- PRÓLOGO -

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Encarei o reflexo do espelho na minha frente, trajando um vestido preto herdado pela minha mãe. Pude ver o rosto de Matthew se contorcendo enquanto tentava subir o zíper que se estendia por toda a superfície do tecido.

-  Acho que todo esse chocolate não te fez bem, Alie  – brincou, dando um tapinha entre minha omoplata, indicando que já havia terminado.

Me virei, puxando-o pelos ombros para que pudesse ficar em frente a mim, encurralando-o pelo espelho.

- Vamos marcar uma academia juntos um dia desses  –  eu disse, arqueando as sobrancelhas repetidamente, e levantando sua camisa preta gola V, deixando a mostra seu tanquinho de jogador de basquete. Ele fez uma careta, puxando sua camisa rapidamente de volta para o lugar, e me mostrou o dedo do meio, que respondi mostrando a língua.

- Deixa de ser criança e vamos logo, não quero chegar quando a bebida já estiver acabada. –  e saiu pela porta quando ouviu uma buzina no lado de fora. - Anda logo pirralha, você é bonita até de pijamas - gritou.

Sorri em agradecimento e dei uns últimos retoques na maquiagem e ajeitei meu cabelo solto pelos ombros, meus olhos azuis contrastando com a cor do vestido.

Dra. Stacy Dalton, nossa mãe, estava de plantão e por isso não voltaria antes da festa acabar. Então pedi a Kanye para nos dar uma carona, já que ele não bebia. Meu pai, arquiteto, provavelmente agora estaria enfurnado em alguma reunião pelos arredores de Los Angeles, alegando que precisava arejar a cabeça para iniciar outros projetos.

Desci as escadas correndo, tomando cuidado para não cair devido aos saltos que calçava. Fechei a porta de entrada e pulei para dentro do BMW 635 1984 do meu amigo, ajeitando meu vestido no banco do passageiro.

- Eu fiz uma ótima escolha quando pedi para você usar esse vestido. Todos vão esquecer o que estão fazendo logo quando te verem entrar, Lex-Queen. –  meu melhor amigo me elogiou, piscando pra mim.

Kanye sempre me ajudava a escolher peças de roupas quando saiamos para as boates no bairro Castro SF, Califórnia. Na primeira vez que fomos em uma boate gay, fora a noite que Kanye Scott assumiu sua sexualidade para mim, e fiquei honrada em ser a primeira a saber. Mesmo seu rosto com marcas fortes masculinas, sempre imaginei que gostávamos do mesmo doce. Em todos nossos 5 anos de amizade, nunca senti a necessidade dele me dizer alto e claro. Apertei suas bochechas até deixá-las vermelhas.

- Gente, vamos nos apressar? Não é desfile de moda em Paris! Pisa fundo que a Nikky já tá me ligando, cara –  Matt resmungou no banco de trás e logo Kanye atendeu seu pedido, ziguezagueando por entre a chuva de carros que se acumulava à nossa frente. Eu estava com uma péssima sensação essa noite. Não queria ver meu irmão deitado em sua cama encarando o teto por outra briga estúpida que a Nikky sempre começava. 

Depois de algumas conversas aleatórias no carro, Kanye pediu para irmos entrando, que ele procuraria uma vaga relativamente perto da casa para estacionarmos. As ruas de Nob Hill estavam lotadas com os automóveis dos estudantes da Branson High School San Francisco, e até mesmo de outros colégios rivais dos LAKERS.

Nathan Dickens era conhecido por dar as melhores festas, isso era fato. Os boatos que corriam sobre ele e suas "pequenas comemorações" eram intermináveis. Passando de "confraternização épica à festa mais foda do ano". Consequentemente, não tinha nenhuma que ele não fosse convidado.

Eu sempre acabava indo, apenas para vigiar a quantidade alcoólica que meu irmão ingeria. Embora tentasse não me manter próxima do "clubinho de basquete e suas ninfetas" - como eram lastimavelmente conhecidos - os jogadores e suas líderes de torcida e ainda assim dava o ar das caras, pelo bem da sanidade do meu irmão.

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