*CAPÍTULO NÃO REVISADO. Se notarem falhas, avisem. Boa leitura.
- Como assim dívida? Eu não consigo entender. – minha cabeça dava voltas e mais voltas enquanto escutava minha mãe falar sem sequer me poupar tempo para respirar.
- É bem simples. Seu pai não tem um pingo de juízo e acabou por nos enfiar no meio da sujeira dele. Não era o bastante beber a maior parte do salário, ele também precisou apostar e se atolar em dívidas. – mamãe estava muito brava.
Eu me sentia em um universo paralelo, nada daquilo parecia fazer sentido. Nunca fomos ricos, mas também nunca tivemos necessidades extremas, vivíamos confortavelmente com o salário dos meus pais. Entretanto, parece que meu pai não estava preocupado sinceramente com nossa estabilidade, pelo contrário, ele fingia pagar as coisas quando na verdade estava consumindo seu dinheiro com porcarias e deixando nossas contas em débito.
- Quanto tempo Roberto?
- Do que está falando Ângela?
- Quanto tempo para pagar esse absurdo? E desde quando você está nesses jogos?
- Eu entrei há poucos meses, um carro do trabalho foi comigo e me apresentou o restante da galera. Não imaginei que fosse ficar preso nisso, só que eles também não me deixavam sair. Eles me deram um mês para entregar a grana toda. – meu pai não olhava para nenhuma de nós enquanto respondia.
- Meu Deus, como vamos arranjar tanto dinheiro em tão pouco tempo? Você não tem um pingo de juízo, sempre te disse para não ir beber com esses seus amigos. Você é um bêbado imbecil que só nos dá prejuízos, nosso casamento foi ao chão por sua causa.
As palavras da minha mãe me fizeram arregalar os olhos assim como meu pai. Ele não estava certo, porém ela estava pegando pesado demais. Percebi a expressão de espanto de papai passar para uma raivosa, o brilho irado nos seus olhos me deixou apavorada pois eu sabia que aquela discussão não terminaria bem.
- Você é muito cheia de si, acha mesmo que é melhor do que eu? Sua falsa. Você nunca tentou me dizer para não sair com eles, nunca nem ligou para a hora em que eu chegava em casa. Você sempre soube de cada saída minha e nunca tentou me impedir porque me preferia longe do que aqui falando verdades para você. – as veias saltavam no pescoço dele enquanto gritava. – Eu não suportava mais levar as coisas desse jeito, sem nada real na vida e mesmo que errado recorri à bebida para tentar esquecer. Não seja hipócrita Ângela, nosso casamento acabou faz tempo e a culpa não foi só minha.
Eu não conseguia raciocinar depois de tantos tremores emocionais diferentes. Sempre soube que meus pais não viviam mais cheios de amores um pelo outro, mas jamais pensei que estivesse num nível tão degradante. Ninguém está preparado para ver os pais se atacando na sua frente, colocando anos de ódio contido para fora sem se importar com quem estivesse perto.
Por alguns minutos me senti absurdamente culpada, pensei que se eu tivesse notado esses sinais mais cedo poderia ter ajudado a reerguer o matrimônio dos dois. No entanto, não há garantias na vida, eu não poderia me culpar quando nunca poderia ter certeza de que teria resolvido alguma coisa. Naquele momento também tomei consciência de que minha bolha tinha me impedido de conhecer as reações e sentimentos das pessoas, eu não sabia absolutamente nada sobre interpretar sinais.
- Chega! – meu grito foi o suficiente para que ambos se calassem e me encarassem. – Vocês não podem simplesmente jogar erros e mais erros na cara um do outro numa tentativa inútil de apagar seus pecados. Vocês dois erraram, ajam como adultos e lidem com isso. O que importa nesse momento é saber como vamos nos livrar desse problema enorme, eu não quero ninguém atrás de mim e acho que vocês também não querem.
Não sabia da onde tinha tirado palavras tão enérgicas e fortes. Acho que a indignação, assim como o medo, domina algumas de nossas ações e nos impulsiona a fazer o que normalmente não faríamos.
- Bom, eu acho que posso tentar um empréstimo no banco. – minha mãe disse voltando a si.
- Eu não conseguiria mesmo se tentasse, meu nome tá muito sujo. – papai me encarou pensativo. – Vou ver o que consigo fazer.
- Ótimo, só não arrume mais confusão, por favor.
Saí da sala com a cabeça prestes a explodir, eu queria gritar e chorar até que toda frustação saísse de dentro de mim. Como meu pai pode fazer isso com a gente? Tudo bem que ele estava emocionalmente acabado, mas isso não era motivo para agir como um adolescente inconsequente. Por outro lado, um estado de pesar me assolava, devia ser horrível viver sufocado pelos seus próprios sentimentos.
Eu estava esgotada. Tomei um banho, me deitei e esperei que tudo aquilo passasse logo. Vovó estava certa quando dizia que crescer não é tão benéfico quanto parece, a maturidade também traz consigo problemas cada vez maiores. Eu não podia fingir que era só mais um pesadelo infantil?
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Amor à Moda Árabe
DiversosQuando uma decisão é roubada de Aisha Meireles, ela se vê dividida entre aceitar o que lhe foi proposto ou lutar pelo que realmente quer. Mas como saber o seu verdadeiro desejo se a vida inteira você foi apenas um figurante? As pessoas almejam coisa...