Capítulo 4

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Quando a reunião acabou, eu senti que tinha mais dúvidas do que respostas. Tamael ainda me parecia ser estranho demais. Saindo do salão, Carmille avançou em minha direção alegre e disse:

─ E aí? O que achou?

─ Quero ver minha família.

─ Você não pode ─ ela disse séria. E seu ar alegre desapareceu. ─ Não entende, não é? Os mortos vão para outro lugar. Os ceifeiros ficam. Nós ficamos. Eu sinto dizer isso... Mas não iremos ver mais os que se foram.

Eu respirei fundo e me acalmei. Tudo bem, então nunca mais veria minha família. Isso não era justo!

─ Eu não pedi para ser uma ceifeira! ─ eu disse irritada. ─ Isso é errado e insano. Não quero tirar a vida de ninguém e além do mais... Como podem seguir as ordens de Tamael? Quem é ele afinal?

─ Ele é o único que conhece a Morte. Tamael é o braço direito, precisamos obedecê-lo.

─ Se não o quê?! ─ eu disse irritada ─ Ele vai nos matar? Já morremos.

Carmille segurou meu braço firme. Eu reclamei que estava me machucando, mas ela não soltou. Então olhando no fundo de meus olhos eu vi que ela estava irritada e ao mesmo tempo apavorada.

─ Alyssa, estamos aqui para servir a Morte. Aqueles que não seguem as ordens, aqueles que não cumprem as regras... Eles não recebem uma segunda chance como nós. Depois de três meses, você poderá levar uma vida quase normal... Mas será solicitada quando for necessário. Desertar não é uma opção, tá legal?

─ Mas por quê? Por que eu?! ─ Ela soltou meu braço e olhou para os lados. Ceifeiros se distanciavam e procuravam seus guias.

─ Bem que eu gostaria de saber ─ ela deu de ombros.

***

Carmille e Gabie conversavam em um canto do salão. Eu fui procurar por Ricardo e logo o encontrei de pé me encarando. Suas sobrancelhas estavam arqueadas e seu semblante mostrava preocupação.

─ Então... Vi que fez amigos.

─ Eu não diria que são amigos.

─ Conhecidos?

─ Chame do que quiser ─ eu disse cruzando meus braços e encarando-o. ─ O que faremos agora?

─ Bem, você poderá ficar no quarto com Carmille. Fica no andar superior. Ficará aqui por enquanto com os novatos. Vocês terão o treinamento aqui, depois estarão liberados.

─ Carmille? Mas ela não é novata.

─ Não, mas ela não tem casa. Então ela mora aqui.

─ Como ela consegue? Essa casa é enorme... Mas por fora, é assustadora.

─ Aqui, pegue. ─ ele estendeu o braço e me entregou uma folha de papel ─ Bem-vinda à Hogwarts dos ceifeiros.

Revirei os olhos e olhei o papel. Nele estavam escritas as normas da casa como: toque de recolher, a hora do café da manhã, almoço, etc. E o mais interessante: as aulas de defesa pessoal.

─ Pra quê preciso de defesa pessoal?

─ Para se defender.

─ De quê?

─ Bem, de qualquer ameaça. Somos soldados, Alyssa. Existem muitos perigos por aí. Como os intitulados "Anjos da Morte", eles são extremamente perigosos.

─ Anjos da Morte? Sério?! Não tem um filme com esse nome?

─ Talvez você não devesse ser tão sarcástica. Podemos ser imortais, mas os Anjos também são. E a única coisa capaz de matar um ceifeiro, é outro ceifeiro.

Ricardo estava sério. Fossem quem fossem esses "Anjos", não pareciam ser boa coisa. Fiquei sem graça e sem saber o que dizer. Então tentei mudar de assunto.

─ E que tipo de defesa pessoal teremos?

─ De vários tipos ─ ele sorriu.

Quando eram dez horas resolvi ir para o meu quarto. Carmille já estava lá sentada em sua cama. Ela estava lendo um livro e apenas me olhou quando entrei no aposento.

─ Hey ─ eu disse ─ Então, o toque de recolher é às 23 horas?

─ Sim. Todos deverão estar em seus quartos até às 23 horas. Ainda bem que você não demorou.

─ Posso fazer uma pergunta? ─ eu disse me sentando em uma cadeira próxima à janela. Ela usava um pijama preto.

─ Pode sim.

─ Como é viver aqui?

─ Não é divertido se você quer saber. ─ ela fechou o livro e me olhou seriamente ─ Mas a gente acostuma. Depois de um tempo, não é tão ruim, sabe? Não é como se tivéssemos muitas opções. ─ então ela sorriu e deu de ombros.

─ Sei. ─ fiz um breve minuto de silêncio antes de falar algo ─ Ricardo me contou uma coisa. Temos aulas de defesa pessoal.

─ É ─ ela riu ─ É legal, você vai ver.

─ Ele me contou também... Que temos que aprender a nos defender por causa de Anjos da Morte. ─ Ela ficou séria e pareceu preocupada ─ O que são esses Anjos da Morte?

─ São ceifeiros. Eles são como nós. ─ ela disse sem olhar em meus olhos e não entendi o por quê. Do que ela tinha medo? ─ Eles são perigosos, uma ameaça.

─ Se são ceifeiros, por que se chamam Anjos?

─ Eles se autonomeiam de "Anjos da Morte", mas nós os chamamos de Desertores. Eles se recusam a cumprir as regras. Eles não seguem a lista ─ a última frase foi apenas um cochichado.

Aquilo me deixou intrigada. Mas antes que eu pudesse dizer algo, ela continuou:

─ Eles matam quem eles querem matar. Eles destroem o equilíbrio do universo! Devemos ceifar os nomes da lista, quando uma pessoa morre e não está na lista... Ela se torna um ceifeiro. Quando uma pessoa abandona seu posto, quando se recusa a ceifar os da lista... Ela se torna um Desertor. Eles são perigosos, eles são os únicos que podem nos ferir.

─ Eu não entendo... Por que eles querem nos ferir?

─ Alyssa, eles são rebeldes. Agem contra nosso sistema. São assassinos.

─ Deveriam escolher um nome melhor... Anjos da Morte parece mais um nome de algum clube de motoqueiros!

Nós duas acabamos rindo. Carmille voltou a ler e mandou que eu me trocasse. Disse que tinha algumas roupas no armário, então obedeci. Ela disse que em breve iriamos arrumar algumas roupas pra mim. Depois de me trocar e escovar os dentes me deitei na cama de baixo do nosso beliche.

─ Vou apagar as luzes ─ ela disse.

─ Tá. Boa noite.

─ Boa noite ─ ela respondeu.

Com a cabeça no travesseiro macio e coberta pelo lençol fino, fiquei imersa em pensamentos virando de um lado para o outro sem conseguir dormir. Desertores... Ceifeiros... Será que se eu dormisse eu iria acordar daquele sonho estranho? Mas e se eu realmente estava morta... Como é que eu iria dormir?!

Mais uma pergunta para adicionar à minha lista de dúvidas.

A ceifeira de almasOnde histórias criam vida. Descubra agora