Inicio de um Pesadelo

59 42 0
                                    

No interior da sala de aula, os meus olhos varreram as quatro filas de secretárias em busca da que me desse o melhor ângulo de visão para o quadro. Para minha grande bênção, havia uma que estava sem ninguém e era perto da janela. Na tentativa de não a perder, acelerei o passo sentindo as minhas costas a serem baleadas, por alguns olhares que me seguiam atentamente.

"Como eu detesto isto!", pensei para mim.

Apetecia-me exteriorizar o que estava a sentir naquele momento, como mandar um berro para que desviassem de vez a sua atenção. Tenho a certeza que se optasse por esse caminho, seria visto como um completo louco, e com a sorte que tenho ainda me colocavam um colete de forças e enviavam-me para um ospicío.
Confesso que o meu próprio exagero me fez sorrir um pouco, achando piada aquela parvoisse, podendo ainda atraír mais atenções desnecessárias.

Sentei-me calmamente, agora não tanto com as atenções sobre mim, onde pude retirar do interior da mochila, os livros e o estojo. Aquela primeira disciplina seria inglês, uma das minhas favoritas, conseguindo ter sempre boas notas nos anos anteriores, por isso farei de tudo para que este se repita.

Uma das coisas que mais adorava naquela época do ano, eram os novos aromas que as páginas dos livros e dos cadernos, faziam ao serem folheados. Tal sensação despertava em mim uma vontade de começar a escrever naquelas páginas brancas e limpas. Era um sentimento único e agradável, que qualquer aluno sentia ao regressar ás aulas.

Foi aqui que nos meus desejos longínquos, começei a ouvir um murmurinho que parecia vir dos meus colegas de sala. De inicío não dei grande importância pensando que fossem as raparigas a fazerem uma fofoca, mas poucos segundos depois os rapazes começaram igualmente a cochicharem, conseguindo ouvir algumas das afirmações.

"Como ela é linda", diziam eles.

Não quis olhar por ficar com receio de me arrepender, mas tais comentários faziam aumentar ainda mais a minha curiosidade. Cheguei a um ponto em que os meus músculos do pescoço doiam de tanto forçar que acabei por não aguentar e olhei. Os meus olhos nem queriam acreditar no que estavam a ver.

Vestido preto, cabelo longo e negro, aasim como olhos dourados. Sim aqueles atributos eram-me bastantes familiares, não havendo que enganar.
Ela era aquela que eu encontrei no corredor, que tinha uma aura misteriosa e assustadora.

- Só podem estar a brincar comigo! - pensei para os meus botões.

A rapariga dos olhos dourados estava mesmo na minha turma.

- Que mais de mal é que me irá acontecer! - pensei novamente para mim.

A partir daquele momento achei que toda a minha vida de sossego havia chegado ao fim. A partir dalí em diante, apenas desejava que os nossos olhos não se cruzassem, rezando para que os da fila da frente lhe cedessem os lugares.
Curioso foi o facto dela pouco ligar á amabilidade que lhe estava a ser prestada, vagueando pelas várias secretárias procurando a melhor que se adaptava ás suas preferências.

Eu continuava a olhar para ela como se estivesse a ser atraído por um ímã, sentindo-me hipnotizado. As suas ancas balançeavam de um lado para o outro, tornando aquela silhueta terrivelmente encantadora. Mas eu não daria parte fraca naquela situação, e não a desejava ao pé de mim.

Segundos depois pude ouvir uma voz doce, mas ao mesmo tempo fria e solitária.

- Posso-me sentar aqui? - perguntou-me com um olhar penetrante.

Naquele instante eu não pensei sequer, e dei-lhe uma resposta que contrariava a minha vontade.

- Claro fica á vontade! - respondi com cara de retardado.

A Colega MisteriosaOnde histórias criam vida. Descubra agora