade.
O homem pegou em cima do criado-mudo a mesma máscara de gesso que a rainha vestiu na sua coroação, entregando-a. Enquanto a monarca colocava a máscara em seu rosto, Carmo me disse em voz baixa:
− Não se assuste. Ela apenas não gosta que vejam seu rosto.
A rainha, já mascarada, fez um movimento com as mãos, chamando o seu ouvidor. Ele se abaixou.
− Ela está pedindo para você se aproximar, Jordana.
Com um pouco de receio, caminhei em direção à cama. Ela fez o mesmo movimento para mim. Inclinei-me, colocando meu ouvido bem próximo de sua máscara.
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A Rainha de Gesso [CONCLUÍDO]
Bí ẩn / Giật gânSelecionado para a Shortlist do Wattys 2018; 1° Lugar no Concurso Suspense 03, organizado pelo Wattpad; Condecorado no mesmo concurso com a estrela dourada, pelo empenho na divulgação da história; 2° colocado no 2° Concurso Rascunhos de Ouro. SINOPS...