Eu quero ir

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— Você tem certeza de que está bem?

Ele já tinha a resposta para a questão. Se ao menos soubesse o quanto os pensamentos do menor eram confusos e quão sombrios eram seus dias, jamais teria feito tal pergunta.

— Eu estou bem, tenho certeza – aquele sorriso torto brotou em seus lábios. Como ele conseguia enganar perfeitamente o rapaz das bochechas sempre tão rosadas.

— Yoongi... Olha para mim – levemente tocou o queixo. — Eu o amo tanto.

Os braços com pequenos músculos rodearam aquele corpo magro e cheio de vida, era como se a podridão em poucos minutos desaparecessem.

Poucos minutos.

— Você está chorando? – Hoseok perguntou sendo rodeado pelos braços do depressivo — Yoongi, o que foi?

— Me deixa morrer, por favor – fungou — Eu quero morrer.

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O café quentinho, a toalha xadrez branca e vermelha bem estendida e o pote de açúcar em meio aquela embalagem de adoçante. Tudo do jeito que o cliente frequentemente mais gostava. O cheiro daquela cafeteria remetia a casa de sua avó, a cadeira de madeira confortável deixava a impressão de que suas nádegas ficariam quadradas. E se realmente ficassem?

Acrescentou duas gosta de adoçante naquele líquido escuro e amargo. Não sabia quando havia adquirido o hábito de tomar café pelo fim da tarde, era um ritual que havia tomado conta de sua vida, entretanto ele sequer conseguia se lembrar de quando a bebida derivada do fruto tão bem cultivado preenchera um grande espaço em sua vida.

Não entendia por que as pessoas diziam que o ato de beber o café deveria ser feito logo cedo. "Por que amargar seu dia logo cedo? Deixe para o final, quando as coisas já estiverem bem ferradas". Por isso toda a manhã gostava de apreciar seus waffles com mel, preparadas com maior paciência e dedicação, era quase ritual.

Abriu um jornal aleatório que estava sobre aquela mesa. Era um cara realmente solitário, nunca levara uma companhia para aquela lanchonete e nem ao menos receberam um convite para ir até outro lugar. Cresceram sem amigos ou colegas. Conversava e se enturmava com maior facilidade, porém não conseguia manter uma amizade sem que seus dramas corriqueiros tomassem conta daquele relacionamento. Mas ele não se importava. Era uma pessoa fechada e jamais compartilharia seus pensamentos com outras pessoas, jamais deixaria que alguém descobrisse o quanto era difícil simplesmente viver.

Apesar de solitário era sempre observado. Aquele que sabia qual era a xicara preferida, ou até mesmo quantas vezes a girava antes de bebericar o líquido. O auxiliar da lanchonete preparava sempre um bom misto quente quando o menor levantava o indicador e sorria, ele apenas precisava lançar um olhar faminto e o ajudante já sabia o que ele queria. Nunca fora capaz de perguntar o nome daquele cliente tão frequente, apenas ficava completamente satisfeito com o sussurrar "obrigado" quando o prato com misto era depositado sobre a mesa.

E lá estava ele em mais um dia, servido as outras pessoas e espiando com o canto dos olhos se o indicador do outro não ia até o ar. Assim que sentiu o braço do cliente levantar correu para a cozinha.

— Um misto quente para a mesa três – sorriu para o cozinheiro.

— Como pode ter tanta certeza de que ele quer isso? – o carrancudo indagou. — Se esse não for o pedido eu vou enfiar no meio do seu cu.

— Eu tenho certeza de que é – disse sem graça com o que acabara de ouvir. — Tenho...

— Faça "mil favor"! – bateu a espátula contra a chapa do imenso fogão. — Ande logo, vá até a mesa daquele esquisito e anote o pedido.

FragilidadeWhere stories live. Discover now