Um Anjo Caiu No Meu Quintal. Beleza.

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Mais um dia de escola. Rossi finalmente estava em casa, depois de tantas horas longe de seu cobertor, sua cama e seus animes. Não que ele odiasse a escola, ele realmente não ligava para ela, mas os animes eram muitas vezes mais interessantes do que operações matemáticas e conflitos no Oriente Médio. O garoto morava sozinho em uma pequena casa, já que seus pais viajavam tanto que só apareciam de vez em quando, e por isso o chão estava decorado com roupas, mangás e sapatos.

Rossi abriu o notebook e se sentou no sofá com um pacote de suas batatinhas sabor picanha favoritas. Enrolou-se no cobertor mais felpudo que tinha, tão antigo que já cheirava estranho, mas ele gostava da sensação de familiaridade. Depois de estralar os dedos e se concentrar, como todo bom amante de animes faz, o garoto apertou o play e iniciou a maratona. Afinal, era sexta-feira, e ele poderia passar o fim de semana inteiro assistindo personagens fictícios fazendo coisas legais, certo? Errado.

Depois de horas e horas, Rossi caiu no sono. Era esse o tipo de vida que ele amava: moscar até tarde da noite, se arrepender de manhã e fazer tudo de novo, isso quando não acordasse depois do meio dia. Mas aquela noite foi diferente. Menos de uma hora após o adormecer, um som alto no quintal o acordou.

-Mas que raios...? - Resmungou Rossi, se sentando na cama - São aqueles bêbados de novo?

Irritado, levantou-se e foi a passos lentos até o quintal. No entanto, quando abriu a porta de vidro, não viu os bêbados que costumavam ficar lá após sair do bar da esquina.

Havia um pequeno buraco na terra. No centro dele, Rossi viu uma pessoa deitada, pareceria que estava apenas dormindo pacificamente se não fossem pelos machucados sangrando, e pareceria uma pessoa normal se não fossem pelas asas enormes e brancas que saíam das costas da criatura.

-Tem um... um anjo... no meu quintal. - Rossi murmurou baixinho, esfregando os olhos.

Não era hora de pirar. Qualquer um pensaria em primeiro ligar que aquela... coisa... era só um doido fantasiado que caíra de bêbado, mas Rossi não era qualquer um. Rossi era um Otaku, e mais do que ninguém, sabia que no momento em que um anjo despencara do céu em seu quintal, ele estaria envolvido em uma história inescapável.

-Ahm.... - Abaixou-se perto do anjo e tocou seus cabelos sujos - Ahm.... Olá? Criatura? Está dormindo?

Sem resposta. Provavelmente estava desmaiado. Então o que Rossi deveria fazer?? Levá-lo para dentro?? Esperar que acordasse?? Nem sabia se era mesmo um anjo, um menino, uma menina, um cosplayer. Mesmo assim, ele sentiu que devia ajudar, então pegou a pessoa nos braços sem dificuldade, pois o corpo era pequeno e leve, e levou para dentro.

Com cuidado, colocou a criatura no sofá - tarefa difícil por conta das asas - e levantou ao máximo sua roupa sem ser indecente para avaliar os machucados. Rossi não sabia muito bem o que fazer, mas buscou pelo kit de primeiros socorros e fez o que pôde. Assim que segurou a roupa do anjo novamente para baixá-la quando sentiu a mão pálida agarrar seu pulso com mais força do que parecia ter.

-O que pensa que está fazendo, seu tarado? - Resmungou o anjo, abrindo os olhos de um azul acinzentado - Está tentando me tocar?

-N-n-não! - Rossi recuou, arregalando os olhos - Eu nunca faria isso!

-Explique-se agora mesmo, mortal! - O anjo se sentou no sofá, parecendo irritado, mas logo sua expressão revelou que sentia dor. Seus cabelos castanho-avermelhados caíram por seus ombros até a altura do peito - Ai...

-Espere, não se mexa. - Rossi segurou os ombros da criatura e a fez deitar novamente - Você está bem... machucada...?

-Não sou uma garota. - Respondeu com irritação.

-Machucado? - Rossi tentou de novo.

-Não.

- Mas você é um garoto ou uma garota?? - Rossi estava confuso.

-Eu sou um anjo, claro. Sou Dominique. - A criatura virou o rosto, inflando as bochechas de modo infantil.

Rossi suspirou, coçando a nuca. Ele cruzou as pernas e olhou para cima, pensando que certamente não era pago para aquilo. Dominique parecia mais uma criança mimada do que um ser de luz e solenidade. Os anjos não deviam ser seres de luz e solenidade?? Por que Dominique não era um ser de luz e solenidade??

-Me dê comida. - Ordenou Dominique, encarando Rossi com um olhar penetrante - Assim te perdoarei por seus atos sujos.

-Eu não estava fazendo isso. - Replicou o garoto, sem conseguir segurar seu sarcasmo - Eu estava tratando dos seus ferimentos. Você estava sangrando, sabia? Tipo, muito. - E após hesitar um instante, tomou coragem para perguntar - Você é mesmo um anjo? Caiu mesmo do céu, e tal?

Dominique não respondeu de imediato. Fechou os olhos, respirou algumas vezes, levantou os braços e escondeu o rosto nas mãos. Depois de quase um minuto em silêncio, enfim respondeu olhando para o teto:

-Eu tropecei e caí no seu quintal.

-Então é só bater as asas e voltar, não? Os outros anjos devem estar preocupados com você. - Rossi respondeu, confuso.

-Não estão. - Dominique virou o rosto para o encosto do sofá, o rosto vermelho.

-Por q...

-Me faça comida!

Rossi se levantou em um pulo, os olhos arregalados, e correu para a cozinha antes que Dominique se irritasse mais. Parecia que a queda era um assunto delicado, então decidira não falar mais sobre isso e deixar o anjo se acalmar antes de tentar conversar novamente. Uma boa refeição sempre acalma qualquer um.

Dedicou-se mais do que nunca à cozinha - Não que se dedicasse muito no dia a dia - e preparou um prato saudável e sustancioso que estava cheirando muito bem.

-Aqui está, Dominique. - Disse Rossi, voltando para sala - Não precisa se... irritar...

Dominique estava dormindo. Dormindo mesmo. E Rossi parou a mão a meio caminho de seu ombro, sem coragem de acordar aquela criatura. Deixou o prato de lado, cobriu Dominique com seu cobertor favorito e se deitou na cama. O sol nasceu poucos minutos depois.

E simples assim, sem aviso e sem preparação, Rossi estava abrigando um anjo caído.

Fallen AngelOnde histórias criam vida. Descubra agora