Os falidos sentem dor

83 2 0
                                    

Cansado do serviço,

chego em minha casa, subo as escadas, vou direto para meu quarto,

em seguida, tiro os sapatos e cheiro as meias, nada mal para quem trabalhou quinze horas sem descanso, meus pés doem e têm feridas.

Escutei um barulho!

Parece ser uma pedrada na minha janela...

verifico.

Por surpresa...

Era um colega de trabalho, alcoólatra, o Espiga.

Perguntei:

''O que você quer Espiga? "

O Espiga, atordoado de cachaça, grita:
"LAN-ÇA, FON-TA-NA, LAN-ÇA".

Ele insiste ...

Os cachorros latem, os vizinhos acordam, de espreita em suas janelas, e cochicham entre si:
" A essas horas da madrugada?... não tem mesmo o que fazer, malandros, felas da puta"!

Repito, morar em condomínio da cohab é foda.

Decidi descer,
E na minha pequena sala de estar, um susto, havia um ilustre intruso, uma coisa horrorosa e fétida, a imagem do satanás em forma de caveira, sentado no meu sofá, e com o meu chapéu panamá, lendo a minha revista de carros.
Ele pergunta pra mim:
"Ain't no sunshine, When she's gone?"
"O quê? pergunto" com raiva e um pouco de medo, deu até a vontade de cagar.
"He's gone poor man style, camon, camom, come here".

Gritei:

" Sangue do Jesus tem poder"!

Aquela criatura riu, até saiu fumaça de seus pequenos orifícios,
e caveira tem pequenos orifícios?

Os cachorros ficaram em silêncio, os vizinhos continuavam a cochichar, o Espiga, o Espiga dormiu, eu acho, a princípio.
A caveirinha se levantou do meu sofá, tirou o meu chapéu, e por incrível que pareça, ele tinha um cabelinho igual de um índio. Desgraceira, me segurei pra não rir!

Ele se aproximou de mim, lentamente eu olhei os seus olhos, vermelhos igual a rubís, seu corpo estranho de ossos, aquele cabelinho ridículo com corte indígena, fétido, fechei os meus olhos, e Gritei:

"SAAAAAAAAI..."

Ele toca em mim, e diz:

" Ei Vicente, se acalma, eu só quero sua assinatura no meu livro".
" Abri os meus olhos cansados da vida sofrida, e vi um exemplar do meu Livro, "PARE DE FUMAR FUMANDO", em suas mãos.

Respondi:
" Nossa cara, que susto, me dá aqui esse Livro, eu vou assina-lo".

Assinei, e vi a alegria em seus olhos de fogo, ele me cumprimentou, e disse:

" Graças a você, eu abandonei o vício do tabaco, obrigado".

"Agora você pode ir embora, Respondi".

Ele acenou que sim, então abri a porta da sala, ele saiu, os vizinhos curiosos o viram e se assustaram, foram dormir, o Espiga, estava sentado na sarjeta, e sem o corote fontana, filtrando os seus olhos em mim, diz:
FON-TA-NA, LAN-ÇA.
Dei 10 reais para ele, logo em seguida, a caveirinha simpatiza com o Espiga, e foram os dois abraçados, um bêbado, e o outro feliz, com o meu exemplar autografado.

Horas mais tarde, soube que o Espiga tinha se suicidado em um lago no parque central da cidade, e virou o assunto nos noticiários.

Assim continua a vida e a ceifa da caveirinha.









VicenteOnde histórias criam vida. Descubra agora