Felipe subiu para o quarto de Gustavo. A família estava reunida na porta do banheiro.
Os três se viraram para Felipe.
— Está trancado, mas ele... não responde — pôde sentir a dor nas palavras da mãe de Gustavo.
Felipe estava aturdido, não imaginou que seu dia terminaria assim. A carta do vizinho ainda estava na sua mão. Felipe encarou o pedaço de papel e encarou a família como se fossem insignificantes baratas rastejantes, ele tinha nojo de pessoas como aquelas.
— Se ele se matou, a culpa é de vocês — Felipe sussurrou firmemente.
Os três membros da família Alcântara olharam para o vizinho como se ele estivesse louco.
— Leiam isso, e vejam o que vocês fizeram a ele — Felipe estendeu o pedaço de papel e o patriarca da família agarrou rapidamente.
Os três se sentaram na cama de Gustavo e começaram a ler.
Felipe desviou a atenção deles e olhou para a porta com melancolia. Fechou os olhos torcendo para que a imagem que tinha na sua cabeça não fosse real.
Se aproximou da porta e encostou a cabeça na madeira.
— Gustavo... — sua voz saiu fraca. As lágrimas atravessaram seus rosto. — Gustavo! Gustavo, por favor abre! É o Felipe!
Silêncio. A dor no peito de Felipe aumentou.
— Deus... — a mulher da família Alcântara exclamou ao terminar de ler a carta de suicídio do filho.
Os três estavam com o rosto pálido, os olhos esbugalhados e o corpo trêmulo. Havia mais uma coisa, que não podia ser vista a olho nu. A culpa. Ela corroe os membros como ácido sendo jogado sobre seu corpo.
— Gustavo! Abre por favor! — Felipe insistiu com mais força. Bateu tão forte na porta que ela quase quebrou.
— Gust...
— Felipe? — uma voz trêmula respondeu do outro lado da porta.
Felipe mal acreditou no que ouviu. Era a voz de Gustavo. Fechou os olhos tamanho alívio e suas unhas cravaram na madeira de tanto que ele queria abraçar o jovem agora.
— Gustavo... — Felipe queria ter controle sobre seu corpo, mas soluçava tanto que era impossível falar.
— Felipe o que faz aqui? — a voz saiu mais alta.
E isso despertou os sentidos da família. A mãe correu até a porta e começou a chorar, o pai não sabia se chorava de alívio ou se amparava a esposa. O irmão só fechava os olhos agradecendo de seu irmãozinho ainda está vivo.
— Gustavo meu filho! — a mãe clamava.
— Gustavo, por favor, abre a porta! — o pai pediu.
Felipe parou por um segundo para raciocinar. Afastou um pouco a família da porta (sob olhares de protesto) e lhes pediu silêncio com o dedo.
— Gustavo? É o Felipe. Diz pra mim, você está bem? — os segundos de espera foi torturante.
— Estou... — o mesmo peso foi arrancado do peito de todos do lado de fora.
— Você não fez nada contra você mesmo? — Felipe perguntou cauteloso.
— Eu não... tive coragem — a voz do garoto estava trêmula.
— Gustavo — a mãe interrompeu se aproximando da porta. — Meu filho, você não precisa fazer nada disso. Não precisa! Apenas saia daí e deixe a sua mãe te abraçar — a mulher exclamou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Cura Para Gustavo
Short Story#12 em Conto. Conto vencedor do desafio #SetembroAmarelo. Concurso do perfil RomanceLP. • Esta obra faz críticas a decisão de um juiz federal de tratar homossexualidade como doença. SINOPSE: A sirene podia ser ouvida de longe. Os vizinhos se aglome...