Everybody Talks

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Passando os olhos pelo formigueiro de alunos percebi que alguns ainda deveriam estar de ressaca devido à postura de zumbi e os olhos vidrados com a expressão abobalhada de que não estavam completamente sãos para entender onde estavam.

    Ao passar pelos corredores é difícil não ouvir os sussurros que circulavam, me fazendo pensar que as pessoas mais se preocupam com as vidas alheias do que com os próprios problemas, patético.

    Me animei ao encontrar meus amigos perto do refeitório, Olivia estava descontente ao ouvir uma espécie de sermão que Kanye  lhe dava. Chegando um pouco mais perto ambos pararam de falar e viraram-se para mim.

     - Está tudo bem?  –  perguntei esperando a resposta de Olie tocando em seus ombros.

    - Tudo sim –  Kanye cortou-a antes que pudesse responder– Na verdade, o que acha de já pegar um lugar na fila? Te encontramos em menos de dez minutos. Precisamos resolver um assunto antes.

    Disse apressadamente já puxando a menina pelos pulsos, deveria ser mais uma de suas inúmeras tentativas de fazê-la sair com um rapaz. Arrastei meus pés e me plantei em uma fila esperando por comida, já estava faminta.

Girei a cabeça com a sublime esperança de relaxar o corpo, por uma razão desconhecida meus músculos estavam tensos, olhando para o teto pendendo a mesma para trás ouvi alguns ossos estalarem.

Porém outro barulho tomou conta de minha atenção, era meu estômago se embrulhando clamando por qualquer tipo de comida.

Passei minha mão tentando acariciá-la como se eu estivesse grávida à três meses. Olhei sem paciência para os ponteiros em volta de um dos meus pulsos, já se passaram quinze minutos, e meus pés sedentários não aguentavam mais segurar meu peso.

-  Aposto que alguém não come há dias –  virei-me assustada em direção à pessoa que se pronunciou, repousando uma de suas mãos em meus ombros.

Nathan.

- Perdeu algo?  –  disse sarcasticamente, cortando o contato de sua mão em minha pele. Fiz questão de formar uma cara de enojada, que o fez rir, não sendo o resultado que eu esperava.

- Acabei de achar.  –  ele estava com um ar calmo. Até demais para meu gosto.

O jeito que me olhava, diretamente em meus olhos me deixava com náusea. Quase tive que desviar o olhar.

A palavra chave é quase.

- Vai esperar na fila? À que devo-lhe a honra de poder fazer parte deste momento inédito? –  fiz uma reverência abanando minhas mãos exageradamente chamando atenção de mais olhares do que o esperado.

Não era novidade que Dickens e seu grupinho desfrutavam e abusavam do fato de terem o privilégio de passar na frente de todos nós.

Nós que nos fazíamos de idiotas, famintos, medrosos em formar sequer uma sílaba para nos defender.

Alguns tinham aberto uma passagem para que Nathan andasse, sem encontrar nenhum obstáculo em seu caminho, até uma das bancadas onde poderia se servir. 

Porém ele não se mexeu.

Agradeceu com um sutil aceno com a cabeça, mas se manteve ao meu lado.

-Mudar um pouco não faz mal, rotinas podem ser entediantes  –  confessou andando alguns passos conforme a fila encurtava. –  Além do mais, não tem muito como fugir de mim. Se não você perde seu lugar.

- O que você quer exatamente? Sei que não veio aqui para me contar como foi o resto do seu fim de semana  –  levantei minha mão em protesto quando vi que ele estava cogitando em conversar sobre o assunto – Não perca meu tempo precioso. Ambos temos mais o que fazer.