Capítulo 5

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Quando abri meus olhos as cortinas do quarto estavam abertas e o sol entrava iluminando o ambiente. Carmille estava arrumada sem seus pijamas e penteando seus cabelos.

─ Melhor você levantar logo. ─ ela disse. ─ Vai acabar ficando sem café se demorar.

─ Já vou ─ resmunguei ─ Que horas são?

─ Sete horas em ponto. Hora do café. Nove horas começam as aulas de defesa pessoal.

─ E isso vai até que horas?

─ É o dia todo. ─ ela riu e balançou a cabeça ─ Só paramos ao meio-dia para o almoço. Não viu o horário?

─ Sim, mas não acreditei que fosse isso mesmo.

─ Pega as roupas da mala ─ ela apontou para o canto do quarto e ali estava uma mala azul-marinho.

Com muito esforço, levantei e peguei minhas roupas na mala azul que estava ao lado da minha cama. Sabe-se lá Deus como eles adivinharam meu tamanho. As roupas ficaram boas em mim! E como é que eu podia estar cansada se não era mais humana? Aquilo tudo era novo pra mim. E muito estranho. Carmille desceu para o café. Eu me olhei no espelho e tudo o que eu via era meu reflexo me olhando de volta. Não havia nada de diferente em minha aparência... Mas todo o resto era diferente.

Quando cheguei ao salão, o casal de góticos conversavam mais do que comiam e Carmille assim que me viu abriu um enorme sorriso e apontou para a cadeira vazia ao seu lado.

─ Anda novata! ─ ela disse.

─ Bom dia ─ eu disse me sentando à mesa e olhando a farta quantidade de comida.

Pão com manteiga, frutas, bolos, cereais, panquecas e ovos fritos. Tinha de tudo um pouco! E para beber? Café com leite, suco de laranja, chocolate quente e chá! Peguei um pão com manteiga, um bolo e um copo de café com leite. Por mais estranho que fosse eu estava faminta!

Um homem calvo apareceu na porta do grande salão e disse:

─ Bom dia!!! Para os que não me conhecem, meu nome é Israel. E sou encarregado de separá-los nas turmas de defesa pessoal. Após o café, por favor verifiquem a lista na parede dos corredores. Vocês encontrarão seus nomes e onde farão o treinamento. Tenham em mente que os ceifeiros novatos não usaram nenhum tipo de arma e só poderão participar das aulas avançadas caso recebam ordens para frequentar essas aulas.

O homem saiu de cena me deixando curiosa. Armas? Iríamos usar armas?!

─ Carmille... Como assim armas? ─ perguntei meio surpresa.

─ Você não. Novatos só praticam defesa pessoal mesmo.

─ E isso de armas?

─ Depois de três meses. Você aprenderá a manusear uma faca especial. Uma arma contra ou desertores, os Anjos da Morte.

─ Cada faca possui uma identificação. E só pode ser usada contra o inimigo. Nós a carregamos, mas não usamos. Não se preocupe. É apenas para se esbarrarmos com um deles.

Aquilo me deixou curiosa e com medo. Iríamos carregar facas por aí? Olhei ao redor e não vi ninguém armado.

─ Não estou vendo ninguém com faca.

─ Não aqui. ─ ela riu ─ Mas não podemos deixar a casa sem levá-la.

─ Então temos que carregar uma faca e um relógio?

─ Isso mesmo.

Quando acabamos de comer, Gabie, Luke, Carmille e eu fomos até os corredores verificar onde estavam nossos nomes.

─ Castelo de Edimburgo ─ exclamou Carmille ─ Só pode ser brincadeira!!!

─ Caramba ─ disse Gabie olhando o nome dela. ─ De novo? Parece que estamos presas naquele inferno! Toda vez esse maldito Castelo!

─ Eu também ─ disse Luke revirando os olhos ─ Será que alguém consegue sair de lá?

Fiquei olhando para eles sem entender nada. Procurei pelo meu nome e quando encontrei lá estava: Alyssa Nunes, Cemitério.

─ O que é isso? ─ perguntei assustada.

