O Legado

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LUCAS

Bati a porta sem me preocupar se ela iria desabar com o estrondo. No segundo seguinte, dei de frente para o cano da espingarda.

- Quer me matar ou morrer, Lucas?

Lúcio abaixou a arma e seu rosto pálido surgiu.

- Desculpe. - Eu estava nu, então, procurei vestir umas calças. - Não pensei que estivesse em casa.

- Eu realmente estava com as chinas, mas hoje foi bem rápido. - Lúcio ia quase todos os dias às chinas. Elas faziam sexo com a gente, mesmo sabendo da nossa condição. Algumas até gostavam que fôssemos mais brutos, o que era a nossa sorte. - E você, por onde andou?

Não respondi. Estava com muita raiva. Raiva do meu desejo, raiva de Karen, raiva da maldição desgraçada que aqueles índios filhos da puta haviam jogado sobre nós.

- Por aí.

- Foi atrás dela, não foi?

Ergui o olhar e o fitei. Nos conhecíamos demais. Éramos só nós dois, desde sempre, e tudo o que teríamos seria um ao outro, até o fim.

- Eu não consegui evitar. Sentiu o cheiro dela?

Lúcio sorriu e eu vi que ele tinha sentido. Era impossível que não tivesse sido tomado por aquele cheiro de fêmea.

- Pra falar a verdade, até salivei. É o quê aquilo? Tesão? Período fértil, talvez?

Resmunguei a fui até a geladeira pegar uma água, balançando a cabeça em negativa às hipóteses de Lúcio.

- Só sei que me deixou doido. As chinas não têm aquele cheiro, Lúcio. Mal fui embora do jantar, e vi minhas garras crescerem!

Lúcio arregalou os olhos.

- Foi pego de surpresa, certamente. Precisa se controlar, cara. - Finalmente ele pendurou a espingarda no prego na parede. - Ou o melhor é sumir por uns tempos. A distância é o melhor jeito de se manter fora da tentação. Se acontece de você se descuidar e...

- Não vai acontecer, tá?! Eu sei me controlar.

Meu sangue corria rápido e tive vontade de voltar a correr e me perder em meio à mata. A verdade é que eu já estava perdido de desejo por ela.

Lúcio apenas me observava, deixando claro que não acreditava em uma só palavra das que eu acabara de dizer.

KAREN

- Kari?

- Ah! Graças a Deus! - Soltei o ar com força. - O que foi? Tá de folga? São quase oito horas e você ainda dorme?

- Ei, calma lá... Que eletricidade toda é essa? Estou acamada. Eu te disse que era a hérnia, não disse?

Revirei os olhos e tentei medicá-la, como sempre, mas Dani me cortou, dizendo que estava tudo bem e que eu apenas lhe contasse a novidade, para distraí-la da dor. Eu estava louca para isso.

- E é isso, Dani. Ao menos, terei o que fazer durante essas férias forçadas. - arrematei, após contar-lhe sobre os irmãos deliciosos, a empregada atenciosa e o velho bizarro.

- Cuidado, Kari... Não vai se meter com dois irmãos de um lugar que você nem conhece.

- Que dois irmãos, Dani?! Tá louca? Eu tô de olho no cabeludo, no Lucas. O outro é um gato, mas me pareceu meio safado demais. O Lúcas tem o tal olhar feroz, faminto, mas me parece ser um homem gentil e educado... E é ainda mais gostoso que o irmão, acredite.

- Mesmo assim, se cuida. E aproveita, porque você está mesmo precisando, mas se cuida.

Nos despedimos após mais algumas fofocas e queixumes sobre o tamanho dos pernilongos que encontrei, e tratei de desligar, após escutar os gemidos disfarçados de dor da minha amiga.

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