2.1 - Briefing

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"Bem-vinda ao Espaço Porto de Onix"

A mensagem apareceu quando ela se aproximou do edifício a sua frente, pessoas se aglomeravam correndo por grandes portões de acesso, ela já sabia por onde andar, vivera muito tempo na correria daquele edifício e estava familiarizada com todos os acessos mais rápidos. Daniele iria para o setor militar do espaço porto, o embarque se daria em algumas horas. Esgueirou-se por entre um grupo de garotos que iriam para uma excursão a um parque de diversões famoso em um satélite em órbita do planeta, só os garotos filhos de famílias ricas tinham condições de se divertir em parques espaciais, era uma novidade que as empresas de turismo tinham inventado para sugar o dinheiro da aristocracia. Os mais pobres divertiam-se em simulações de jogos medievais na neuronet.

Um ônibus aguardava completar a lotação, sobre ele planava escrito "Por favor embarque para o terminal militar", só quem deveria entrar poderia enxergar a mensagem.

– Bom dia, identifique-se por favor – Falou o militar que segurava uma tela de toque transparente.

– Capitã Daniele Hunter – Ela sabia que aquilo era uma mera formalidade, o militar poderia identifica-la sem que ela se apresentasse. Assim que falou sua foto apareceu na tela que antes era totalmente transparente com uma ficha contendo suas informações de identificação e viagem.

– Seja bem-vinda Capitã – o Soldado em sentido, prestou continência e Daniele retribuiu – Por favor fique à vontade e tome assento, partiremos em minutos.

A função daquele soldado era impedir o acesso de estranhos ao veículo que entraria numa área sensível do terminal, não queria ter de lidar com terroristas num local cheio de coisas que podem explodir. Os demais terminais do espaço porto em sua maioria eram automatizados, os passageiros e tripulantes quase não tinham contato com atendentes humanos.

Aos poucos o ônibus era completado com todo tipo de pessoas, militares e civis, alguns bem arrumados, outros com aparência surrada, vinham sozinhos, alguns em família com crianças, e pessoas emocionadas com despedidas. Um grupo chegou algemado escoltados por um oficial de justiça – esses são presente de Urso Branco, só 5 dessa vez – falou o oficial. Daniele conhecia a referência, Urso Branco era o presídio para onde eram mantidos os delinquentes de menor periculosidade, a maioria jovens pobres da periferia que cometiam pequenos delitos, assaltantes de rua.

Quando o primeiro ônibus lotou o soldado deu comando para ele partir no trajeto até o saguão de embarque do terminal militar, era uma construção afastada dos terminais civis do espaço porto, um pouco mais desgastada pelo tempo. Foi o primeiro espaço porto a ser construído na história, recebeu o anexo civil anos depois para acolher lançamentos comerciais.

Cada ônibus que parava desembarcava cerca de 50 pessoas, até formar uma turma de cerca de 1200 passageiros e tripulantes. Daniele se acomodou numa poltrona ao fundo do auditório, ali escondida ficaria mais à vontade. Do outro lado do auditório na mesma fila uma garota chamou sua atenção, uma atraente loira magra e alta, era Cameron. Daniele desviou o olhar, sabia que sua ex namorada estaria na Akimura, afinal Cameron a convenceu a se alistar também, meses depois estavam separadas e ali estavam as duas. Teriam de conviver com a separação, condenada a 9 anos na mesma espaçonave.

– Sejam bem-vindos passageiros e tripulantes para o Sistema Nexus. Eu sou Almirante Mendonça responsável por recebe-los e coordenar o projeto daqui de Raven. Infelizmente minha idade avançada não permite acompanha-los nessa jornada, mas acreditem, meu sonho sempre foi estar lá, por isso investi os últimos 80 anos da minha vida para que esse dia chegasse.

– Essa é a terceira missão para o desconhecido e os senhores junto com os heróis que já se aventuraram neste ambicioso projeto da humanidade entrarão para a história. Em breve vocês poderão se estabelecer nos seus aposentos onde passarão os próximos 9 anos rumo a uma nova e emocionante vida. A Aliança se orgulha de cada um dos quase 200 tripulantes voluntários e 1000 passageiros que aqui se encontram. Juntos expandiremos nossas fronteiras para um Sistema Estelar totalmente novo, ao planeta Braven.

– Nos últimos 50 anos temos trabalhado no planeta e na viagem interestelar entre os dois sistemas, a evolução não anda a passos largos como em Onix, mas os senhores ficariam surpresos em saber que já temos internet em Braven! – Risadas se seguiram na plateia – Sei que alguns ficaram tristes com essa notícia. – Ele esboçou um  sorriso curto – Irei passar a palavra para o comandante que seguirá com vocês ruma a Nexus, muito obrigado. E lembrem-se, vocês irão mais distante do que qualquer homem já foi. Obrigado. – Uma salva de palmas ecoou pelo auditório.

Em seguida um homem aparentando ter seus 50 anos subiu ao palanque, devia ter quase 2 metros de altura, negro dos cabelos negros, além do óbvio nome no uniforme, apresentava claros traços de sua descendência oriental, tinha sobrancelhas grossas e imponentes, usava um cavanhaque bem aparado.

– Bom dia Senhores, sou o Capitão Shitiro Umada. Sou o comandante da Espaçonave Mineradora Akimura III, a maior e mais brilhante nave interestelar já construída. – O Capitão sorriu orgulhoso e escutou os aplausos da parte da plateia que permanecia empolgada. – Será um prazer ser seu comandante nos próximos 9 anos de viagem e nos anos de trabalho que se seguirem para os que permanecerem na tripulação.

– Durante esses anos os senhores serão treinados nos diversos sistemas da nave e nas funções que exercerão no sistema Nexus. As eventuais dúvidas poderão ser sanadas durante a viagem, passaremos um bom tempo juntos. A seguir os senhores serão acomodados em seus alojamentos, partiremos ao meio dia. Sigam ao portão de embarque. A todos nós desejo boa sorte, e boa viagem, aos religiosos, que Deus nos abençoe. Obrigado por fazer parte da tripulação.

Capitão Shitiro aguardou sorridente as palmas e retirou-se do palanque tão rápido quanto seu discurso e entrou em um dos banheiros próximos que se encontrava vazio.

– Capitão os carregamentos estão prontos. – Falou um sargento franzino, que corria com um painel transparente em uma das mãos.

– O que você tem aí garoto? – Falou ao tomar o tablet transparente de baixo do braço do sargento. – Mais que diabos, não é para guardar nenhum registro.

– Só estava anotando para não esquecer nada da sua ordem Capitão. – O garoto estava nervoso.

– Garoto me diga que você não inspecionou esses containers.

– Desculpe Capitão, eu precisava ter certeza que a carga estava segura.

Capitão Shitiro balançou a cabeça em desapontamento. Olhou para o piso e fechou os olhos.

– Desculpe garoto, eu não queria ter de fazer isso. – Uma lágrima escorreu dos olhos fechados do comandante. – "Esqueça".

O garoto gritou por 2 segundos com as mãos na cabeça, com um olhar vago e distante se calou e voltou a encarar o seu comandante.

– Volte para casa, você deve estar confuso, tire o resto da semana de folga.

Órfãos de Olimpus [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora