Eu ainda nem acreditava que lhe havia cedido o lugar ao meu lado. Não para a pessoa que eu jurara manter-ne afastado para evitar confusões. Mas ali estava ela com todo o seu esplendor, mostrando-se grande parte do tempo em silêncio. Colocou a sua mala tira-colo de cabedal preto, trazendo alguns porta chaves com peluches pendurados.
Fiquei um pouco surpreso com a sua cor de pele, era bastante branca assemelhando-se quase a um copo de leite. Ela agarrava nas suas coisas de uma maneira delicada, e com um elevado sentido de organização.
Eu limitava-me a olhar para ela boquiaberto, parecendo que nunca havia visto uma rapariga na vida. Graças á minha postura anormal, ela deve de se ter sentido observada, levando-a a retribuir o olhar.- Como te chamas? - perguntou-me com um olhar penetrante.
Confesso que fui apanhado de surpresa com aquela pergunta. As mãos começaram a suar um pouco, não as conseguindo deixar quietas.
Respirei fundo, procurando por quaisquer vestigíos de serenidade, e fitei-a sem medo.- Tyson, e tu como te chamas?
A partir daquele momento a conversa parecia estar a desenvolver-se a um ritmo lento, dando a entender que não a estaria a incomodar. Antes de responder á minha questão, esboçou um sorriso.
- Chamo-me Callidora, mas podes me tratar por Dora. - disse ela.
- É um nome raro de se ver. - respondi com algum nervosismo.
- Eu sei, já não é a primeira vez que me dizem isso, mas tu foste o que abordou o assunto de forma mais educada. - explicou enquanto escrevia atentamente.
Pela primeira vez, desde á muito tempo, a minha análise parecia estar errada á cerca daquela pessoa. A sua postura calma e educada, fazia-me interessar pela conversa não me sentindo tenso ou aborrecido. Era como se estivesse a falar com as minhas irmãs, erradiando calma e interesse. Só que aquele meu interesse subdito, acarretava alguns pontos negativos, como o receio. O receio de me expôr a alguém que possa vir novamente a apunhalhar pelas costas, ou revelar algum interesse sombrio por detrás das suas ações.
Era um pouco difícil lutar contra aquele impulso de a conhecer. Tenho a certeza de que se falasse daquele tema em casa, as minhas irmãs não achariam piada nenhuma, alertando-me para os perigos que isso poderia trazer. Tal ideia arrepia-me da cabeça aos pés.
Aqueles meus medos e dúvidas, não se comparavam ao burburinho que o atraso do professor de inglês estava a causar.O silêncio instalou-se quando uma auxiliar da escola, se aproximou da porta da sala de aula. O seu rosto estava perturbado, parecendo portadora de noticías graves e chocantes.
Na sua mão trazia o que parecia ser uma pequena cábula. Antes de a ler, colocou os seus óculos de ver ao perto, parecendo as suas lentes fundos de garrafas de vidro.- Meninos, trago-vos um comunicado. É á cerca das aulas de Inglês que iriam ter agora. O professor de inglês sofreu um acidente, que vos vai deixar sem esta disciplina, até a um periodo de um mês. Por isso podem ir almoçar, voltando mais tarde para as outras disciplinas.
Para meu choque, ninguém pareceu ter ficado importado com o estado de saúde do professor, levando-os a fazer um grande festejo por aquele furo. Tal comportamento daria a entender aos estranhos, que naquela sala de aula estavam a festejar a vitória de uma terceira guerra mundial. Eu não achei nem um pouco correto, isso levou-me a guardar o meu material dentro da mochila com alguma pressa.
Dei por o meu braço a ser imobilizado por uma força descomunal, querendo-me parecer uma mão. Não me enganei, Callidora agarrava-me no pulso olhando para mim.
- Onde vais? - perguntou enigmada.
- Há algo na justificação da auxiliar que não ne pareceu bem - justifiquei enquanto colocava a mochila ás costas - Vou tirar alguns dos meus minutos de almoço, para averiguar melhor.
Da mesma maneira que eu, ela arrumou igualmente o seu material á pressa, e colocou uma expressão séria e decidida.
- Eu vou contigo.
Tentei fazer com que ela ficasse, mas o seu feitio era igual ao meu, causando-lhe aquela história grande interesse.
Para não perdermos a auxiliar de vists, tivemos de correr da sala de aula para o corredor, e do corredor até á mesa do recreio onde ela estaria sentada. A sua aparência velha e descuidada enganaram-me e bem, porque o percurso desde a sala ainda era grande, e para ela ter chegado ali em tão pouco tempo, o seu passo era realmente acelarado. Para além disso, os seus movimentos estavam bastante trémulos e agitados, não lhe beneficiando em nada naquela situação. Isso só fazia aumentar ainda mais o nosso interesse, relativamente á realidade do que se estaria a passar.
- Peço desculpa - chamei ej.
A auxiliar olhou para mim de lado, com cara de desdém.
- Passou-se alguma coisa?
- Sabe-me dizer mais aprofundadamente o que se passou com o nosso professor? - perguntei curioso
Naquele momento pude notar com grande nitidez, o quanto os movimentos da mulher se mostraram trémulos. A testa suava bastante, não havendo calor que o justificasse. O meu juízo foi rápido. Ela sabia mais do que aquilo que estava a contar.
- Eu acabei de vos dizer, que o vosso professor sofreu um acidente...
Sem ninguém esperar, vi Callidora a agarrar no braço da pobre coitada com grande agilidade, tal como fizera comigo na sala, estando o seu rosto bastante calmo.
- Diga-lhe a verdade..
Do nada, a mulher começou a relatar uma série de factos, parecendo uma daquelas jornalistas que falavam até á exaustão. Para além das palavras excessiva, os seus movimentos corporais haviam estabilizado parecendo uma autêntica tábua.
- Pela informação que me foi transmitida, o professor foi atacado por alguém, cuja identidade não foi identificada. Estes foram os únicos dados que me foram revelados.
Acabando de falar, Callidora recolhera o seu braço largando o dela, fazendo-a voltar ao normal. Na minha modesta e leiga opinião, ela parecia que havia sido efeitiçada. Isto porque numa fração de segundos o seu comportamento passara de rigído a calmo, levando-a a agir de uma forma curriqueira como se estivesse tudo bem. Eu podia ser novo, mas a famosa história de "É só isto que eu sei", era tudo um grande treta, mas tudo bem. Aquele assunto já era suficientemente confuso para estar a pensar nele, por isso dirigi-me para a cantina da escola.
- Pareces-me precocupado com alguma coisa. - disse Callidora.
- E não é para estar? - perguntei confuso - Um professor foi atacado, e a direção da escola esconde o assunto. Não achas que se passou algo de mais grave?
Ela colocou a sua mão no meu ombro, ficando a olhar para mim, mantendo uma expressão séria.
- Esqueçe o que ouviste.
A minha cabeça naquele momento, ficou bastante leve, quase como se estivesse a flutuar numa grande núvem de algodão. Tudo á minha volta pareceu ter abrandado, deixando-me apenas com as atenções nela. O brilho dourado dos seus olhos ficou ainda mais realçado, deixando me impotente.
Perante o que me estava a acontecer, apenas consegui dizer duas palavras.- Como desejas...
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A Colega Misteriosa
VampiriEste livro retrata a vida escolar de um jovem chamado Tyson. Ele está no décimo ano, onde irá ter aulas num liceu completamente novo, assim como colegas e professores. É de seu desejo levar uma vida completamente normal, longe dos holofotes e das c...