Nova York, a cidade que nunca dorme.
Um cenário atípico abarrotado de prédios, luzes neon e carros. É em meio a essa psicodelia noturna que iniciamos nossa história, não sem antes conhecermos nossos protagonistas: um demônio risonho, um anjo sádico e um humano decidindo entre dois caminhos igualmente cruéis - o suicídio ou sua vida sem perspectivas futuras.
Enquanto o humano está sentado no canto mais escuro, com a arma de um lado e a bebida do outro, anjo e demônio estão sentados frente a frente, decidindo o destino de sua vida enquanto jogam pôquer.
É terrível a maneira como o destino da vida humana é tratado entre os dois jogadores.
- Boa noite amigo, que prazer revê-lo. – O anjo abriu um meio sorriso carregado de sarcasmo rindo em seguida do próprio sadismo enquanto o demônio revirou os olhos.
- Tenho certeza que nem você acredita mais nas dissimulações que saem de sua boca. – O demônio o respondeu com um sorriso aberto, beirando o feliz e o imprudente naquela relação masoquista entre céu e inferno. – Vamos ao jogo?
- Não. – Rebateu o anjo com desdém. – Ficaremos aqui olhando para a cara um do outro até sucumbirmos ao tédio.
- Ainda me pergunto por que me sujeito a andar com tipinhos como você. – O anjo alargou o sorriso.
- A resposta é simples, amigo: nós somos iguais. – O anjo tragou de seu cigarro e fitou o demônio com tédio. – Vamos ao jogo? – Repetiu a pergunta do companheiro de mesa com divertimento e o demônio se perguntava se todos os anjos eram tão sádicos quanto o que estava a sua frente. - Temos algo valioso na mesa essa noite e não quero me demorar.
O demônio deu um meio sorriso e olhou maravilhado para o prêmio da noite: a influência sobre a vida do pobre coitado que estava entre o suicídio e seu apego pela vida, do outro lado, no plano físico.
- Tem certeza que você é um anjo? – Indagou o demônio e o anjo sorriu, levantando a mão em sinal de desdém, para que o companheiro se apressasse em dar as cartas.
As rodadas seguiam em meio à incerteza do humano, correndo os olhos da arma para si e de si para a bebida, onde ingeria grandes quantidades a fim de aplacar minimamente o conflito interno.
O anjo fumava, o demônio bebia e os dois degustavam da frustração do homem no plano físico. O demônio levava a melhor, o anjo assentia com desdém e então, era a última rodada.
O demônio deu as cartas e o anjo olhou um singelo par de dois. O demônio possuía um valete de copas e um cinco de ouro.
Seguiram-se as apostas, o demônio jogou baixo e o anjo apenas cobriu. Ambos eram mentirosos natos e aquele seria um jogo tenso até o fim.
- Vire logo esta merda, não tenho a noite toda. – Falou o anjo, irritadiço pelo tempo que se arrastava aquela rodada.
O demônio sorriu de forma maquiavélica e virou suas cartas: uma dama de espadas, um rei de espadas e um três de copas. A postura do demônio ficou ereta e ele tomou um gole de seu Whisky enquanto arqueava a sobrancelha para o anjo.
Ele apostou baixo apenas para o anjo segui-lo e assim ele o fez e mesmo que aquilo não fosse um jogo de xadrez, o demônio já sorria pensando no que seria seu "Xeque Mate".
Ele virou outra carta e ali estava um nove de espadas. O demônio sorriu já saboreando o gosto de ser premiado com uma sequência enquanto o anjo observava tudo com o desdém característico, enquanto bebericava vez ou outra de seu copo.
Virou-se a última carta: um dez de espadas.
Sem tempo para pensar, o demônio apenas escutou o anjo balbuciar um "all in" e ele estreitou os olhos, analisando as expressões frias de seu companheiro de mesa.
"Ele está blefando." Pensou o demônio "Ele não pode ter um valete... Ou teria?"
- Eu cubro. – Disse o demônio convicto de que o anjo não blefaria dessa maneira, não na rodada final e mostrou sua sequência.
Fez-se um silencio perturbador e carregado de intrigas, até que o anjo se pôs a rir, mostrando seu par de dois.
O demônio, completamente confuso e descrente fitou o anjo.
- Não entendo... Isso era um blefe? – Balbuciou ele. – O que você tentou fazer?
- O jogo é seu, simples assim. – Disse ele despreocupado, virando sua dose de Whisky.
- Você despreza tanto assim a vida humana? – O anjo deu de ombros, o demônio o fitou com descrença e ambos viraram o rosto juntos no momento em que o homem segurou a arma.
Os olhos vagos, sem culpa, sem remorso... era apenas uma casca vazia em busca de libertação.
- Quem sabe?! – O anjo sorriu de maneira sádica.
Ouviu-se o disparo e o homem já não se encontrava no plano físico.
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ALAS
FantasyAlas era um simples anjo, responsável pelos acervos bibliotecários particulares dos celestes, local onde é guardado todo o estudo sobre os homens, sobre o universo e sobre a vida, mas a rotina de estudos não fazia o celeste feliz. Em certa ocasião...