Capítulo 1 - Aniversário

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Hoje eu completava 21 anos. Hoje meu dia dará inicio a uma jornada que sempre desejei em toda a minha vida. Hoje eu poderei começar a vingar a morte do meu pai. Hoje meu dia será especial. Hoje eu me torno a herdeira.

Ao contrário da minha irmã mais velha, Wynonna, que estranhamente estava de volta à Purgatory, não irei negar a minha missão. Não irei ficar com medo de encarar os monstros que tiraram meu pai de mim e destruíram minha família. Após Wynonna acidentalmente atirar nele e causar sua morte, ela cresceu sendo chamada de louca. Eu era a única que acreditava nela. Infelizmente, tive que fingir ser outra pessoa, com outros propósitos, para não acabar do mesmo jeito que minha irmã acabou; expulsa do próprio lar. Wynonna só não ficou mais louca pois, felizmente, ela não era a herdeira.

- Então, qual o motivo da sua volta? Além da morte do tio Curtis. - Perguntei, assim que acabei de matar a saudades que estava da minha irmã. Estávamos em meu apartamento, já que a mesma me implorou para conversar.

- Não está óbvio? Eu amo as pessoas que me chamam de maluca e que me expulsaram daqui, Waves. - Ela gargalhou enquanto praticava sua ironia típica, mas depois sua expressão se tornou séria. - Quero que vá embora comigo para cidade.

- O que?

- Eu sei que você sempre desejou vingar a morte do nosso pai, mas, Waverly.. - Pegou minhas mãos e as segurou enquanto olhava diretamente em meus olhos. - Você não precisa passar por isso. Você pode ir embora e esquecer tudo isso! Iniciar uma nova vida! - Não estava acreditando no que eu estava escutando.

- Wynonna, eles mataram nosso pai! Eles mataram a Willa! - Me exaltei por alguns segundos. - Você realmente não quer se vingar?

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Ela parecia querer se impor, mas não o fez.

- Apenas.. - Wynonna não olhava para mim enquanto falava. - Feliz aniversário, Waverly.

E então, ela simplesmente saiu.

×××

Já estava anoitecendo e eu não tive notícias de Wynonna o resto do dia. Minha mente conseguiu focar em outra coisa além dela durante alguns minutos, mas sempre voltava a nossa conversa. E se ela estivesse certa? E se o correto a fazer fosse ir embora e esquecer essa maldita maldição?

- Vem cá, chuchuzinho - Meu namorado, Champ, me puxou para um abraço e um beijo. Por um instante o agradeci por me tirar da transe de pensamentos que eu estava. - Quer que eu vá dormir na sua casa hoje? Te dar outro presente? - Ele sorriu maliciosamente e sorri de volta, sem jeito.

- Não, hoje não estou disposta - Ele fez uma cara triste, mas ignorei. - Aliás, vou ir no banheiro e depois vou para casa. Avise para Gus por mim, ok?

Ele me beijou novamente. Passei pelas pessoas, sorrindo, acenando e a agradecendo os parabéns. O banheiro estava vazio, como sempre. Enquanto usava a cabine, ouvi passos e alguem entrando no banheiro. Mas os passos nem as vozes eram femininas.

- Você não disse que ela tinha entrado aqui? - Fiquei assustada e, por impulso, subi em cima do vaso sanitário. - Não tem aqui, seu imbecil! - Ouvi um tapa e um gemido de dor. - Agora vamos, antes que alguém perceba que entramos no banheiro feminino.

E então, o banheiro ficou vazio novamente. Percebi que estava tremendo quando sai da cabine. Eu era a única que havia entrado, pensei, eles estavam me procurando. Ainda tremendo, fui até a pia e lavei o rosto. Acabei me assustando quando ouvi a porta sendo aberta.

- Você tá bem? - Uma mulher alta de uniforme tinha entrado. Ela olhou para minhas mãos e percebeu que eu estava tremendo. - Eu vi aqueles dois homens saindo daqui e pensei.. - Ela se aproximou um pouco. Seus cabelos eram ruivos e seus olhos cor de mel. Tinha uma enorme beleza que poderia ser notada mesmo com um uniforme de policial. - Eles fizeram alguma coisa com você?

- Não, não fizeram. - Respondi, tentando não encara-lá por muito tempo. Meus batimentos estavam acelerados. - Parecia que eles estavam procurando por algo, mas não acharam. - Ela me lançou um olhar de dúvida. Percebi que teria que seria bom mudar o foco do assunto para não surgir mais perguntas. - Sou Waverly. - Estendi minha mão e sorri.

- Sou Nicole. Nicole Haught. - Ela pegou minha mão, sorrindo, e a apertou. - Tem certeza que você está bem? Percebi que está tremendo.

- Ah, isso.. - Assim que respondi, entraram duas meninas no banheiro, gargalhando e conversando. -..isso é por outra coisa. Você não precisa se preocupar.

Ela acenou afirmativamente com a cabeça e saímos do banheiro. Procurei Champ pelo Shorty's, mas acabei descobrindo que ele tinha ido embora. Ele praticamente me abandonou, no dia do meu aniversário. Não que eu não esteja acostumada a ser abandonada, mas esperava um pouco mais de empatia do meu namorado. Sentei em um banco pensando em quem eu iria ligar para pedir carona. Wynonna? Definitivamente não. Gus estava com a caminhonete e ela iria para casa mais tarde com ela. Então.. para quem?

Percebi que a Oficial Haught estava me observando de longe. Achava estranho, mas o que tinha demais? Provavelmente ela estava apenas checando se eu não estava sendo ameaçada por nenhum daqueles homens.

- Ei, posso te pedir um favor? - A tirei do grupo de policiais que estavam com ela. Ela sorria enquanto caminhavamos um pouco para longe deles.

- O que foi?

- Você pode me dar carona para casa? Eu sei que você é policial e que provavelmente está em seu turno agora, mas..

- Eu não estou. - Ela me interrompeu. - Eu não estou em meu turno. - Sorrimos uma para a outra. - E sim, adoraria lhe dar uma carona, Waverly. Deixe-me apenas pegar minhas coisas na mesa, ok?

Nicole foi até a mesa que estava. A observava enquanto isso. Algo nela me interessava e eu não sabia bem o porquê. Em alguns minutos, nós estávamos no carro da polícia conversando. Passamos a viagem falando sobre a nova carreira dela e meu aniversário.

- Eu soube que Wynonna Earp estava de volta à cidade. - Ela comentou.

- Sim, minha irmã. Ela tinha sido afastada da cidade há alguns anos atrás.

- Suponho que ela voltou pelo seu aniversário. - Ela parou o carro, pois tínhamos chegado.

- É, pode-se dizer que sim. - Sorri para ela e Nicole sorriu para mim. Ficamos durante alguns segundos nos encarando. - Enfim, obrigada pela carona, Oficial.

- Por favor, me chame de Nicole. Oficial é só para pessoas do meu trabalho.

- Tipo Nedley? Aposto que ele deve pegar muito no seu pé. - Rimos.

- É, um pouco. Mas trabalhar aqui não é tão difícil. - Ela me observou por alguns segundos. - Na verdade, tem suas vantagens.

Não sabendo o porquê, fiquei um pouco sem graça. Talvez tenha sido a forma com que ela me olhava, não sei. Agradeci novamente pela carona e nos despedimos. Eu estava me sentindo estranha em relação a tudo que ocorreu hoje. Estava me sentindo estranha, mas estava feliz.

A herdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora