"Quantos negociadores de fato temos hoje aqui, aqui neste auditório? Vocês já pensaram nisso? Eu acredito que todos sejam. Entendam que vocês já nasceram negociando. O ser humano começar no ventre da mãe a negociar sua sobrevivência. São 40 semanas de gestação e somos jogados nu e cru ao mundo. É nossa primeira Vitória. Mas será que acreditamos nisso? Tudo faz parte do que acreditamos na negociação. Ouçam..."
Logo quem se achava tão esperto. Vivendo essa situação. Sem uma solução e a ponto de não saber o que fazer. Foi quando me peguei pensando em que creditava e resolvi voltar dois dias antes, naquela sexta feira.
Era hora do recreio, por volta das 09h46min da manhã quando fui chamado às pressas a ajudar um colega de classe que tinha se metido em uma discussão pelo entendimento das regras do futebol que estava acontecendo naquele momento e não tinha a quem recorrer.
Relutei em sair porque estava com a Taísa, à garota mais bonita da escola que nunca havia me dado atenção antes, embora fôssemos da mesma sala que não passava de uns 70m2 onde pouco mais que 35 alunos se espremiam e estava ali do meu lado. Eu sentia seu perfume, sua respiração bem próxima de mim, que até parecia uma só.
Que só estava lá porque precisava melhorar suas notas em matemática e lógica, cabia a eu compartilhar com ela meu vasto conhecimento _ estamos falando do sexto ano do ensino fundamental, mas eu era bom, não um gênio, mas sempre prestei muita atenção no que os professores ensinavam e procurava fazer ligações dos fatos_ não só além de ter interesses particulares e ela escolares de está ali, deixei a garota mais bonita da escola sozinha e me dirigi ao encontro de quem ansiava por minha ajuda. O que não fazemos por nossos amigos.
Quando cheguei ao local parecia que o caos estava instalado porque não se entendia nada naquela algazarra toda. Era uma gritaria sem fim que ecoavam nos meus ouvidos.
Josenildo veio falar comigo ofegante porque não tinha como conter seus amigos que estavam um pouco eufórico com a divergência em um algo que havia acontecido e pedira minha ajuda para acamar os ânimos entre eles.
Pedi a palavra da forma mais adequada naquela situação que era entrando no meio de todos gritando assim como eles.
Porque nesse momento não há técnica mais eficiente de que falar a mesma língua usando os mesmos símbolos que usavam na ocasião. Então peguei a bola, que é o item mais importante numa partida de futebol e, que havia sido deixada de lado ali no canto esquecida, enquanto aquelas crianças com inúmeras possibilidades de se tornarem futuros advogados, professores, padeiros, bancários, mas com pouquíssimas chances de se tornarem futuros jogadores de renome no mercado futebolístico, certo de se tornarem pais de família, se agredindo verbalmente como marmanjos que ainda não o são.
Como a lógica estava ao meu favor, eles voltaram sua atenção para mim. Pronto. Era hora de começa a negociação. Todos passaram a me conta sua verões e então pude entender o que estava acontecendo.
Fluíram-se as explicações para o impasse que era um tanto simples, mas complicado de se resolver com os ânimos alterados, no entanto entendendo o ocorrido se tornaria simples a resolução.
O que de fato estava acontecendo e gerando toda aquela confusão e histeria era simples, como o intervalo para o recreio não passava de quinze minutos e cada time suportava no máximo cinco de cada lado e havia ali onze meninos com a mesma vontade imensa de jogar uma bolinha, a conta não fechava.
Um teria que ficar de fora. Mas ninguém queria aguardar de fora, esperar por uma nova partida assim que os perdedores saíssem. Se a partida demorasse muito quem estivesse de fora não teria tempo para jogar porque o intervalo do recreio era muito curto. Além daqueles que escolhem os times, é como funciona em uma tradicional pelada. Quem escolhe o time quase sempre são os mais talentosos com a bola ou os que influenciam no meio, ou ainda quase em último caso, os donos da bola.
E na maioria das vezes, em 99% delas, quem escolhe dá preferência a quem conhece um pouco de futebol. Em suma são escolhidos os melhores e aí é que está o "x" da questão. Quem aceita, por mais que tenha certeza, que quer se chamado ou tido como perna de pau? Ninguém.
Então a linha é a seguinte: primeiro se escolhem os melhores, segundo os que são esforçados e conhecem a tática, terceiro os amigos mais próximos de quem está escolhendo, quarto os donos da bola (caso ele não seja um dos que estão ditando a formação das equipes) e por fim, e sim menos importante, a não ser que não haja mais ninguém para escolher, são chamados os que restam.
Embora na democracia todos tenha o direito de jogar, mas me pergunto se as regras implantadas, as de quem escolhe está certa? Claro que não vamos discutir esse assunto aqui e sim o que estava na minha cabeça depois de entender o que realmente acontecia.
Eles tinham quinze minutos para bater uma pelada e já haviam perdido naquela simples discussão três minutos e meio. Restava pouco mais que onze minutos para o fim do intervalo. Dez minutos para jogar e um minuto para ir ao banheiro, tomar água e retornar para sala de aula.
Sugeri que jogasse seis de cada lado, me incluindo em uma das equipes, que naquele dia o campo ficaria um pouco cheio, mas haja vista o tempo perdido atenderia a todos naquele momento. Reforcei que quanto mais discutíssemos mais tempo se perderia e, que para o dia seguinte já se escolhessem as equipes para se aproveitar todo o tempo do recreio de quinze minutos.
Em fim, todos concordaram e a partida rolou até às dez horas manhã. Afinal, não sai perdendo nada em deixar a Taísa sozinha para ajudar um amigo já que no fim da aula pude dedicar a tarde toda só para tirar suas dúvidas e atender suas necessidades. No primeiro momento estudamos matemática, depois português e por último um pouco de história. Foi muito bom, mas não como eu esperava.
Aquela pequena lembrança mostrou-me que existia uma confusão de ideias na minha cabeça me parecendo a mesma algazarra do futebol. Estava deixando de lado o mais importante de uma feira livre que era está nela independente do lugar. E, como que, um milagre, minha mente acalmou e pude pela primeira vez enxergar uma solução com mais clareza.
Obrigado por terem lido a negociação! Bom, o que esse Charles tem passado, não! Pra saber o que tem pela frente leia o próximo capítulo! Grande abraço!
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Águas que passam, uma breve aventura
Ficción GeneralCharles é um garoto como qualquer outro de sua idade. Morador de uma cidade pacata do interior do Nordeste, ele leva uma vida simples e feliz até que um inesperado acontecimento em família vai mudar sua vida. Levado precoce ao mercado de trabalho...