Levou bastante tempo até que eu compreendesse tudo. Eu me lembro de ter olhado para Tamael e começado a fazer perguntas assim que peguei o relógio. E então ele disse:
─ Você é uma de nós agora. Ricardo irá te guiar. Você irá se acostumar com nossa rotina... Ricardo, por favor, mostre a ela a casa.
─ Eu tenho perguntas! ─ protestei ─ Meus pais... Onde estão? Eu quero vê-los.
─ Na-na-não ─ ele riu sacudindo o dedo. ─ Seus pais seguiram em frente, não estão mais em nosso plano.
─ Que plano?
─ O plano espiritual superior ─ ele respondeu como se fosse óbvio. ─ Não estamos entre os vivos, mas também não podemos falar com todos os mortos.
─ Podemos falar com os mortos?
─ Sim, aqueles que ceifamos.
─ Mas... ─ eu tentei protestar, mas não teve jeito. Tamael nos expulsou de sua sala dizendo que tinha assuntos a resolver e que poderia sanar minhas dúvidas na reunião das 19 horas.
─ Reunião? ─ perguntei ao Ricardo.
─ Parece que você não foi a única escolhida de hoje, tem mais alguns... E haverá uma reunião para os iniciantes.
Nós descemos a escadaria e olhei para o relógio do salão. Eram 17h40min, o que eu ia fazer até a tal reunião? Olhei para os lados e alguns ceifeiros conversavam e outros liam livros em seus cantos.
─ Ricardo... O que devo fazer?
─ Pode ficar à vontade na casa. Esta é nossa casa de reuniões e funciona como escritório também.
─ Certo... Mas o que vou fazer depois disso? Depois dessa reunião? Quer dizer... Ceifeiros dormem? Comem?
Ele sorriu e olhou para os lados, observando os demais ceifeiros. Então olhou para mim e disse:
─ O que você está vendo, Alyssa?
─ Ceifeiros?
─ Sim, mas o que estão fazendo? ─ ele perguntou e eu respondi apenas dando os ombros sem saber o que falar ou o que fazer. ─ Eles... estão conversando e lendo livros.
─ Sim ─ disse meu guia. ─ Ceifeiros não são humanos, mas agimos como tal. Podemos comer, mas não precisamos. Ou seja, não morreremos de fome. Na verdade, não podemos morrer... Já estamos mortos! Você pode ficar aqui e aguardar até o horário de nossa reunião. Aproveite para fazer amizades.
─ Parece meu pai falando... ─ murmurei. Fazer amizades? Sério?!
─ O que disse? ─ ele perguntou enquanto se distanciava.
─ Nada não... Vou dar uma volta pelo local, eu posso?
─ Lógico ─ ele sorriu e me deixou sozinha no salão.
Eu segui pela prateleira de livros observando os títulos. Eram variados, havia romances, livros religiosos (de várias religiões) e livros de direito, comunicação, português... Era muita coisa! Eu caminhei pela sessão de livros históricos e a um canto, estava um pequeno corredor escuro. A luz era fraca, mas comecei a passear minha mão pelos títulos até parar em um deles. Um livro de capa preta cujo título era: "O Sagrado Elixir".
Eu peguei o livro e abri. As páginas amareladas estavam todas escritas à mão com caneta preta. Parecia mais um diário... Virei as páginas sem dar muita atenção ao texto, apenas à caligrafia: fina, sempre com a letra inclinada para o lado direito. Aliás, era pouco legível. Eu fechei o livro e olhei o nome da autora: Joyce Salem.
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A ceifeira de almas
FantasyApós uma trágico acidente de carro, a jovem Alyssa de vinte e dois anos perde toda sua família e agora se vê obrigada a viver de forma diferente. Após sua morte, Alyssa se torna uma ceifeira de almas. Agora, separada de sua família e em busca de re...