Despedida

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Eu não consigo mais. Eu só não consigo mais.
Em um silencioso, quase luto, ultrapassa a porta que se fecha?! Eu não deixo a porta fechar, e se eu fecho eu não tranco. Eu espero que você volte. E quando sou eu quem vai embora, por mais que eu deixe a chave no divã, devolva seu moletom e afirme com todas as minhas forças que eu não queria acordar mas o quanto sonhei foi bom; eu tenho a cópia da chave, eu tenho a marca do perfume empreguinado no seu moletom e eu não queria acordar mas o quanto eu sonhei estava longe de ser bom.
Não é louco imaginar que isso aconteceu! Porque ninguém imaginou que isso iria acontecer. Ninguém imaginou que eu não teria mais 12 anos para sempre. Eu tenho 17, Gabriel. Eu tenho 17 anos de canções que você nunca ouviu, de poesias que você nunca leu, de prosas que não passam pela sua cabeça. Eu tenho 5 anos de textos que descrevem o quanto eu tenho medo de que você ouça, leia, pense; porque são nesses textos que eu carrego tudo. Tudo!
Esses textos são obra da minha mente no improviso. Eu sentada no piso do meu quarto, tudo escuro. Tudo improviso. Eu sou um improviso. Eu sou um improviso "manjado", mas que pode surpreender. Eu sou como um terror de Stephen King; todos acham que sabem o que vai acontecer e no final eu mudo tudo. Eu mato o herói e o vilão. Eu declaro vitória ao desconhecido.
Eu sou um improviso com tempo, lugar e história traçados, mas ainda assim eu sou um improviso. Eu sou o meu improviso.
Meus textos são carregados de sentimentos. Sentimentos calados, sentimentos remoídos, sentimentos sofridos, de quem não vai deixar você ler, porque você não merece ler. Você não merece ler o que me faz ser quem eu sou, você não merece saber que por mais que você seja um cretino algo bonito sai disso tudo.
Improvisar me dói, Gabriel. Improvisar machuca. Machuca o emocional, porque eu sei, eu sei, Gabriel, que você nunca vai saber como eu sou e porque eu sou quem sou; você nunca vai saber quem eu sou e como te vejo, porque cada um dos meus textos se manterá a sua distância.
O meu amor por você é um jogo de xadrez em que a única ação possível é sempre derrubarar o rei e desistir. XEQUE-MATE! Não importa como está indo o jogo, eu só posso desistir porque já te foi prometida vitória desde o início.
Não me dê a peça da rainha,você não é meu rei. Não me espere voltar, porque dessa vez eu vou trancar a porta, porque dessa vez eu quebrei o frasco de perfume, porque dessa vez eu abri mão de tudo o que eu já fui para te fazer feliz.
Não me espere voltar, porque se for para voltar para você eu não volto.
Em um silêncio, quase luto, a porta não se fecha ela se tranca, se trava, se perde.
Você chegou tão perto, eu pensei: "É agora!". Eu esperei demais, eu sonhei com isso, eu estou caindo de amores. Você beijou meus lábios e eu brilhei com aquilo. Eu estou aqui, onde eu sempre quis, nos seus braços. Nós ficamos juntos toda a noite, foi como um sonho, mas quando a noite acabou eu não pude fazer nada. Você foi embora e eu fiquei ali te vendo desaparecer. Eu sei que você não quer isso: meu amor, meu beijo, meus lábios, então, é melhor eu ir embora também porque se eu começar a te amar você não saberá o que fazer. Eu sei que você tem medo de amar, afinal, partiram seu coração algumas vezes, mas se eles te deram lágrimas eu te darei o céu.
Eu não vou te dar o céu, Gabriel. Eu não te darei lágrimas, eu não te darei minha presença. Eu te desprezo tanto quando seu irmão; por você se calar enquanto ele fala merda.
Eu te amei tanto quanto aguentou o meu coração, mas esse amor fede, esse amor queima, esse amor tortura e eu não vou continuar aqui.
O texto acaba, Gabriel. Como tantos outros, para você, os textos acabam. O baseado apaga e o copo continua seco porque eu não vou mais fumar ou beber para afogar minhas mágoas. Seus textos finalmente acabaram. Finalmente acabaram. Não haverá mais um lindo sorriso discreto ou os olhos verdes. Não, não haverá mais, não haverá.
E casou ainda te reste dúvidas do nome desse texto improvisado, pode chamar-lo de Despedida.

Cartas lacradas para um amante em abertoOnde histórias criam vida. Descubra agora