Fotografia

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Ela coloca a colher na boca e encara o celular tristonha.
Era a milésima foto de Sophie e Henry juntos, e não que Elisa não amasse ver seus amigos juntos, mas a foto deles juntos, como a de qualquer casal, não a fazia sorrir de forma simpatizante, afinal, tal ato "fotográfico" não se realizava com ela.
Quando Eduardo se aproximou da mesa ela guardou o celular. Ele se sentou olhando para ela, que tentava sair de seu transe de tristeza.
- O que foi?- ele pega uma colher de açaí sorrindo.
- Nada... - resposta vaga.
- O que você tava vendo?
- A foto nova da Sophie com o Henry...- seu tom demonstra a tristeza.
Não é que os dois não tiravam fotos. Eles não tiravam na verdade, mas em sua grande parte porque ninguém sabia que os dois estavam namorando.
Quando tudo foi acordado, semanas atrás, Elisa pediu que ninguém soubesse além da família e poucos amigos. Não queria que ninguém do colégio soubesse, ou muitas pessoas. Se dependesse dos dois, nem mesmo a família saberia, porém ela abriu algumas condições.
De qualquer forma, eles não trocavam carinho em público, nem andavam de mãos dadas, ou se abraçavam. Isso fazia com que Elisa repensasse sua decisão, pois ela queria ama-lo até que não sobrasse mas sentimento, mesmo que ela soubesse que seu carinho só aumentava a cada dia.
- A gente não tem fotos juntos, né?- ele diz isso com os olhos baixos, cavando o copo de açaí.
Elisa quase engasga com a fala do amado. Ele realmente a conhecia ou apenas pensava como ela. O que é, nunca saberemos, mas ela não sorriu com a fala dele.
- Não deveriamos tirar fotos juntos?- ele a olha nos olhos.
- A gente não vai postar... Por que ficar tirando fotos?- o sorriso dele desaparece.
-Namoramos pelos outros ou por nós?- ela arregala os olhos.- Vamos tirar fotos juntos!
Ele se levantou e sentou-se ao lado dela, desbloqueando o celular e ajeitando a câmera. Ele a encaixa em seus braços e começa a fotografar.
Elisa prestou atenção em cada cheiro, cada toque. Seus sentidos não se voltaram para a foto, mas para ele.
A cada toque ela se arrepiava, sentia algo em seus nervos que pulsava, algo em seus músculos que se contraiam, cada parte de seu corpo implorava ao toque.
A cada cheiro ela se desligava, sentia que algo em sua mente desligava de tudo, algo em sua pele pedia pela dele, algo nela se viciava no cheiro dele.
A cada respiração compartilhada, perfume misturado, toque recebido e retribuído, ela se odiava por não deixa-lo toca-la sempre.
Quando ela percebeu, ele a encarava de cima. Seus olhos pousavam tão calmamente sobre ela que pareciam dizer que a entendiam. Ele abriu um sorriso e a deu um beijo doce.
Seus lábios tinham gosto de açaí. O cheiro era do perfume dele, a sensação era de arrepio ao toque leve. Olhos nos olhos, a visão era descrita como perfeita por ela.
Elisa acorda chorando. Dessa vez ela também se questiona como alcançar um sonho tão distante.

Cartas lacradas para um amante em abertoOnde histórias criam vida. Descubra agora