─ Nada demais. Aproveita que é caloura. Depois é só isso... Treinamento em lugares cada vez mais estranhos! ─ Disse Gabie.

─ Cemitério? Castelo? ─ eu ainda estava confusa. ─ Não estou entendendo...

─ É ─ disse Gabie. ─ Deixa eu explicar. Novatos treinam em três campos de concentração. Cemitério, que é o primeiro. Cidade, o segundo e o terceiro é no Raynham Hall, na Inglaterra. Depois você começa a treinar em locais mais difíceis... Cemitério de noite dá medo. Mas esse local pra onde a gente vai... É mil vezes pior.

─ Mas isso quer dizer que eu realmente vou treinar defesa pessoal em um cemitério?!

─ Pode crer que vai ─ riu Luke ─ Agora de dia é tranquilo. De noite é que é legal.

─ Boa sorte ─ disse Carmille.

─ E como funciona isso? ─ nós três andávamos até o salão e quando eu achava que estava entendendo as coisas... Mais dúvidas surgiam.

─ Relaxa. Você vai entender e pegando tudo com o tempo ─ disse Luke

─ É muito ruim o de vocês? ─ perguntei.

─ MUITO! ─ quase gritou Carmille. ─ É a porcaria de um Castelo enorme. Temos um mês de treinamento lá. Se não passarmos na prova, repetimos tudo de novo.

─ Parece bem ruim... ─ minha voz era apenas um sussurro. O que eu tentava imaginar é como seria esse treinamento.

Estávamos os quatro no salão conversando mais um pouco sobre o treinamento. Luke estava decepcionado, Gabie também e Carmille com raiva de ter que enfrentar o mesmo local de treinamento. De repente um homem alto e careca entrou no grande salão:

─ Castelo de Edimburgo, Escócia! Sigam-me!

─ É a gente ─ disse Gabie. Luke fez que sim com a cabeça.

─ Até mais tarde ─ disse Carmille.

Seis pessoas deixaram o salão, contando com meus amigos. E em seguida, uma mulher de porte médio e cabelos castanhos adentrou olhando para todos os lados. Ela tinha as maçãs do rosto altas e coradas, devia estar na faixa dos quarenta e poucos anos. Sua voz era grossa e soava ríspida:

─ Novatos, venham comigo. Cemitério.

Eu dei um pulo do sofá e mais nove cabeças se movimentaram para seguir a mulher. Ele nos levou até o lado de fora da casa. Com a luz do sol a casa não parecia mais tão ameaçadora, mas algo nela ainda me incomodava. Ela ordenou que formássemos um círculo e assim fizemos.

─ Meu nome é Aldeara. Serei a treinadora de vocês. Já vou avisando que não irei facilitar muito. Mas saibam que os três primeiros meses são os mais fáceis e importantes. Se quiserem ter suas vidas de volta, e viver entre os humanos, é melhor que se esforcem. Vamos aos nomes, você ─ disse apontando para um garoto magro e alto ─ Qual é o seu?

─ R-Roberto.

Ele encarou a menina ao lado esperando que ela falasse o seu, e assim ela fez:

─ Vanessa

─ Fernando

─ João ─ Cada um foi falando seus nomes até que por fim eu disse o meu.

─ Ótimo. Agora nos conhecemos. ─ ela fechou os olhos e magicamente o cenário a nossa volta se transformou em um cemitério. Senti vontade de perguntar como ela havia feito aquilo, mas permaneci quieta. Todos permaneceram espantados, mas ficaram em silêncio.

─ Antes que comecem a reclamar, não me interessa altura, peso ou o sexo de vocês. Irão lutar uns contra os outros independente disso. Quando estiverem em campo, como verdadeiros ceifeiros vocês não irão escolher seus inimigos.

─ Agora... Algum de vocês sabe algo sobre defesa pessoal? Aprenderam alguma coisa enquanto estavam vivos?

Entre os dez ceifeiros, apenas dois levantaram a mão bem receosos. Fernando e...eu.

A ceifeira de almasOnde histórias criam vida. Descubra agora