Capítulo 3 - Black Badge

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Mais cedo naquele dia

Eu estava andando de bicicleta até o Shorty's quando escutei gritos. Parei de pedalar e tentei descobrir de onde eles estavam vindo. Assim que descobri, pedalei até a frente do local e abandonei a bicicleta. Estava com medo, mas sentia algo dentro de mim me dizendo que deveria checar isso.

Os gritos estavam a vir de trás de um Motel da cidade. Motel do tipo que acontecem mais coisas do que apenas sexo comprado. Já houve casos de assaltos e assassinatos por ali, mas o que eu estava visualizando, escondida, era diferente. Era um retornado. Um retornado devorando uma garota. Ele arrancava braços e pernas dela. Era nojento e cruel demais, então tive que me segurar para não vomitar. Lembrei que tinha a Peacemaker, a única arma que pode mandar ele de volta para o inferno, comigo. Pensei em um plano e rapidamente tive uma ideia.

Procurei uma pedra no chão e após encontrá-la, a joguei, com cuidado, no outro lado. Ele se assustou e parou o que estava fazendo para checar o que ocorria. Silenciosamente e tremendo, sai do lugar onde estava e tirei a Peacemaker da minha bolsa. Felizmente, já tinha praticado tiro ao alvo com outras armas, então não havia chances dele sobreviver. Mas também, a garota tinha muito menos. Olhar para ela e ver seu corpo aberto e seus pedaços ao redor só me deu mais ódio do que eu estava mirando. Assim que virou, me encarou e começou a sorrir.

- Você? Você é a herdeira? - Sua risada era feia assim como seu rosto cheio de cicatrizes. - Até sua irmã mais velha tem mais chances do que você, garotinha! - Atirei em sua perna, o fazendo calar a boca. Mas, após gemidos de dor, ele voltou a rir. - Acha mesmo que você consegue lidar com nós? - Seu riso se calou. Agora, estava de joelhos e eu me aproximava, com a Peacemaker apontada em seu rosto. A mesma começou a brilhar, com formas amareladas. - Nós iremos acabar com você antes mesmo que possa pensar em fugir. - Sua última fala foi séria e de forma demoníaca. Me assustei e atirei.

Me afastei quando o chão foi se abrindo e começando a puxar o mesmo para as profundezas do inferno. Assim que ele se foi, senti o peso de suas palavras e do que acabei de vivenciar. Não chorava, mas meu peito estava apertado e parecia que eu ia desmoronar a qualquer momento. Olhei ao redor e paralisei quando vi que um homem de terno me assistia de longe. Comecei a tremer mais ainda quando o mesmo veio até mim. Não parecia um retornado, mas o que aconteceria se ele tivesse visto tudo o que aconteceu?

- Agente Xavier Dolls - Apresentou seu distintivo e apertou minha mão. - Poderia me acompanhar, Waverly Earp?

Confirmei com a cabeça e caminhamos até longe dali. Eu estava com medo. Estava morrendo de medo. Quando chegamos a frente do motel, tinha um carro preto estacionado. Por um instante, achei que ele iria me sequestrar ou algo assim, mas paramos de andar assim que chegamos em minha bicicleta.

- Preciso que me explique o que acabei de presenciar. - Assim que ouvi essas palavras, surgiu uma enorme nó na minha garganta. - Você conhecia a vítima?

- Não. - Respondi instantaneamente.

- Você conhecia o assassino?

- Não.

- Ok. Agora, preciso que me explique o porquê do mesmo se direcionar a você como "herdeira".

Estranhei que ele não perguntou o porquê de ter surgido um buraco no meio do chão assim que eu o matei. E também, o porquê de eu ter o matado.

- Me desculpe, mas só respondemos perguntas com o nosso advogado presente - Wynnona surgiu do nada. Por algum motivo, me senti aliviada.

- E você seria..? - Senti o tom de incômodo na fala do agente.

- Irmã da garota ao qual você está fazendo perguntas que não deveria.

- Bem, então, eu devo ligar a polícia local e avisar que sua irmã é a única suspeita daquele assassinato, não? - Wynonna se espantou quando olhou para onde Dolls estava olhando, o corpo da garota. Ela tentou achar alguma resposta, mas não conseguiu. - Escutem, vocês tem duas opções: ou entram comigo no carro e me explicam qual é o lance de "herdeira", ou eu posso chamar a polícia e vocês podem lidar com eles. Especificamente você, Wynonna.

