Gentileza

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{Flashback}

Aos quatro anos de idade, Yoongi foi diagnosticado com anemia. O pequeno precisou fazer uma série de exames e isso incluía exame de sangue. Para as enfermeiras era normal uma criança chorar e gritar com receio daquela agulha que recolheria o líquido vermelho para a análise, elas esperavam que naquela ala de pediatria Yoongi seria só mais um anjo pedindo para que parasse.

Mas ele não gritou.

Estava com medo, talvez até tremendo de medo. Seus olhos arregalados ouviam os gritos e ele agarrava aos braços de sua mãe, que em seguia o afagava e repetia "tudo vai ficar bem". Ele sempre acreditara nas palavras de qualquer um, seu cérebro jamais foi capaz de detectar uma mentira, talvez por isso sofresse tanto.

— Min Yoongi – a enfermeira com a prancheta vasculhou pela sala de espera e viu uma mulher levantar. — É o próximo.

Yoongi se recusou a levantar, mas seus atos foram contra os pensamentos. Pôs-se em pé e deixou que sua mãe o guiasse até o fim do corredor. Deu de cara com uma menina em prantos, ela afagava sua mão próxima ao curativo em seu pulso, resmungava algo para seus pais, que agradeciam gentilmente a enfermeira.

— Min Yoongi? – perguntou a enfermeira. — Sente-se ali, é só uma picadinha, ok?

Assentiu com a cabeça e foi até seu lugar. Esticou o braço naquela superfície de metal e esperou pela agulhada. Sua mãe observava tudo encostada na porta, temia que o filho fosse fazer um escândalo e sabia que jamais seria capaz de controlar uma criança na sala de exame de sangue.

A enfermeira aproximou-se de seu pulso com um algodão repleto de uma substância gelada, ele observou tudo atentamente. Segundos depois, uma espécie de borracha contornou seu antebraço, apertando aquela frágil parte do corpo.

— Só uma picadinha ok? – ela repetiu a frase sorrindo. — Nunca vi uma criança tão quieta como a sua – disse olhando para a senhora Min.

— Ele nunca fez exame antes – a mãe dele sorriu. — Não sei como vai reagir, acho bom chamar um enfermeiro para segurar.

— Será que é preciso? – ela bateu com o indicador sobre a seringa. — Acho que vai correr tudo bem, não é mesmo, Yoongi?

Yoongi assentiu e engoliu seco. A enfermeira sorriu mais uma vez enquanto levava a seringa para uma veia de seu pulso. A agulha entrou de uma só vez atingindo aquela linha roxa e sem seguida recolhendo todo o sangue. Ele paralisou. A dor era enorme, mas ao mesmo tempo conseguia sentir prazer em ver tudo aquilo. Achava um máximo aquele pequeno objeto tirando uma parte de si. Pensou em sorrir, mas deduziu que isso estragaria seu momento de análise.

— Terminamos! – a enfermeira afastou-se e logo voltou com um curativo. — Você foi muito bonzinho! Merece um sorvete!

Desceu da cadeira e correu para abraçar sua mãe. Seus olhinhos lacrimejavam.

— Tudo bem filho, já passou – disse afagando os fios de seu cabelo ralo. — Vamos embora – deslizou o braço para os ombros do garoto e voltou o rosto para a enfermeira. — Muito obrigada!

— Eu que agradeço por você ter uma criança tão comportada – a enfermeira sorriu enquanto guardava a amostra. — Dentro de alguns dias você terá o resultado.

Mãe e filho reverenciaram a profissional e saíram corredor a fora. As mãozinhas de Yoongi encontraram conforto nas delicadas mãos de sua mãe. Ele apertou bem forte lembrando-se da picadinha há alguns minutos atrás, já não era tão fascinante como havia pensado.

— Está tudo bem meu amor? – disse a mãe enquanto saíam pelo estacionamento.

— Sim – murmurou.

FragilidadeWhere stories live. Discover now