14:08

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O olhar dela permanecia baixo e quase deprimido, talvez tanto que não percebia o olhar dele por cima do açaí. Arthur realmente parecia mais atento a ela do que o normal, e ela mais desatenta a tudo do que seu estranho mais extremo.
Quando ela finalmente terminou sua salada de frutas ele já havia terminado de comer há tempos, então permaneceu observando-a, sem filtros, sem a vergonha comum. Ele estava banhado de uma coragem, tranquilidade e brilho no olhar, todos tão estranhos para quem o via diariamente emburrado que, até mesmo se Alice o visse agora, assustaria.
Os olhos negros e redondos dela se voltam diretamente para os que a fitam. Sua respiração cessa. Ela volta a si e se perde em tão pouco tempo como sempre ocorre quando ele a olha nos olhos, o que raramente acontece. Sua mente se acende.
- É um sonho?- ela o observa quase estática.-Uma visão? Nunca são tão detalhistas... São apenas flashes, momentos...- seus pensamentos perdem a linha quando ele abre um sorriso.
-Você está muito quieta hoje. Aconteceu alguma coisa?- ela mantém seus olhos nos dele. - Você não costuma ficar tanto tempo em silêncio.- ele não desvia o olhar, pela primeira vez.
- Eu...- sua mente voltou a certeza de um sonho.
Ela não sabe em qual situação eles saíram, ou quem convidou quem para o lugar de sempre. Como poderia dizer o que a mantia quieta daquele jeito se ainda não havia vivido a ocasião que, mesmo desconhecida, a deixava triste, confusa, quase irritada.
Seus olhos se voltam para o celular em cima da mesa. Ela vê o horário e abre um sorriso forçado.
- 14:08! Acho que a gente deveria voltar.- ela se levanta mantendo os olhos baixos, que passam vagamente pela mochila dele, deixada no banco na sua frente.
Seu corpo se move rapidamente em direção a sua mochila. Um frio na espinha a envolve, ela para. Seus olhos se voltam a Arthur, ainda sentado. Ela caminha para vê-lo de cima, com uma sensação de que a gravidade agia quase mil vezes mais sobre ela, com cada passo sendo quase impossível.
Borboletas a envolviam no estômago, fazendo-a sentir como se estivesse prestes a desabar. Tanto medo e desejo, mesmo sem saber o porquê. Ela sentia que não devia mais andar, então seus passos param, longe dele, que se levanta e para perto dela. Os olhos nos olhos a mantém estática pela primeira vez.
-Por que ele não desvia? Por que não recua?- sua mente estava a mil, assim como seu estômago, assim como seu pequeno coração, prestes a sair pela boca.
Os olhos dela se voltam para os copos vazios na mesa, suas mãos tentam alcança-los, tudo vagamente. Os braços de Arthur a envolvem, enquanto ele dá os últimos três passos que os separavam. Sua mão direita acolhe o rosto de Alice como se ambos pertencessem e tivessem sido feitos um para o outro, estranhamente, eles se encaixaram.
Quando os lábios de Arthur tocaram os de Alice a respiração dela sumiu. Seus olhos se fecharam e ela desabou de um modo que ele apenas a apoio em seu corpo e a firmou em seus braços. Ela voltou a si e retribuiu o beijo, tão calma que parecia ter saído do seu estado antigo e atingido o nirvana, finalmente.
Quando eles se separaram, ela o olhou assustada. Ele sorriu e retribuiu o olhar percebendo que havia tirado a garota de sua área de conforto.
O gosto de açaí em seus lábios era marcante, assim como o lençol que a cobria, pois nesse exato instante, ela acordou.

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⏰ Última atualização: Jun 24, 2018 ⏰

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Cartas lacradas para um amante em abertoOnde histórias criam vida. Descubra agora