7 | Uma nova inspiração

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ELA O VIU ESCREVER NO CADERNO enquanto caminhavam para o trabalho.

Suho praticamente implorou para que Chaeyoung deixasse Kyungsoo ir com eles à galeria. Incrível como, com poucas palavras mas muita persistência, o amigo a fez aceitar as condições atuais.

Andar ao lado de Kyungsoo poderia ser pior, ela pensou. Não havia nada demais além do fato que ele anotava qualquer detalhe interessante que passasse em sua frente, até mesmo uma mãe carregando o filho num carrinho — Chaeyoung também admirava-se pela cena, mas pelas cores vibrantes do carrinho e a alegria que sentia somente ao olhá-los.

Gostaria de pintar. Há poucas noites a vontade de colocar tudo o que sentia nas telas aumentava; a sede por retratar tudo dentro de si a deixava com a garganta seca. Mas ainda não estava preparada. O que seria dela se voltasse ao profundo desespero de antes apenas ao cumprimentar as antigas amigas?

— Ontem eu estava fazendo uma pesquisa... — Suho tentou quebrar o gelo, atraindo a atenção dos amigos que andavam dispersos. — Vocês sabiam que as vacas têm nove meses de gestação?

Chaeyoung olhou séria para ele, só para rir de sua cara.

— Não, Suho, não sabia. Mas que informação interessante você tem aí.

— Eu estava ajudando o Heechul na tarefa de casa e vi isso no livro de ciências — deu de ombros. — Kyungsoo, ele disse que ainda quer o seu autógrafo. Sugiro que se apresse.

— Ah... — lembrou-se do ocorrido, da última vez que fora ao hospital. A esperança daquele garotinho nele era encorajante. — Pode deixar. Depois eu pego um papel e rabisco alguma coisa. Acredita que eu ainda não treinei minha assinatura?

— Esperem... Autógrafo? — Chaeyoung intrometeu-se, pois viu-se muito perdida naquela conversa. De onde viera a ideia de autógrafo? Quem estaria interessado em um cara que só escreve num bloco?

— É que Kyungsoo é um aspirante a escritor. Diz ele que um dia escreverá um incrível best-seller. Sucesso mundial, esse garoto.

O amigo olhou para Suho, o repreendendo por abrir a boca demais; odiava ser desmascarado, era como ter algo que pudesse ser motivo de chacota dos outros (ele já passara por isso e concluiu que as pessoas achavam a profissão de escritor algo sem sentido e sem resultado).

"Quando você vai crescer, Kyungsoo? Escritor? Isso é lá profissão que se preze?". Faziam pouco caso de seus sonhos, o transformavam em uma barata com as palavras só para depois o esmagarem com aquela maldita frase.

— Claro, claro — Chaeyoung concordou, olhando de relance para Kyungsoo, enquanto o vento jogava o cabelo ao lado de sua face. — Agora entendo o lance do caderno.

— É onde eu anoto as minhas melhores ideias — ele falou em um tom quase inaudível. Suho sorria internamente ao ouvir as poucas palavras trocadas entre os amigos. Isso!, pensava.

Andaram por mais algumas ruas; Chae continuando a fitar Kyungsoo de relance, procurando desvendar o mais novo mistério. Ele parecia tímido demais até para tê-la acusado. Aquele bloco era de verdade muito importante para o rapaz.

Subitamente, uma criança passou em frente a Chaeyoung, oferecendo-lhe uma flor. A mãe da pequenina estava ao seu lado, junto de uma cesta de flores, aparentemente para vendê-las.

Para a garotinha Chaeyoung dirigiu um sincero sorriso. Segurou a flor entre as delicadas mãos. Com o objetivo de ficar do mesmo tamanho da menininha (ou perto dele), agachou-se e deu à ela a maior parte da quantia que tinha em sua bolsa. Não havia muito de sentir falta, pois era melhor receber um sorriso de volta que ver-se sem ele.

— Chaeyoung, isso não é nada bom para as economias — Suho comentou. Como alguém econômico, ele visava gastar apenas o necessário, e a garotinha parecia ter recebido muito mais por uma simples flor. Sorriu também, apesar disto; o semblante da criança se iluminou no mesmo momento.

Enquanto a atenção foi desviada, Kyungsoo escreveu em seu caderno. Após o breve momento, fechou-o e voltou-se para os amigos. Eles despediram-se da garotinha e, Kyungsoo, ficando atrás deles, pagou por mais uma flor e colocou-a no bolso da jaqueta.

— Hoje eu marquei um encontro para você — Suho colocava alguns papéis na mesa de Kyungsoo quando soltou a mais boa nova. O amigo arregalou os olhos mais do que eles já se encontravam.

— Um encontro?! — perguntou, estático, não querendo acreditar nas palavras ridículas que saíram da boca dele. — Você entende que eu tenho zero experiência com mulheres, não entende?

— Claro que sim. Esse é o ponto. Como vai escrever um romance se nem você mesmo possui um? Não faz sentido para mim.

— Não é o que você decide, Suho — ele pegou um papel e assinou, colocando-o ao lado de uma outra pilha enorme deles. — Eu não vou, pode desmarcar.

— Vai sim! A Jinah é uma amiga de longa data e eu quase implorei para ela resolver se encontrar com "meu amigo solteiro porém charmoso" que descrevi. Além disso, ela remarcou uma reunião importantíssima com estrangeiros para isso — Suho balançou a cabeça.

— Como você faz uma coisa dessas sem me contar?

— Você não iria se eu dissesse.

— Óbvio que não! Por isso mesmo — bufou. Já tinha problemas demais para se preocupar, e, graças à Suho, precisaria submeter-se a minutos conversando, à sós, com uma pessoa que nem conhecia.

— Eu quase não te peço nada, Soo. Por favor, só dessa vez! Tente se ajudar — ele fez um coração com as mãos e abriu um sorriso brilhante.

— Certo — Kyungsoo respirou fundo. Coçou a nuca, encabulado, muito encabulado; teria que desistir da maratona de contos de Edgar Allan Poe naquela noite! Boa, Suho. — Mas não tem como você ir, não? Pelo menos para me ajudar. Eu sou terrível quando o assunto é socialização. Semana passada, quando me perguntaram o que era "crush" e eu não soube responder, riram da minha cara.

— Você é uma decepção, amigo — tsc, tsc, meneou a cabeça em negação. — Mas não há problema que não possa ser consertado. Hoje, caro amigo, daremos uma remodelada em Do Kyungsoo, ou eu não me chamo Suho!

— Você não se chama Suho. Seu nome é Kim Junm...

— Ou meu nome de negócios não é Suho! — remodelou a frase. — Agora vamos àquela parte onde cortam a cena e passa para o encontro!

Suho levantou o braço e olhou para o nada, como se estivesse em um filme. Depois de exatos trinta segundos, ele olhou ao redor e decidiu voltar a posição normal.

— Então... vamos aos comerciais? 

Chasing Cars | KyungsooOnde histórias criam vida. Descubra agora