- Vamos com você, agente. - Respondi e Wynonna me olhou em reprovação.

Mesmo sabendo que poderia ter dado um jeito com a polícia em relação a mim, eu sei que não poderia fazer o mesmo em relação a Wynonna. A relação da minha irmã com a justiça é complicada e juntar Wynonna Earp com um assassinato não pode dar em algo bom.

Acompanhamos Dolls até a delegacia de polícia e quando cheguei lá, Nedley estava perguntando sobre o caso da garota morta, já que antes nós tivemos que chamar a polícia e dar uma história falsa para eles. No caso, a mentira seria que ela foi morta por um animal. Nedley insistiu nas perguntas e questionou sobre o setor confidencial do agente. No outro lado da sala, Nicole estava sentada me olhando. Sorri para ela ao lembrar da noite anterior. Depois, entramos na sala. 

- O que exatamente você quer saber? - Wynonna perguntou. - E que porra é essa? - Se referiu ao setor confidencial.

- Meu setor é especializado em coisas que a polícia normal não conseguiria entender. - Dolls começou a explicar, pegando da mão de Wynonna uma pasta de documentos que a mesma estava folheando. - Coisas sobrenaturais. Seres anormais. - Wynonna e eu trocamos olhares.

- Então.. você sabe? - Perguntei, cautelosa.

- Sobre os demônios? Sim. - Fiquei em choque quando ele disse a palavra em voz alta. Ele sabia. - Sobre "a herdeira"? Não. E espero que vocês possam me ajudar a entender o que está acontecendo.

- Nos dê um motivo para confiar em você. - Wynonna propôs. - Afinal, deve ter o porquê de você saber o que eles são e porque está aqui, certo?

Dolls concordou com a cabeça e caminhou até o outro lado da sala, até um armário trancado com senha digital. Wynonna olhou para mim e mandou eu me sentar perto dela. Conseguía sentir em seu olhar que ela também estava da mesma forma que eu; assustada e confusa. Como alguém, além de nós, saberia dos retornados? E se sabe deles, como não sabe da maldição Earp? Agente Dolls voltou para a mesa com uma foto. Colocou-a em cima da mesa para eu e minha irmã vermos. Era uma foto de uma cratera vista de algum satélite ou algo assim.

- O que é isso? - Perguntei.

- Você quer ganhar nossa confiança com a foto de uma cratera? - Wynonna comentou. - Começou bem, uau.

- Maldito. Esse era o nome da cidade que existia nessa cratera. - Dolls falou.

- E o que aconteceu para ela ficar.. assim?

Dolls olhou para mim e soltou um suspiro.

- O governo descobriu sobre rumores de atividades paranormais nessa região. Atividades que, caso espalhasse, causaria uma enorme confusão. O resto, vocês já sabem - Fiquei mal só de pensar no tanto de pessoas inocentes que morreram ali. - Estou mostrando isso porque quero que me ajudem a evitar que o mesmo aconteça aqui, em Purgatory. - Ele esperou dois segundos e então pegou a foto. - Então, vocês vão me ajudar?

Wynonna e eu nos entreolhamos. E então, começamos a explicar o porquê do retornado ter me chamado de herdeira. Dolls explicou outras coisas também. Ele disse que foi enviado para cá para investigar as atividades paranormais, mas queria procurar algum tipo de antitodo, já que eles não morrem facilmente.

- Bem, então eles são a doença e a Peacemaker é a cura. - Wynonna ironizou, segurando a arma. Dolls, pela primeira vez no dia, sorriu para nós. - Consegui! Sabia que iria conseguir! - Ela comemorou, do jeito que ela sempre faz. - Eu tinha me desafiado a fazer você sorrir ao menos hoje e vejam só! - Wynonna olhou para mim rindo, mas seu sorriso logo se desfez ao ver a expressão séria de Dolls.

No final, ele nós perguntou se queríamos nos unir a Black Badge. Wynonna riu e perguntou se ele já tinha visto o histórico dela. Eu respondi que iríamos pensar sobre e depois saí de lá, os deixando a sós.

A herdeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora