Abri a porta de casa eram cinco da manhã, mais uma noite naquela discoteca, mais bêbados e idiotas a tentarem levar-me para a cama, nenhum sem sucesso, como sempre.
A casa estava em silêncio, como sempre, Nancy devia estar a dormir, ela só devia de acordar perto das 9h para ir para a academia dançar... Subi em silêncio para o meu quarto, trancando-o em seguida. As paredes pretas do meu quarto mostravam o meu animo, negro. A noite também. Vi-me ao espelho e suspirei... Tinha o cabelo loiro suado, as minhas pontas rosa estavam molhadas, o meu corpo estava com a roupa colada ao corpo, era hora do banho. Despi-me ficando meramente em cuecas, coçando as costas, olhei para a minha mesa de cabeceira e uma tristeza invadiu-me... Eram aqueles olhos verdes que eu amava, aqueles que já tinham partido, partido cedo demais...
Engolindo o meu choro, fui tomar banho... Senti duas mãos a abraçarem a minha cintura, um beijo foi depositado no meu pescoço, um perfume entrou nas minhas narinas... O perfume dele... Rapidamente abri os olhos deparando-me com o vazio... Mais uma vez a minha mente enganou-me, criou toques e sensações irreais, criou-o a ele, ao meu menino... Ele já cá não está, e a culpa é toda minha.
Faz hoje dois anos em que me mudei para Londres... Ou melhor, que fugi para Londres, mas isso não importa, desde que ninguém me encontrasse... Mas mesmo assim as saudades que tinha da minha família apertava, mas eu não ia voltar para Portugal, não podia, não depois de ter abandonado todos e não dar notícias, eu escolhi assim e agora vou aceitar as consequências, além disso eu mudei bastante, não só em personalidade mas também na parte física, era loira agora tenho pontas rosa, agora tenho um piercing no lábio e outro no nariz, e também um na barriga, tatuagens, o meu ombro direito está coberto com várias, mais um pouco com o braço, o meu pulso esquerdo, uma na minha nádega (um tigre enforecido), uma no tornozelo, uma no peito, do lado do coração, com o nome "Tarzan" e uma num sitio mais privado. De personalidade, criei uma horrível, raramente sorrio, não falo com ninguém (tenho problemas com pessoas, não gosto delas), não tenho muita paciência, sou fria... Hoje em dia sou uma pessoa totalmente diferente do que era, sou o oposto. As pessoas temem-me, julgam-me, mas eu já não me importo, apenas não ligo, também não há ninguém por quem valha a pena lutar ou sorrir.
Nancy era a minha colega de casa, quando vim para Londres tinha apenas 16 anos, não tinha nada nem ninguém, dormi nas ruas, sofri tanto... Mas de alguma maneira o governo ajudou-me, deu-me uma casa para viver e algum dinheiro, e apesar de ter apenas 16 anos eles consederam-me a maioridade, mas andavam sempre de olho em mim, alguma coisa fora da linha eu era enviada de imediato para Portugal. Nancy Devine... Já ouviste o ultimo nome certo? Ela é prima do Josh Devine, baterista da banda One Direction, não que eu me interessasse, ela fala muito neles, ela é directioner, ou algo assim, mas eu não ligo muito. Para mim ela era como uma irmã mais nova que nunca tive pois ela tinha apenas 15, eu cuidava dela como tal, apesar dela ter um pouco de medo de mim e das minhas companhias (digamos que não são das melhores), mas para além disso damo-nos super bem, ela ajuda-me em tudo, incluindo pagar a casa. Ela veio viver comigo porque ficava mais perto do seu sonho, a dança, ela dançava numa academia aqui perto, ela sonha em ser uma dançarina profissional, e sempre que ela falava nisso eu soltava um sorriso triste, esse era o meu sonho... Era.
Eu trabalhava numa discoteca à noite, servia ao bar, entrava às 21h e saía às 5h da manhã, não era um trabalho propriamente bom, mas já dava para cuidar da casa e comprar as coisas que necessitava, roupas, comidas, e coisas assim, mas como já não estava a conseguir fazer isso tive de alugar a casa, e calhou aquela rapariga na rifa... Ao menos ela não faz perguntas, detesto quando as pessoas se metem nos assuntos dos outros, era algo que eu odiava, principalmente com o meu passado, aquele que eu fugia a todo o custo.
Acabei o banho e saí do duche, enrrolei a toalha no corpo e outra no cabelo, sequei o corpo e o cabelo, vesti o meu pijama curto, eu estava em Londres e estava frio, em novembro, mas com os meus pesadelos não há frio nenhum em mim.
Deitei-me na cama com uma lágrima a rolar pela minha face, seria mais uma noite com pesadelos, tal igual como nestes dois anos, e de manhã só acordaria para almoçar...
#De manhã#
XX: És tão estúpido!
XX: Cala-te, se não acordas a Rita.
Pena, já acordei.
Olhei para o relógio e o meu queixo caiu literalmente. 9h e13min. Quem é que grita a esta hora, num sábado, na minha casa, e ousa gritar ao ponto de me acordar?!
Pus os pés no chão e calcei os chinelos, coçando os olhos. Fui à casa de banho e lavei a cara, os dentes tirando o mau hálito que tinha. Penteei o cabelo, acabando por prendê-lo num rabo de cavalo ao alto, numa tentativa de refrescar. E eu tinha razão, frio não tive, os pesadelos vieram como esperado, não tão maus mas o suficiente para tornarem outra noite má.
Olhei para a janela e estava a nevar, pessoas brincavam no parque em frente, bolas de neve, anjos de neve e bonecos de neves, e claro, não podia faltar os casais aos beijos e abraços, a fazerem promessas... Promessas não passam de palavras. Nada mais.
Desci as escadas, ouvindo várias vozes, masculinas e femininas, e eu só conhecia uma, a de Nancy, e o resto nem lá perto estava de reconhecer, mas assim que entrei na sala deparei-me com algo que não estava mesmo à espera...
VOCÊ ESTÁ LENDO
The past is back... || Harry Styles (Parada)
Fanfiction"Naquilo que eu era... Naquilo que me tornei... Os erros que fiz e nada posso fazer para voltar atrás. Num dia estavas aqui, noutro não. Deixaste-me quando menos esperava... Todos me culparam..." "Aquilo que sofri... Aquilo que sofro... Só eu sei a...