E depois que voltar?

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Agora você diz que eu pareço louca, mas é você quem precisa de ajuda.

Eu tentei fazer você enxergar tudo, todos os feitos bons e principalmente os ruins. Você era irresponsável, sabe, sem saber que somos sim responsáveis por nossos relacionamentos, e pelas mágoas e alegrias que causamos a esse alguém. E você sempre me trouxe mais rancores que segurança. Nunca me senti segura com você. Você ia e depois voltava. Conhecia outros portos, outras manias, e depois voltava. Eu aceitava, sim, mas até aí eu não tinha qualquer contato com o amor próprio. Estava confusa, cheia de questões mal resolvidas, carregando fantasmas de relacionamentos passados. Você se aproveitou da minha fraqueza. Sabia que eu estava vulnerável e abusava dessa minha fragilidade. Eu não quis enxergar logo de cara, mas você me rebaixava a uma garotinha incapaz de seguir com a minha vida sozinha. E eu me lembro de ter sido chamada assim, ainda que indiretamente. Você não consegue nem mesmo decidir a profissão que quer seguir, você dizia. Como você lidaria com tudo isso sem mim?, você perguntava aos risos, porque para você tudo não passava de brincadeira. Agora você entende que eu posso muito bem lidar com tudo isso sozinha. Eu dei adeus. Carreguei na minha mala a certeza de que não voltaria nunca mais. Eu levei você a sério por muito tempo, mas agora percebo que você sempre foi a piada. Talvez um dia você aprenda, mas já não é mais da minha conta ensinar. Agora você sabe que não sou a garotinha incapaz, e é por isso que está tão assustado, inconformado com a minha força, com essa minha liberdade. Isso assusta, não é? Saber que eu não estou mais aí. Saber que eu estou seguindo de peito cheio e que eu nem mesmo consigo sentir saudades do que fomos.

Isso dói.
Eu sei.
Também doía em mim.

ame-se,

Longas Cartas Para Ninguém Onde histórias criam vida. Descubra agora